31.12.04

2004 em revista (4)

Políticos

Por razões várias, que implicam com a minha integridade profissional, tenho-me abstido quase sempre (com um ou outro descuido medido) de falar dos nossos políticos. Além disso, a blogosfera está cheia de posts sobre eles, e na maioria das vezes por gente muito mais avalizada do que eu.

O ano de 2004 mostrou o pior e o melhor de alguns dos eleitos, ou em vias de o ser, e o pior e o melhor dos portugueses. Só vou falar do melhor:

Sente-se um certo retorno dos portugueses à causa pública. Eu sinto. Com mais ou menos "bacoradas" proferidas pelo meio, o povo levou um abanão e agita-se em redor de questões que pesam no seu bem estar, enquanto portugueses de Portugal e não de um país qualquer da Europa que leva esse nome. O percurso é longo, mas acho que metemos já os pés a caminho. Espero não me enganar.

Talvez o próximo ano prove também a mais valia que representam para o país os "não políticos" que por vias diversas vêm a calhar na "coisa pública". Em Lisboa, designadamente, um deles pode vir a ser o "não político" que melhor política de cidade poderá fazer. Se o deixarem, Carmona Rodrigues, que a maioria dos lisboetas desconhece ainda, tem tudo para ser um execelente presidente de câmara. Espero não me enganar.

2004 em revista (3)

Os meus filmes do ano.

À Procura da Terra do Nunca

Vi ontem. No findar de 2004, aqui está a confirmação que o sucesso das relações entre os Homens depende da forma como cada um vê o mundo. Abrir as portas à Terra do Nunca ou recusar-se a voar para dentro dela, são uma e outra maneira de aqui andar. A química acontece quando homens, mulheres e crianças escolhem a mesma. No filme - protagonizado por um Johnny Depp comovente e contido, como convém a um actor que não entra nas histerias de que tanto gostam os "óscares", e uma Kate Winslet que alguém à saída da sala disse ser a nova Meryl Streep - a maior reacção química dá-se entre adultos e crianças. Esqueçam a "Música no Coração". Esta é que é a verdadeira família feliz.

A Vila

O Despertar da Mente

O Diário de Bridget Jones 2 (por razões que à cinematografia interessam muito pouco)

30.12.04

SIDA de trazer por casa

Parem com isso! Que história é essa do flagelo da Sida em África? Que história é essa de terceiro mundo sem acesso à informação? Que pouca vergonha na cara é essa de exorcizar as camas, em que se deita toda a gente sem cuidado nenhum, à custa da mortalidade abaixo da linha do Equador? A Sida começa em casa, mas pelos vistos quem lá vive é o último a assumir a irresponsabilidade dos seus actos sexuais.

Quem nunca fez sexo sem preservativo (do princípio ao fim... ou é preciso fazer um desenho?), em situações de risco, que atire a primeira pedra. Já agora arremessem-na para os africanos, asiáticos e sul americanos, que já estão habituados a levar com a comiseração civilizada.

Enoja-me ouvir os debates sobre os assustadores números da sida no mundo, sem que ninguém olhe para o seu círculos de amigos e conhecidos e admita que já teve vergonha de perguntar ao parceiro se fez um teste de sida recentemente, e que até já se permitiu um deslize às custas do bom ar do rapaz ou da rapariga.

O HIV não habita só nas palhotas e onde há muito calor. Lá por se mandar a igreja Católica às urtigas e dar com força nos anticoncepcionais, não quer dizer que se esteja imune ao bicho. O preservativo não é apenas um adereço "para a brincadeira"(como ouvi no outro dia a uns miúdos pré-universitários). Isto tudo já se sabe há muito tempo, mas a malta dos países evoluídos como tem acesso a muita informação, gosta de filtrá-la a seu gosto.

29.12.04

2004 em revista (2)

Não sou tão moderna como gostaria

Descoberta canalha esta. Eu que sou óptima a dar conselhos sobre a modernidade, afinal só sou moderna às vezes. Numas aplico os "pós" modernos, noutras os "unguentos" antigos. Grande lata a minha. Uma na filosofia de ponta, outra na catequese.

2004 em revista (1)

Como engatar alguém no trânsito

Palavra de honra que detesto a palavra "engate", mas para o caso serve. Uma das descobertas que fiz este ano é uma das grandes vantagens das filas de trânsito - "fazer olhinhos" aos outros condutores. É demasiado fácil. Juro. Solteiros, divorciados, separados, desimpedidos, viúvos deste país, deixem-se de ginásios caríssimos, reuniões de pais, chats, msn's e vão para a estrada. Mesmo que não haja trânsito, basta uma paragem no semáforo vermelho, olhar para o carro ao lado e zás, pode ser que seja alguém de jeito. Se não for, semáforos e passadeiras não faltam. Acreditem que dá resultado. O Homem e a máquina nos seus melhores dias. Os que levarem isto a sério devem ir munidos de um marcador e folhas brancas, para mostrarem os números de telemóvel com um sorriso. Os mais drásticos, que julgam que nunca mais vão sentir um tubo de escape igual, até podem provocar um acidente ligeiro, seguido da declaração amigável.

PS1 - Marido, eu não estou a falar de mim. Sou apenas uma observadora. Dei por isto da melhor maneira possível, por acaso. Todos os olhinhos que fiz foram por puro interesse científico.

PS2 - "Fazer olhinhos" também não soa nada bem, que raio.

