31.1.05

Noites Caídas 2

Tive algumas dúvidas sobre se deveria considerar este post o segundo RM (registo magnético) da rubrica Noites Caídas, já que não vou falar de nenhum bar ou discoteca em particular, mas antes de uma esquina. Decidi que sim. Por isso ficam já a saber que as esquinas em breve deverão estar sujeitas a atribuição de alvarás e porteiro.

A esquina de que vos falo é já muito corriqueira, uma das mais frequentadas do Bairro Alto. Onde é o Clube da Esquina, precisamente. Não vou falar sobre o bar, a não ser duas considerações que me parecem importantes: Vende barato e tem um porteiro educado, que até reserva copos de plástico no bolso se quisermos ir para a rua. Eu vou quase sempre para a rua.

Na sexta-feira passada estive com alguns amigos "a segurar" uma das paredes da esquina. Não despegámos de lá até ficarmos com marca nos casacos. Mesmo à custa do bem estar da M. que detesta o BA "Este síto é horrível e degradante!" e sob as lembranças do Asdrúbal que ali cresceu, acabámos por ficar à esquina da noite e de um certo Portugal até que nos apetecesse. E apeteceu muito.

A F. virou-se para o negócio das sondagens e perguntava a toda a gente em quem ia votar (!), o C. esteve quase uma hora a falar com um casal de lésbicas sem saber (?!), eu e duas amigas apanhámos a lésbica a jeito (salvo seja) e desatámos a apurar toda a verdade (dúvidas, questões, filosofias, explicações hormonais, quando descobriste, como é que a família aceitou... etc), foi lindo. Confesso que esclareci umas coisas. Uma delas é que adoro homens.

Tudo à esquina. E vai mais um copo de plástico para o parapeito.

A determinada altura, foi-nos feita uma revelação: 50% da população flutuante do BA é gay. Mau. Isso é que não. A Lolita não achou piada nenhuma. "Uma coisa é a gente já saber disso há um tempo, outra é ser uma fonte credível a confirmar" (o que ela queria dizer era: uma coisa são as mulheres gay, outra são os homens, que estes fazem falta!).

Pois é. À partida a sondagem indicava maioria de votos para o BE, mas o melhor da esquina é que havia gente para tudo. Paulo Portas estava em grande, Santana Lopes em baixo mas resistente e Sócrates não estava nada mal (mas se ali tivesse passado teria ouvido muitos conselhos grátis para a sua carreira). A F. contou também um voto para a CDU. Homenageou-se ainda a perseverança de Garcia Pereira e lembrámos o mítico e bizarro POUS. Houve ainda uma sublevação monárquica muito pouco a propósito.

Tudo à esquina. Empresta-me aí dinheiro para um vodka tónico. Olha traz-me um gin também. (Passados uns minutos). Olha lá, isto é o gin ou é o vodka? Não sei. Deixa ver. (Trocaram os copos). Olha lá, isto sabe tudo ao mesmo. Estranho. Acabaram os dois no parapeito (vazios).

Na esquina conheci ainda um italiano milanês que me falou maravilhas de Lisboa. Milão é feio, é frio e não tem piada nenhuma. Disse ele. Lisboa é como Roma, é o máximo. Disse ele. Eu que não conheço nada de Itália aceitei o elogio e achei que Milão podia ser feio, mas ele era bem giro. Sorte a do BA, que tem uma esquina com gente assim, que lhe sustenta as paredes e lima as arestas dos vértices. Sorte a nossa, que temos onde nos encostar nestas noites de seca que tão mal faz às hortas, mas que tão bem deixa as noites cairem sobre nós.

Pensamentos in vitro 3

(numa esquina do Bairro Alto)

- Vais votar em quem?

- Sei lá! Mas também não me preocupo muito com isso!

- Não?! Mas estas eleições são demasiado importantes para não te preocupares!

- Eu vou votar, mas a Primavera-Verão está muito minimalista e monocromática. Quando forem as eleições para o Outono-Inverno logo penso no assunto. Os novos governos são como as colecções, só duram seis meses.

(os convivas brindam e engolem um bom trago de gin tónico)

29.1.05

Pensamentos in vitro 2

O que será pior para uma mulher? Que a amem apenas pela sua aparência...

...ou apenas pela sua inteligência?

Vou ser sincera. Acho que a segunda hipótese é mais lixada.

Pensamentos cruéis 1

Toda a vida são muitas vidas.

- Amo-te.

- Eu também te amo. Muito.

- Quero ficar contigo o resto da minha vida.

- Eu também meu amor. O que é que queres fazer hoje?

- Estamos juntos o resto da vida.

- E amanhã?

- Começamos outra vida.

- Juntos?

- Se não a matarmos.

Pensamentos in vitro 1

A importância da necessidade no amor.

Quando a necessidade e a obsessão pela ajuda se juntam, materializadas em dois seres, cria-se uma estranha solidariedade que jamais, ou dificilmente, é quebrada. Não é amor, mas dá jeito. Também lhe chamo consolo. Há quem a apelide de "um casamento feliz". Não gostava de ser feliz (assim).

27.1.05

Humores de perdição

Dei-me conta ontem de uma polémica, que já deve ir a meio ou a caminhar para o fim, entre o Ricardo Araújo Pereira do Gato Fedorento e O Acidental. Sinceramente achei que não tinha nada a ver comigo e não quero ter um blog para sustentar o umbigo dos outros, já bem basta o meu. Mas fiquei a pensar no assunto. Na opinião de Paulo Pinto Mascarenhas d'O Acidental, o ilustre membro do clã dos Meireles e dos Fonsecas não deveria estar presente em jantares do Bloco de Esquerda. Como humorista que é, o RAP não deve ter "aspirações políticas". Se ainda são mais distraídos que eu e não deram por nada deste falatório, sim porque eles falam, falam, falam (!), vão ver o que respondeu o Gato atingido, porque ele falou e disse tudo. Eu vou também permitir-me dizer qualquer coisinha, caso contrário este post não dizia nada... ah pois é.

Os humoristas da nova geração não são malucos do riso. Não falam de fulano de tal por falar. Nem dizem não sei o quê, só para o povo rir. Já que herdaram uma democracia e uma liberdade que lhes estão os mais velhos sempre a atirar à cara, usam e abusam dela como e quando querem. Eles escancaram as portas da nossa portuguesice e fazem-nos rir de nós próprios. Há lá coisa mais bela? É por isso que eles também se sentam à mesa do partido que bem entendem. Não por serem humoristas, mas por serem cidadãos descomprometidos. No humor a única defesa que a ética lhes merece é a da liberdade de escolherem o alvo das suas criações. A maior liberdade a que se permitem é a de nos darem a conhecer as suas preferências políticas. Não enganam ninguém. Bem hajam.

Nota de rodapé, porque eu também não quero enganar ninguém: O blog Gato Fedorento foi dos primeiros com quem me "sentei à mesa". Sou fã. Só não estão ali na listinha ao lado porque ao blog têm os quatro miaus ligado muito pouco. Gosto de vê-los na TV. Muito. Mas estou à espera que regressem empenhados ao meio privilegiado para quem essencialmente os gosta de ler, como eu.

Toda a verdade sobre o filme "Closer"

Parece que o meu post sobre o Closer aí abaixo causou alguma consternação entre os meus amigos. Recebi já alguns telefonemas à conta dessa minha má digestão cinematográfica. Eu até fico admirada, porque eles já me conhecem o suficiente para perceberem que eu adorei o filme. Ouviram? A resposta à vossa pergunta "Mas afinal gostaste ou não gostaste do filme?" é SIM! Gostei. Sim, podem e devem ir ver. Eu sei que vocês precisam da minha aprovação. Que Deus vos acompanhe. Bem precisam.

26.1.05

Lisboa é uma gaja boa...

... e vaidosa.

Cheia de curvas. Cheia de miradouros para se mirar, num jogo de espelhos narcisista.

O Tejo é um gajo vadio, com muita lábia e temperamental. Tão depressa parece um lago ou um rio muito certinho como o Sena ou o Tamisa, como logo se irrita e agita os pobres 'cacilheiros' que cobiçam a Cidade que protege.

Lisboa é também generosa, dá conversa a todos; Cristãos novos, mouros, celtas, viriatos, portucalenses...

Lisboa é uma bela actriz favorecida pela luz, que lhe disfarça as rugas. Não tem glamour nem griffe, mas tem muito mimo, feito beicinho, e uma falsa modéstia velhaca que lhe dá um certo charme.

Lisboa é mesmo uma gaja boa.

24.1.05

Cru demais

Ainda estou a digerir este filme. Até arrisco uma paragem de digestão. As gomas que comi também não devem ter ajudado, mas adoçaram a crueza do argumento. Os diálogos são bons demais para serem mentira, e as ideias quando saí da sala estavam tão confusas que ainda agora me saem como garfadas enfiadas à pressa, em pé, frente a um balcão.

Se isto servir de tempero a quem dominar a arte da cozinha, deixo aqui os ingredientes que consegui até agora identificar e que vou tentar descrever:

Dos orgulhosos não reza a história do amor e dos grandes amores.

Quem ama verdadeiramente só deixa de amar quando o outro desilude, não quando o outro trai. Nem sempre a traição desilude. Só entristece.

A nossa identidade é uma arma perigosa. Seja ela velada, descoberta, encoberta, disfarçada. Depende como se usa, e se é usada, há quem nem se aperceba dela.

Nem sempre ficam os amantes com quem se ama, mas com quem se está confortável, e isso se calhar também é amor. Ou não.

Mostra-me como és e eu amar-te-ei. Mostra-me como és e eu te deixarei. Amar é um risco.

Um grande amor vive-se sempre entre quatro paredes, mas sente-se cá fora - no olhar dos amantes.

Um nome vale tanto como uma fotografia. Ambos captam a essência do momento. Devíamos poder mudar de nome sempre que quisessemos.

A verdade é inimiga do amor.

Dos orgulhosos não reza a história do amor e dos grandes amores.

Degustei estes sabores até ao momento. Percebem agora como está o meu estômago? Vão ver.

Sou capaz de ir

O Alex está a organizar um jantar em Coimbra, dia 26 de Fevereiro. Depois das eleições... É capaz da cidade e dos blogues ainda estarem de pé. Sou capaz de ir.

PS - Lá no sítio do Alex as informações sobre esta festa à beira Mondego estão no post nº 40.

O frio

Dizem que vem aí um frio de rachar. Uma coisa fora do comum. Nas televisões não param de falar nisso. Já olhei de soslaio para as minhas camisolas interiores por estrear... Hummm... Não sei se é desta que as vou usar. Desde os 10 anos que não uso tal coisa, e até então era a minha mãe que me obrigava (mas muitas vezes tirava-as quando chegava à escola). A mesma aversão tenho-a às camisolas de lã. Não tenho sequer uma no meu roupeiro, as que tinha dei e ofereci à minha irmã que vive nos meus antípodas. Quem me conhece diz que se arrepia quando me vê no Inverno... Mas eu continuo a achar que o frio de Portugal não é frio, é um arrefecimento. Vamos ver o que vem aí. Depois falamos. Até lá agasalhem-se e não respirem os vírus que para aí andam também. Façam exercícios de respiração - aprendam a aguentar-se sem respirar durante uns minutos sempre que entrem em ambientes congestinados. Eu conheço quem o faça e aguente roxo o tempo de viagem entre duas estações de metro. Cada um tem o seu clima mental.

A defesa da vida (tal e qual como ela é)

Numa altura em que se fala tanto na defesa da vida, e muitos em redor dela se amotinam como mercadores de nacos de carne, achei que podia aqui falar de uma vida de 49 anos que ontem conheci. Quarenta e nove anos, não quarenta e nove dias, nem quarenta e nove semanas. Assim por extenso talvez pareça mais importante, embora não deva dar direito a referendo.

A vida em causa é feminina, está numa clínica e pouco mais dela sei que isto - foram-lhe retirados os ovários e o útero, devido a um gigantesco mioma; A médica disse-lhe que "parecia uma meloa". A paciente em causa é uma simpatia e parece aliviada agora que lhe saiu este peso de dentro. De mim é que não sai da cabeça a sua resposta quando lhe perguntei se o ginecologista nunca a tinha mandado fazer uma ecografia: "Eu nunca tinha ido a um ginecologista". Se não fosse um gastroenterologista, que desconfiou do inchaço demasiado evidente, esta mulher teria criado uma melancia. Isto não é para rir. Eu chorei.

A senhora está fora de perigo, e o caso dela, segundo me informaram, acontece geralmente sem razão aparente, mesmo àquelas que vão regularmente à consulta de ginecologia. Mas eu sei que o IPO está cheio de mulheres que por nunca terem feito uma citologia - um exame mais simples que análises ao sangue, que lhes diagnosticaria problemas simples de simples resolução - acabam por ter uma morte dolorosa, silenciosa e envergonhada.

É costume as vizinhas e os familiares dizerem que morreu com "um mal da barriga", e que a culpa deve ser do marido que andava com outras e que ela coitadinha sofria em segredo, ou então "sabe ela tinha vergonha, agora é que se fala mais nessas coisas, mas nós não fomos acostumadas nisso"... Muito triste. Muito revoltante.

Em defesa da vida:

Gostava que ouvir os políticos dizer que vão criar programas de sensibilização para o rastreio ginecológico;

Gostava de ouvir aquelas associações criadas à pressão para defender a vida pré-referendo alertar as mulheres para cuidarem do seu corpo e aprenderem a respeitar a sua própria vida (o resto virá por si);

Gostava que a igreja católica nas homilias, nos ridículos cursos de preparação para o matrimónio, na catequese, nos escuteiros, nos retiros de jovens, e demais eventos e movimentos de leigos, se preocupasse em alertar as mulheres para a importância da saúde dos seus órgãos de reprodução em vez de continuar a insistir noutros conselhos podres e inúteis, tais como o uso de métodos naturais de anti-concepção, a proibição do preservativo e demais dicas pró-vida... De que vida estarão eles a falar?

É que não me sai da cabeça a confissão daquela mulher de 49 anos.

Meu Deus, que povo este que ainda atravessa o deserto, sem ninguém que lhe dê água. Só "profetas da vida" e areia para os olhos.

22.1.05

... e levaram o meu cérebro com eles!

O Mordomo e o Help Desk deixaram-me desprovida de neurónios. Então e agora não me aparece a imagem? O gato era para me consolar, mas só me está a enlouquecer!... A imagem das coisas estraga a sua essência. Definitivamente. Help me! Anybody... Johnny, Robbie... Toix... Anybody!

O Help Desk foi de férias com o mordomo

Por isso: Ajudem-me! A barra aqui do lado, com os links e os arquivos e outros apêndices fugiu lá para baixo! Alguém me explica como é que se puxa cá para cima? Obrigada.

Tendo em conta a conjuntura psicológica...

... achei que merecia um ron-ron... Ainda por cima a loira dos milagres acertou em cheio com o bichano dela. Esta é também uma forma de dar miminhos à minha mana que está a precisar, e que quando eu era ainda mais bebé mimada do que sou agora me dizia: Bichinho miau...

Maine Coon You are a Maine Coon! You are larger than life, a gentle giant. You are independent, but very affectionate with your friends and family.

What breed of cat are you?

20.1.05

Às vezes

... vagueio na net a ver casas em Madrid, a procurar empregos em Nova Iorque, a consultar roteiros turísticos em Itália. Por aí. Como se fosse possível fazer a mala hoje e embarcar amanhã. Nem um telefonema, nem um bilhete... Nada. Apenas deixava em segredo o meu destino a meia dúzia de pessoas. Não é possível, mas a simples possibilidade de o fazer liberta-me de tudo o resto que me prende. Lisboa, Portugal, o Tejo, tudo aqui está cada dia mais aborrecido. Preciso de inventar, ou que me inventem, uma nova vida, para eu conseguir viver esta que tenho. Salvam-me os que me amam e me emprestam a deles, todos os dias, um bocadinho. A minha vida está sempre além do presente, renunciando hipocritamente o passado, antecipando sofregamente o futuro. É ou não é uma grande chatice? Às vezes também estou bem e ando a tempo dos outros todos. Menos mal.

Queria uma fotografia de ti assim

Queria uma fotografia de ti assim

olhos grandes, à medida da alma

nem importava que fossem pequenos

o alfaite talhava-os à medida das tuas mãos

escorregadias, fortes

e fracas

porque às vezes também assim tem de ser.

Queria uma fotografia de ti assim

boca carnuda

bife tártaro suculento

temperado pela minha língua

nem importava que fosse fininha

desde que servisse para comer.

Queria uma fotografia de ti assim

os ombros nus

as costas nuas

entravam contra mim

quentes

nem importava que estivessem frios

o calor nasce a sós.

Queria uma fotografia de ti assim

tu rias com os olhos

troçavas de mim com o corpo

e eu aprendia contigo

assim.

Numa fotografia ao pé de ti.

Na América...

Estou neste momento a ver o programa da Ophra na Sic cor-de-rosa e nem quero acreditar que o Bill Clinton também lá foi ao "beija mão"... Não sei se ria, se chore, se desligue ou se vá buscar a caçadeira (como dizia o Mário Castrim).

Ah... Já percebi. O Clinton está em campanha de lançamento de um livro autobiográfico - intitula-se "A Minha Vida".

O programa está a decorrer de uma forma surreal, não vi do início, se calhar não chego ao fim, mas do que estou a apanhar ainda só ouvi falar da Mónica Lewisnky... e de como a Hillary o pôs a dormir no sofá durante dois meses.

A Ophra teve agora uma tirada digna do seu estatuto - "Desculpe lá, mas quer que acreditemos que não havia mais nenhum quarto onde dormir (estão a ver a Casa Branca?)". Claro que tinha, mas o ex-presidente dos EUA gostava do sofá da sala (está tudo explicado no livro).

(...)

Agora, Clinton está a contar que recorreu a aconselhamento conjugal. Uma tirada brilhante sobre o amor, o perdão...

(...)

Este tipo é mesmo um bom político, e a Ophra é mesmo uma grande apresentadora e comunicadora. Senão, como é que ainda os estou a ver, se ninguém me amarrou ao sofá?

E chegou ao fim.

Moral da história: Clinton não se importava de ser o "primeiro marido" da América. A senadora Hillary nem lhe vai agradecer, porque não há perdões grátis.

A minha moral da história: Ao menos os nossos políticos podem ter as Mónicas que quiserem. Sorte a deles e nossa, neste caso, que vivemos em Portugal. Alguém imagina a Teresa Guilherme ou a Fátima Lopes (ou a Catarina Furtado ou a Bárbara Guimarães, dependendo do género e do horário) a entrevistar um candidato da nossa praça acerca de um desvio na sua vida privada? Era caso para usar a caçadeira.

18.1.05

Noites Caídas 1 - A rubrica que se impunha

Quando trabalhei na rádio, há muitos anos atrás, havia lá um programa que fez história (pelo menos a malta gostava de pensar isso), chamava-se "Má Vida". A ideia da rubrica já nem sei muito bem de quem partiu, mas deve ter sido gerada num bar.

De qualquer maneira, a "Má Vida", para onde cheguei a contribuir e que acabou por ser adoptada por todos, estará para sempre ligada a três nomes que aqui divulgo por serem e terem sido públicos via antena - Ana Maria Ramos, Pedro Malaquias e Silvana Marques. Perdoem-me se esqueci algum invicto da emissora, mas quando lá aterrei foram estes nomes que associei a tudo o que aprendi naquela redacção. E ainda associo. Ah pois é!

Nos idos 90, o "Má Vida" era mesmo inovador e dedicava-se a peregrinar pelas capelas nocturnas, testando o serviço de apoio espiritual às almas; O que se ouvia, o que se bebia, quem se via, como se sentia, se o porteiro era uma besta ou um porreiro, etc. Além disso, o programa ainda cumpria a função de roteiro cultural, destilando acontecimentos nocturnos, como concertos e espectáculos com elevado grau de importância para o conforto dos ouvintes.

Passados uns anos, roteiros nocturnos são mato, mas nunca mais houve má vida como a da 92.4 FM... Ah pois não!

Para quem me "escuta", não pense que vai aqui encontrar uma rubrica diária... Já não tenho o tempo e a energia dos companheiros da antena a meu lado... Mas má vida é quando uma mulher puder.

"Noites Caídas" não me parece grande coisa como nome, mas o que é certo é que a noite vai caindo, todos os dias. Vou ver se apanho alguma coisa e não fico pendurada na insónia.

RM 1

Vertigo (fica ali ao pé do Largo do Carmo, ao lado da loja do Tenente)

Ficam desde já a saber que a especialista neste bar mora aqui. Quaisquer reclamações é favor postar lá. A primeira impressão que recolhi, ainda na ida para este café-bar, foi a imagem de todos os finais de epísódio da série americana da Ally McBeal. É bom ter um sítio onde ir quando fechamos a jornada, ou simplesmente a interrompemos, para desabafarmos as mágoas e falarmos dos nossos projectos e, muito importante, falarmos mal do sistema e dos chefes (até os chefes têm um, o que não deixa ninguém de fora!).

O Vertigo (o nome não tem nada a ver com o filme do Hitchcok, escusam já de fazer a mesma pergunta que eu fiz a um dos simpatiquíssimos empregados, que me garantiu que o filme não era para ali chamado) é o típico café traçado de bar, ou vice-versa, que serve o pequeno almoço e todas as refeições que se seguem, e está aberto até à meia-noite. É o ideal para tomar um copo antes de ir para casa, ou iniciar uma noitada já com algum aconchego no estômago. A comida (entre saladas, tostas enfeitadas no prato, sopas elaboradas) pede-se ao balcão, e depois servem-na à mesa. Os empregados são giros e compõem o ambiente... A decoração é gira e faz-me lembrar a minha avó (embora isto não interesse para o caso). O bolo de chocolate é divino - derrete-se na boca e na alma... menos na balança. A fã de serviço costuma deliciar-se com um bolo esquisito típico da Turquia, embebido em água de rosas... Eu dispenso. De resto, vale bem a pena tagarelar no Vertigo. (Também tem o seu quê de romântico, mas isso sou eu que vejo amor em toda a parte).

PS - A noite já ia confusa e um pouco turva, mas fiquei com a impressão que o dono é jugoslavo e a cozinheira brasileira. Mas isto é capaz de ser confusão minha, e também ao caso vem a dizer muito pouco.

Pronto. Isto hoje foi só a emissão zero, espécie de sessão experimental. Volto à antena numa destas noites que por aí caem...

Caseiros

Os portugueses são caseiros. Adoram a casa, adoram comprar casa, adoram ir para casa, adoram a ideia de ter uma casa, adoram esquecer-se que são os bancos, na generalidade das vezes, quem verdadeiramente detém o poder sobre a mesma, adoram a ideia de deixar a casa aos filhos. Adoram a casa. Quando digo "adoram", refiro-me mesmo a uma adoração mista, entre o pagão e o religioso, na vertente sacrifício e mortificação corporal.

Ninguém de fora conseguirá imaginar as discussões que tenho tido com os meus amigos por causa da ideologia proprietária em que todos teimam sobreviver.

Eu explico. Nenhum deles é rico, daqueles que compram casas a pronto, tal como a maioria dos portugueses não é rica. Então eu pergunto-lhes porquê? Para quê estar sujeito a contribuições, impostos, condomínios, bancos, e todas as chatices que advêm da posse, quando se pode arrendar uma casa, pelo mesmo ou por menos, no centro da cidade (para quem como eu considera isso importante), sem avalições bancárias e sisas, sem as eventuais prisões que significam as escrituras e a condição de proprietário; Sujeitos a que as contrariedades da vida imponham a venda do imóvel num determinado tempo, sem que esse tempo chegue ou que, ao chegar, não valha afinal o que se pensou que viesse a valorizar.

Eles respondem-me com o inevitável "Uma casa arrendada não é minha". "É enquanto se paga e enquanto se quer", respondo eu. "A vossa é dos bancos até vocês a acabarem de pagar já na reforma". Nah. Não pega. Eles continuam, "mas será dos nossos filhos". "E sabem lá se os vossos filhos a querem? Eles querem é que vocês os ajudem enquanto são vivos. A casa deles, eles que a paguem.", atiço eu que tenho um certo prazer em atormentá-los, confesso. "Isso é uma visão egoísta", e com esta pensam calar-me. "É uma visão realista", remato.

A última palavra está longe de estar atribuída, porque esta é uma discussão inacabada. Eu própria estou longe de poder dizer que nunca mais comprarei uma casa, mas já experienciei as duas situações, e cheguei à conclusão que a do arrendamento é muito mais atractiva. Neste momento sou proprietária à força.

A minha geração (nascidos nos 70) está a milhas de contas poupança da dos nossos pais e avós, mas ainda fomos embalados por palavras como 'herança' e 'partilhas', que fazem parte do ideário das nossas famílias. Somos filhos de pais certinhos, que faziam flores com o dinheiro, do ordenado tiravam outros ordenados, num autêntico milagre da multiplicação. Eles compravam coisas com os juros das contas a prazo! Nós andamos a vida inteira a pagar juros, e serão esses, os juros, que os nossos filhos vão herdar...

Os nossos pais habituaram-nos mal. Muito mal. Não nos avisaram que os nossos empregos não iam ser seguros como os deles. Não nos disseram que a vida ia ser tão oferecida, tão cheia de seduções vadias, fatalíssima. Não nos prepararam para o advento das contas ordenado, dos cartões de crédito, dos créditos especiais de corrida à falência e bancarrota. Eles não sabiam. Não sonhavam este pesadelo para os filhos. No entanto, neste sonambulismo consumista em que andamos, ainda são eles que nos carregam ao colo.

Os nossos pais não sabiam, mas nós já sabemos disto tudo, não devíamos preparar as gerações futuras para investirem noutro tipo de bens menos imóveis e mais enriquecedores? Menos posses e mais experiências?

Enquanto os nossos pais fizeram sacrifícios para não dever nada ao banco, e jamais lhes pedir o que quer que fosse, os felizes proprietários trintões andam a bater com a cabeça no fundo dos ordenados para satisfazer essas instituições que os conhecem melhor que eles a si próprios.

Férias, saúde, formação extra-curricular dos filhos e dos próprios, liberdade de acção, são tudo bens e prazeres que pesam no outro lado da balança e que muitas vezes saem a perder... em troca de um lugar no condomínio e um casamento castrador com o banco. Valerá a pena?

17.1.05

Votar para quê?

Se outra razão não houver, e antes que alguém o faça por nós, sempre temos de escolher os menos sacanas para nos governarem.

PS (post scriptum, ok?) - Houve aí um tempo esquisito (que durou pouco tempo, é certo) em que me armei em "vencida da vida" e já não queria mais votar; E era um direito meu, como o é deste confrade. Acredito que votar, mais do que um dever, é um direito. O que significa que não querer votar também é um direito conquistado, ou a outra face do mesmo se quisermos. Optar, decidir, escolher... São tudo sinónimos de liberdade.

14.1.05

Imparcialidade ou o síndrome de Pilatos?

Nunca fui e jamais quererei ser imparcial. Escolho sempre uma parte em qualquer litígio. Parece-me sempre a atitude imparcial uma cobardia inconsciente, uma abstenção propositada que em nada conduz à resolução dos conflitos, nem ao bem estar dos envolvidos.

Na vida as opções fazem-se e as causas tomam-se a peito.

Não quer isto dizer que, ao optar pela defesa de um dos lados da questão, aniquile os sentimentos de amizade ou simpatia que nutra pelo outro lado, que não colhe o meu apoio.

Na vida, não há maior fuga que ser consensual à força e abandonar uma discussão a meio.

Chamam a isto mau feitio. Eu acho que é feitio a mais.

Transmontanos são fogo

Quis o destino que eu hoje estivesse, durante um bom trio de horas, rodeada de transmontanos. Apesar da monumental seca, inerente a actos mais ou menos solenes, a que por atalhos profissionais fui conduzida, acabou por ser divertido. E porque não? Já que não posso estar numa festa em Nova Iorque, porque não aproveitar uma festa transmontana em Lisboa? Deus dá eu aceito.

Falo de uma comemoração da casa de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Devo dizer que a direcção da prestigiada associação devia apostar na entrada de sangue novo, mas os velhos presentes deram bem conta do assunto. Gente inflamada aquela que veio do frio!

São casmurros, empenhados, trabalhadores, amigos, nobres de carácter, levam tudo à frente quando os azucrinam e pelam-se por um bom convívio. Costumo assemelhá-los, com as devidas distâncias "geo-politico-socio-ideológicas", aos alentejanos; Acho que fazem fronteira pelo lado da casmurrice, amizade e convívio.

Lisboa não seria a mesma sem os muitos alfacinhas-transmontanos, alentejanos, beirãos e demais representantes das províncias. Aqueles que revivem o passado e as suas origens nesta cidade, fazem-nos lembrar que Lisboa continua a ser, apesar de tudo, um bom porto de abrigo.

Nota de rodapé: As más línguas, uns amigos meus do Norte, dizem que em Lisboa só se comem croquetes e bebem-se galões, ao balcão e a correr... Nah! Já comi muito bem nesta cidade, graças também aos alfacinhas que não são de gema... Hoje então comi uns produtos barrosãos bem bons.

13.1.05

"Essas modernices..."... "Esses enleios... "

Este post é uma embrulhada, porque nem sei como hei-de começar.

Vamos ver...

Recebi há pouco um telefonema de um homem que me disse que já tinha decifrado o Código. Convenhamos que é para ficar surpreendida. Estava longe de adivinhar quem era o dono daquela voz grave (por acaso fica ele já a saber que tem uma bonita voz... Vá aproveite que isto não é assim todos os dias da minha parte, normalmente sou má).

A voz era de um confrade com quem mantenho boas relações na "blogaria" - eu visito-o e ele visita-me, regularmente, e ainda nos comentamos. Tudo on-line já se sabe. Como ele deu com o meu contacto é enredo que não interessa agora, porque envolve terceiros.

O problema, que não é problema nenhum, é que eu não estava a contar com o telefonema. Acabei por ser apanhada por causa da "rede", mas sem rede... Faz sentido?

Não sei se ele reparou, mas fiquei um bocado encabulada. Mais infantil tudo isto parece, se tivermos em conta que já nos tínhamos conhecido num jantar organizado pelo Tadechuva, em Setembro passado.

Aliás, conheci-o a ele primeiro que ao blogue... (só que ele não sabia o meu nome, e estava muita gente, e muito barulho e muitos copos...)

E é aqui que entra a parte da minha querida amiga F. que suspeita muito destas coisas do 'on-line'... "Essas modernices", ou "esses enleios" como também gosta de referir, são um perigo, diz ela.

A F. é do mais conservador que há em matéria de conhecimentos que não são cara a cara. Faz-lhe confusão o mistério e a abertura a que os interlocutores se dão, escrevendo mais do que alguma vez diriam em presença.

A F. tem razão.

Somos despudorados na escrita. Por isso é que uma vez disse aqui, e passo a citar-me: «A escrita revela mais de nós, do que nós, os próprios».

Isto é de facto um perigo, porque depois quando nos encontramos frente a frente, ou mesmo ao telefone (o que para mim ainda é pior), sentimo-nos mais ou menos como as estrelas de cinema que são apanhadas na rua sem maquilhagem e com os sacos do supermercado.

Moral da história: Este post é mesmo uma embrulhada e quem escreve nos blogues nem sabe no que se mete. O melhor é andar sempre preparada para a festa, não vá ser apanhada na rua mal vestida.

12.1.05

1001 noites

Caso não tenham percebido, ou sequer lido, dada a extensão daquele post, eu gostava mesmo que sugerissem locais e programas para uma noite bem passada com um grupo de amigos, acima dos 30, com franjas antes e depois.

Não, isso não vale, isso também não, e também não é isso que estão a pensar... Mentes sujas!

Nota: Prefiro sugestões para Lisboa, porque aqui é que há mais dificuldade, mas também agradeço sobre outras cidades. Nunca se sabe.

A importância de um 'roll-on'...

... é quase nenhuma se formos a ver o seu valor monetário. É muita se considerarmos que é a nossa arma secreta para nos sentirmos "limpas e seguras" e andarmos a rir o dia inteiro, como nos anúncios. É ainda maior se for o final feliz de uma conversa banal e muito de trazer por casa entre um casal:

- Olha lá! Tu andas a usar o meu roll-on?

- Eu não. Achas? Ainda por cima o teu é muito 'soft' e cheira a bebé.

- Então é porque experimentaste!!!! Grande lata! Pois!... E eu hoje já não tinha quase nada. Não me digas que não tiveste tempo de comprar para ti. Que chatice. Amanhã não tenho e a culpa é tua. Que vergonha! A usar o meu roll-on. E não dizes nada?

- Tu não me deixas.

- Sonso.

É sempre assim. Eu barafusto, bracejo, afirmo e concluo. Ele fica caladinho. Ontem nem foi capaz de responder que eu também já lhe fiz o mesmo... (só que o 'roll-on' dele arde e eu deixei-me disso). Esta técnica é que é a nossa arma secreta, que elimina os germes e mantém-nos seguros. O ladrão de desodorizante com quem casei avança com outra teoria: Nunca, ou muito raramente, nos levantamos ao mesmo tempo de manhã. Se assim fosse, comichosa como sou com o meu espaço, trôpego como ele é ao despertar... Já tinha dado em divórcio.

Só para se ver como ele é manhoso e me sabe levar, hoje quando me levantei tinha uma nova embalagem do meu 'roll-on soft' em cima da bancada da casa de banho. Antes de ir para o trabalho foi comprá-lo e, enquanto dormia, deixou-me o presente. Agora sinto-me culpada e ele marcou pontos. Muito esperto.

O mês "tchan"

A minha mãe alertou-me aos gritos: Vai ver o teu signo no canal 1! Fui logo. Com a minha mãe não se brinca, e muito menos com a Cristina Candeias, a astróloga que ela idolatra e que "faz tudo por computador".

Depois de ouvir as habituais considerações sobre o Escorpião, que só nos dão má fama, fiquei a saber que o ano de 2005 vai ser um espectáculo! (Eu já desconfiava, mas a confirmação científica da Candeias dá-me outro alento).

Um ano bom para o amor, cheio de paixões arrebatadoras (eu estou a citar) e para o trabalho também não vai nada mal.

Bom, bom, vai ser o mês de Outubro, em todos os aspectos - O mês "tchan"! "Tchan", disse ela. E continuo a citar, porque Júpiter, o mês benéfico, vai entrar em Outubro! Estava escrito no computador (nas estrelas já não se usa). Venha ele.

A Psi-mamã

Tive uma professora de psicologia no Secundário que tinha quatro filhas, todas "em escadinha". Quando ela nos disse isto, logo na aula de apresentação, criou para todo o ano lectivo um tema de conversa recorrente. A pobre da mulher deve-se ter logo arrependido de ter contado da sua prole a uma turma de adolescentes, ainda por cima com uma esmagadora maioria feminina (na área de Humanísticas, já se sabe...).

Aquilo fez-nos confusão, porque ela ainda por cima era nova, gira, magra, alta e cheia de estilo.

De vez em quando, para aliviar o 'stress' que nos causava o reflexo condicionado do cão do Pavlov e as teorias maçadoras do Jean Piaget, ela recorria ao efeito sedutor da narrativa, com umas estórias das suas quatro pestinhas. A que mais me impressionou foi quando teve de fazer um seguro para cobrir os estragos que as miúdas faziam nos supermecados (furar os iogurtes, derrubar latas, amassar morangos, etc). Não acho que estivesse a mentir, eu já observei crianças nos supermercados e por um lado compreendo-as, eu também odeio esses sítios.

Mas o que nunca mais esquecerei é a última aula, quando nos comunicou que estava outra vez grávida. E era outra menina! Jamais saberei onde é que ela armazenou a criança, não se notava nada! E na recta final desse ano lectivo, em que de psicologia "oficial" fiquei a saber muito pouco, a lição mais útil que nos deu foi esta:

"Ter filhos é a coisa menos complicada, mais normal e natural do mundo, basta olharem para um estádio de futebol em dia de Sorting/Benfica e verem aquela gente toda! Nasceram todos. E vivem."

E saiu a rir. Juro. Granda maluca.

O Unas assustou-me

O meu marido acabou de sossegar-me. Ufa! Eu sabia que havia várias razões para ter um marido. Um marido é um marido, caramba.

O Rui Unas hoje recebeu a Lúcia Moniz no "Cabaret da Coxa" e só se lembrava de perguntar-lhe coisas sobre a experiência da maternidade: Então e que tal? A vida mudou muito? E gostas de mudar fraldas? E consegues conciliar com a carreira? Agora a vida é diferente, hein?... Enfim, pérolas de águas estagnadas.

Eu nem acreditava no que estava a ver e a ouvir. O Unas?! O Unas?! O Unas?! A Lúcia Moniz que andou aos beijos com o Colin Firth, e o Unas faz-lhe uma destas? A Lúcinha que teve a melhor classificação portuguesa de sempre no Festival da Eurovisão, na Noruega, e o Unas não estica a corda? A Lucita é filha do cantor do "Fungagá da Bicharada" e o Unas a perguntar-lhe se a criança nasceu bonita ou feia? Fiquei cheia de nervos.

Então tu não vês que ele está a caricaturar? Diz o meu marido. Não percebes que ele está a gozar? Insiste ele.

Ai é? Bolas, estava a ficar assustada! O Unas às vezes imita tão bem, que disfarça mal.

10.1.05

Nunca é demais lembrar

Recomendo a leitura deste post. A autora, que não conheço, vive em Espanha, o que é um dos factores que me motiva à leitura do seu blogue, já que nutro um fascínio pelo país vizinho. Concordo com tudo o que ela escreve sobre a violência sobre as mulheres, e nem sequer fiquei surpreendida com os números que nos revela de uma Espanha de sucesso; O desejo de superioridade que se manifesta em bofetadas e abanões não é exclusivo dos países pobres.

Há muito tempo que acho que a violência dos homens sobre as mulheres começa ainda antes dos murros. Há aquela sacanice rasteira e subtil que atropela a vida de algumas raparigas ainda antes de serem mulheres - não usar mini-saia porque o namorado não gosta, não se pintar muito porque o namorado não gosta, não sair com as amigas porque o namorado não gosta... Por aí fora. Daí até a um casamento de submissão, com um namoro e noivado castrador pelo meio, é um passo bem mais pequeno que aquele que já mulheres elas terão de dar para se libertar do jugo em que se meteram, e que consentiram.

Como é possível estranhar a primeira bofetada se a violência começou, por exemplo, quando o homem a fez sentir culpada porque as camisas não estavam passadas ou o jantar por fazer? Isto acontece todos os dias em muitas casas, de Telheiras a Chelas. Nem todos os casos, felizmente, acabam no espancamento. Mas é óbvio que são potenciais núcleos de má formação das gerações que hão-de procriar.

Poderia continuar aqui a escrever parágrafos e parágrafos sobre a violência doméstica... Não o vou fazer. Apenas peço a todas as mães e pais que eduquem os vossos filhos para a igualdade e respeito.

Bem me tinham avisado...

... que eu ia ficar apanhada por esta coisa. Estou deprimida. Afinal não sou superior às audiências. Ninguém me lê. O que é que querem? Gajos nus? Gajas nuas? Em desespero espeto aqui com um ensaio sobre Heideger e peço um subsídio.

A rapariga do shopping

É gira, é engraçada, é minha amiga. E é especialista em compras. Só tem um defeito - tem menos de trinta anos. Raios.

9.1.05

Procura-se 007

É drama, é drama, mas vai lá vai...

Fui ver a A Porta no Chão. Nunca vi um drama tão divertido. Nele, o "lado negro" que todos temos surge tão natural como rir e chorar, e eu ri mais do que chorei, confesso. É também, por isso, um filme cru. Em Espanha, a tradução que lhe deram foi: "La mujer dificil". Não tem nada a ver... A "porta no chão" é o tal lado negro que nos atormenta, não são as mulheres ou o sexo, mas os espanhóis devem ter achado que assim era melhor para a bilheteira.

Jeff Bridges já merecia há muito tempo um óscar, mas não tem tido sorte nenhuma; Os críticos tendem a achar que ele representa com demasiada facilidade os papéis que lhe dão, como se não lhe custasse nada. Mas custa, pode é não se notar. Neste filme, sobretudo, deve ter tido uma trabalheira danada: Está magnífico! Kim Basinger e Mimi Rogers, principal e secundária, demonstram aqui, em registos diferentes, muita coragem na maneira como se expõem, é que envelhecer na América fílmica não deve ser fácil. A revelação vai toda para Jon Foster que simboliza a juventude na história, protagonizando para já a melhor e mais comovente cena de embaraço sexual que alguma vez vi no cinema. Este rapaz personifica também a juventude que Hollywood precisa.

Dão-se alvíssaras

Perdeu-se na noite um grupo de bons amigos nascidos na década de 70, com esporádicas filiações amistosas com membros da década de 60 e até de 50 (na fase tardia).

Estes rapazes e raparigas desapareceram de suas casas há uns anos atrás, para se divertirem, supõe-se, nuns bares e discotecas onde foram vistos pelas última vez a dançar até altas horas da noite, mas não tão altas como agora. Alguns testemunhos para o historial do grupo, registados no princípio das investigações, dão conta que no início era normal o grupo sair de casa mal o sol se punha, ir ao cinema, petiscar uns 'hamburguers' e uns cachorros nuns 'snacks' sem marca registada, ou morder umas carnes numas tascas que ainda não eram finas, e ir a correr para a discoteca para assistir à abertura da pista. Na altura, já havia uns mais modernaços que gostavam de chegar tarde, preparando caminho para a já promissora condenação da saloiice vigente.

Depois de "snifar" os fumos que se escapavam por todos os lados da discoteca, e observar as combinações psicadélicas de cores, começavam então a dançar sob o signo da bola de espelhos, esse mítico astro da noite. Numa fase primitiva, ocorria uma estranha forma de acasalamento sem imediatos fins procriadores - o 'slow', uma estranha alegoria às gerações progenitoras; O rapaz convidava a rapariga para dançar uma balada, com a barriga e as caras coladas. Esteticamente e em termos técnicos, os passos enunciados eram muito pobres, e raramente o casal saía do mesmo lugar. Mais uma vez, já na altura, havia uns mais modernaços que gozavam com aquela saloiada.

A sessão acabava cedo. Suados de tanto dançar, por volta das 3 ou 4 da manhã começavam a pensar ir para casa, para terem tempo de, no caminho, engendrar uma maneira de enganar o padeiro mais desprevenido para lhes vender uns bolinhos quentes. Ainda por confirmar, está a declaração de uma testemunha ocular que afirmou ter ouvido numa das ocasiões um ou dois dos desaparecidos a desafiar o grupo a prosseguir a noite, instigando os companheiros a procurar locais alternativos que estivessem abertos até mais tarde.

A última vez que foram vistos, no início da década de 90, foi à saída de uma discoteca já desaparecida da zona de Alcântara. Mas há relatos que apontam para o Cais do Sodré, outros para o Bairro Alto e outros para a 24 de Julho (informações avulsas e contraditórias têm dificultado o avanço da investigação). Nessa altura, já não dançavam ‘slows’ nem assistiam à abertura da pista, mas os porteiros ainda não frequentavam todos a mesma escola, e a música não era feita por DJ’s, eles só a punham.

Desde então, surgem ocasionalmente relatos de cidadãos perturbados que afirmam ter visto alguns dos desaparecidos. Ouvidos, com algum descrédito por parte dos agentes da autoridade, estes cidadãos contam que eles apresentam um ar desconsolado e andam em grupo, embora pareçam discutir muito e entrem em muitos bares e saiam logo a seguir.

O responsável pela investigação ameaça encerrar o 'dossier', por considerar que não há mais nada a fazer.

Há, no entanto, uma repórter especializada na área criminal, que persegue esta lenda. Do seu bloco de notas, 'alguém' arrancou algumas páginas onde se lê:

«Hoje fui atrás deles. Estavam irritados... Viste? Eu não disse? Aqui é tudo proibido a maiores de 21! Dizia um. Eu bem avisei que devíamos ter ido ao Lux!!!... Vociferou outra: Nem pensar, aquilo já não é o que era, na última vez que lá fomos eram só bancários e professoras primárias... Alguém ficou ofendido: E o que é que tens contra as professoras do 1º ciclo do ensino básico, afinal? A coisa estava a ficar feia. Não tenho nada contra as professoras primárias, a minha irmã até é uma! Mas tu sabes do que é que estou a falar, não me enerves... Sugeriu outro: Eh pá, é sempre a mesma coisa. Vamos mas é entrar aqui, que há mesa e tem tostas mistas grandes e boas... A mais queque disse logo: Aqui? Nem penses, o empregado é parvo e os gajos parece que estão todos vestidos com roupa da avó, devem ser de Biologia! Além disso não tem cartão multibanco. Então vamos àquele em Belém! Ó pá, mas tu drogas-te?! Lá é só tias e tios, vestidos com a roupa dos filhos, e música do Henrique Iglésias. Uma de sapatilhas laranja choque palpitou: ‘Bora para o Bairro, ficamos na esquina! Outra de sapatos agulha: Deves estar a gozar, não vim “vestida” para isso! A noite ia ficando definitivamente estragada com a tirada de uma das mais entesadas: Sabem de uma coisa? Nós somos uns parvos. Todos. Nós é que estamos desfasados , devíamos estar em casa, agora já não há nada para nós. Ou alinhamos no que há, ou vamos para casa. Eu vou para casa!... E ameaçou abandoná-los. Então vai! Berraram uns. Vá lá, não se chateiem... Bolas, pá. Não vale a pena. Olha, eu estou com sede. Quem quiser que me siga. Seguiram todos. Ainda ouvi uma a dizer: Eh pá! Que frustração! Juro que amanhã vou falar sobre isto no meu blogue e perguntar se alguém conhece sítios giros para gente gira (e modesta!) como nós. Vou pedir ajuda para um roteiro. Entre risos de gozo: Lá está ela com a mania do blogue, já não tinha pancadas que chegassem ainda nos inferniza... Indignada ripostou: Se vocês lessem mais gostavam, mas vocês estão todos velhos... blá, blá, blá... Sem a poderem já ouvir, só lhe responderam: Bebe e cala-te!...»

PS - Para quem não teve pachorra de ler este post demasiado extenso, serve o mesmo para que deixem ficar na caixinha de sugestões aqui em baixo, dicas para o roteiro daquelas pobres almas penadas que por aí andam às vezes à noite...

7.1.05

Sós (sem drama)

Lá vai mais um caixão sozinho no carro funerário. É um velho sem família que morreu num lar, é o que penso sempre. Triste. É sim, é muito triste. No entanto, não existe maior solidão que o nascimento e a morte. À partida, nascemos sós. À chegada, podemos ter à nossa espera uma família carinhosa e um berço confortável, mas ainda assim estamos sós no mundo pela primeira vez. Alguém depois nos guiará, por palavras e acções, no percurso da vida, mas estar só é a nossa condição, até à morte.

Cada alma tem o seu caminho.

Cada vez que tomamos uma decisão, estamos sós.

Cada vez que respiramos, estamos sós.

Cada vez que estamos doentes, estamos sós.

Quando casamos, estamos sós.

Quando procriamos, estamos sós.

...

Estamos sós porque em todas as ocasiões defendemos o nosso lugar no mundo, na sociedade, no trabalho, na família, no grupo de amigos. Por mais companhias que tenhamos, e causas que partilhemos, ocupamos um espaço único, que jamais vaga. O velho do caixão sozinho no carro funerário não está mais só do que viveu. Não está mais só do que nós. E isto nem sequer é triste, é real. Sem drama.

6.1.05

Listas

Estou para aqui a rever as listas para o meu ano executivo de 2005 e estou cheia de dúvidas. Entre tarefas elegíveis e outras que só estão na lista porque parece bem e já me acompanham há muito tempo, ainda sobram umas totalmente disparatadas que não sei onde meter, mas sobre as quais estou a ser pressionada.

Tarefas elegíveis

Deixar de fumar (já tomou posse)

Escrever mais no blogue

Ler mais blogues

Escrever mais

Sair mais à noite para dançar, em vez de ficar só sentada a tagarelar

Apurar o conhecimento da espécie humana masculina

Gerir melhor o dinheiro

Ir todas as semanas ao cinema e devorar os ‘telecines’

Apurar a fórmula perfeita do gin tónico

Votar sem ser em branco

Tarefas de longa data, porque sim

Fazer dieta a sério

Fazer exercício físico a sério

Escrever todos os dias a sério

Ler todos os dias a sério

Dedicar-me à cozinha a sério

Aprender mais sobre geo-política internacional

Ser mais disciplinada e concentrada no dia a dia

Tarefas que fui pressionada a incluir nas listas

Deitar mais cedo e mais cedo erguer

Não discutir gostos

Não chatear os outros com as minhas teorias, embora estejam absolutamente certas

Parar de ser irrequieta e de me levantar de cinco em cinco minutos para fazer qualquer coisa

Não destruir todos os guardanapos de papel que estão em cima da mesa dos cafés

Deixar de ver a novela da TVI “Mistura Fina” e sentir-me envergonhada por falar dela

Ir à missa como costumava fazer

Ter um filho

PS - Algumas das ditas acima enunciadas já comunicaram que, caso sejam eleitas, não tomarão posse porque têm mais quem as faça.

5.1.05

A bondade fica-lhes tão bem

A bondade intriga-me.

Cada vez noto mais, mesmo que o não façam por mal, pessoas bondosas que agem em função do bem estar dos outros porque querem ficar bem vistas. Gostam de ser as boazinhas.

É o sentimento de culpa e a necessidade de corresponderem ao que (imaginam elas!) os outros esperam de si, que guiam as suas acções.

A bondade intriga-me, porque nem sempre consigo distinguir os verdadeiros dos falsos.

4.1.05

Massagens ao ego ainda vá

Receitas à parte, que dão imenso gozo a ler... Haverá realmente alguém que chegue a casa, inunde a cama e o chão de flores, acenda velas capazes de provocar os bombeiros e dedique horas sem fim a massajar o outro? Eu não conheço ninguém, pelo menos entre os vivos. Dizem que o Sting é adepto das massagens tântricas, mas cheira-me a marketing, além disso também não o conheço.

É como a história das sondagens e dos estudos sociológicos, nunca conheci ninguém que tivesse sido questionado.

Quanto às massagens prolongadas, não me levem a mal, eu até sou da geração Cosmopolitan, mas por muito "prazer" que em tempos tenha tido a ler as dicas da página 37 ou 46, nunca me passou pela cabeça que o capítulo massagens fosse para levar a sério. Deve ser uma canseira... Fazer, claro está.

3.1.05

2004 em revista (6)

Blogar

Finalmente encontrei um vício que não prejudica "vivalma". Só me atura, quem me clica. É fácil, é barato e dá horas de satisfação. A melhor forma de me editar e reeditar.

Queixas, reclamações e sugestões no livro branco dos comentários do costume, aí em baixo, para quem ousar.

2004 em revista (5)

Relações, ralações e heróis

Todos os meus amigos, de A. a Z. são os meus heróis. A minha família, nuclear e ínfima célula em que me apoio, é a minha heroína. Sem eles não vivo.

Pessoas, pessoas, pessoas. Adoro pessoas. Adoro conhecê-las, detestá-las, amá-las e tornar minhas amigas as que considero valer a pena. Jamais entrarei nessa de "prefiro os animais". Nunca. Prefiro o toque humano de uma boa alma em cada dez infames, que o consolo de um ser de quatro patas que nos vai lamber os pés.

2004 foi péssimo, péssimo, péssimo e péssimo, e sei que neste pensamento não estou sozinha, mas para mim se alguma coisa há que guardar dele é a confirmação das verdadeiras amizades e do amor que recebi enquanto filha, amiga, irmã e mulher.

Foi também em 2004 que me tornei madrinha e mais 4 vezes tia: Rodrigo, Clarinha, Tiago, Gonçalo e Filipa são do mundo, mas vieram a ele através de amigos que são meus.

2004 encerrou igualmente um ciclo de sete anos, bem como outros ciclos satélites, uns mais pequenos, outros mais longos do que desejaria, que me deixaram um imenso vazio. Quem me lê, sabe que por vezes até a tristeza ou uma situação que nos é prejudicial nos preenche e nos faz falta; Quando desaparece, ou quando temos de a fazer desaparecer, sofremos que nem uns condenados, porque não sobra nada. Com o tempo, deixamo-nos seduzir pelo prazer de preencher esses vazios... E esse prazer já começou!

No início deste 2005, a febre da mudança tomou conta de mim. O termómetro ainda não subiu, mas eu sinto já aquela moinha no corpo que não me deixa sossegada...

eh eh eh eh...

... Os homens preferem as morenas. O estudo está todo aqui. Como se perceberá, o link só leva à capa, por isso para lerem o artigo têm de a comprar ou pedir emprestada. Aqui fica o 'resumé':

Os homens preferem:

46% morenas 25% louras

70% cabelo comprido 14% curto

45% altas 16% baixas

39% magrinhas 33% cheinhas

etc, etc, etc...

PS - O que mete piada é que as percentagens das preferências femininas são, ao contrário das masculinas, muito distantes (por ex: 80% prefere morenos / 11% louros, 84% barba feita / 8% barba). Estão a ver? As mulheres são muito mais tendenciosas. Os homens muito mais divididos. É claro que eu não conheço ninguém que alguma vez tenha sido contactado para um destes inquéritos, conhecem?