28.12.04

Sonhos

Andei agora por aqui a ver se descubro um significado para os meus sonhos. Ainda não foi desta. O melhor mesmo era que alguém, Bill Gates, a Nasa, a Endemol, o Pinto Balsemão, o FBI, alguém, inventasse aquela máquina que eu desde miúda gostava de ter - uma máquina de gravar sonhos. Imaginam-se a visionar os "vossos filmes"? Eu até imagino a Dreamworks e a Miramax a disputar as minhas realizações! Na FNAC, sucediam-se os lançamentos de livros sobre "Como sonhar melhor" ou "Aprenda a sonhar" ou melhor ainda "Rentabilize os seus sonhos"! Na vanguarda estariam os blogues com nomes sugestivos, na linha de: "Os sonhos que nunca gravei"... ... ... Acorda! Esta máquina permitiria, antes de tudo o resto, que nunca mais tivessemos problemas com a memorização dos sonhos. Isso é que era! Fico devastada quando me esqueço do que sonhei. Acho sempre que perdi material de excelente qualidade. Com o sonho em DVD, podíamos rever as principais cenas, conceber o 'trailer', enfim, até o podíamos enviar ao psiquiatra e poupávamos umas hipnoses. Se já tivessem inventado este gravador para a cabeceira da cama, eu podia agora muito bem revisitar o sonho desta noite. Se bem me lembro, tinha qualquer coisa a ver com um homem a adornar-me com símbolos da França, no meio de uma festa.

27.12.04

Sociedade recreativa

Os portugueses são excelentes trabalhadores, mas péssimos profissionais. Trabalham com afinco para cumprir a sua função social na comunidade, e para a família, mas raramente encaram o emprego como uma peça fundamental ao funcionamento do país. Trabalham para a conta à ordem e para satisfazer os serviços secretos dos bancos, mas estão-se a marimbar para a conta poupança nacional de bens e serviços de qualidade que, a longo prazo, traz com certeza muitas mais benesses do que a visão redutora: Um emprego, um ordenado, uma vida, a minha vida.

Os governos, os empresários e os dirigentes da administração pública também não têm ajudado. Os primeiros têm sucessivamente brincado com os números da produtividade, programas bacocos de formação e de incentivo às empresas, entretendo sazonalmente os portugueses com a promulgação de “pontes”. Os segundos adoram os tais incentivos, mas nunca percebem muito bem (ou não querem) o que hão-de fazer com eles, talvez porque na sua maioria os programas criados não servem a realidade das empresas que gerem (sobretudo as pequenas). A estes e aos terceiros, os do Estado, tem faltado "o" incentivo fundamental - aquele que deveriam dar aos seus colaboradores. Aqui entra o rabo na boca da pescada – a maioria dos portugueses não está motivada, não sabe para o que trabalha, não vê o produto ao fundo da linha de produção, não veste a camisola, nem sabe de que cor ela é. E nem se interessa, o que é o pior de tudo. E ficámos assim. Incompetentes.

Pelamo-nos por uma “ponte” (quem é que não andou já a ver o calendário de 2005?). Em Agosto ninguém trabalha, nem deixa que quem fica em terra, mar ao longe, trabalhe. No fim do ano ninguém trabalha, não há encomendas, não há marcação de consultas médicas, porque é o fecho do ano, o balanço, e são férias na terrinha, e há as compras, e os preparativos, e… Dura o mês inteiro de Dezembro, embora o Natal sejam dois dias e o Ano Novo também. E depois há a Páscoa, o Carnaval, os santos populares, feriados religiosos e efemérides com fartura…

Em Lisboa, por exemplo, em Junho, regista-se um êxodo digno de um especial na “National Geographic”, devido a três feriados: 10 de Junho, 13 de Junho e Corpo de Deus (feriado móvel pela altura das festas juninas). Por esses dias, as únicas pessoas que ficam na cidade são alguns funcionários da câmara, os noivos de Santo António e os marchantes da Avenida da Liberdade. Salvam-se os muitos turistas que devem ir daqui com a ideia que Lisboa é uma capital com muita festa, mas pouca gente.

O mal não está na existência dos feriados e das épocas festivas, aliás festa é coisa que para mim nunca está a mais! O que nos prejudica é a tendência para anteciparmos e estendermos essas marcas no calendário, fazendo com que a fronteira entre a incompetência e a nossa maneira de estar descontraída e improvisada seja demasiado ténue.

Todos os meses parece haver uma razão para nos evadirmos das nossas funções, e se isso é bom como estímulo para (sobre)vivermos, é péssimo para a tal "conta poupança nacional".

Não se compreende que passemos Janeiro a recuperar do Natal e a fazer balanços, o Fevereiro a pensar no Carnaval, o Março a pensar que já está a fazer calor e talvez dê para ir à Praia, o Abril a fazer planos para a Páscoa (se é que ela não foi já em Março), o Maio a estudar o mapa de férias, o Junho a jogar com os santos, Julho em férias numa das quinzenas que tem os melhores dias de praia, o Agosto já se sabe - é mesmo o grau zero da produtividade, o Setembro ainda dá para ir à praia e há o início das aulas e começa o ano de trabalho, e é preciso fazer planos e etc, o Outubro tem o dia cinco que dá jeito, e só depois é que se começa a trabalhar, o Novembro tem a romaria aos cemitérios, e o Dezembro é aquilo que já se sabe e que estamos a viver agora. Ainda há o décimo terceiro mês... Mas esse mal dá para os gastos.

24.12.04

Presépio

José saiu hoje do trabalho mais cedo para passar no Colombo, antes da consoada. A Maria há muito tempo que gosta daquele lindo fio de ouro branco com um crucifixo e José quer oferecer-lho; Não é por acaso que andou um ano a juntar dinheiro, e até abdicou das noites de cartada com os amigos à sexta-feira. Maria não lhe comprou nada. Cada vez que passa em frente às lojas, sob o brilho das iluminações da cidade, sente angústia. A Maria e o José não são pobres, nem ricos, mas têm um filho toxicodependente, cujas tentativas de recuperação lhes leva ordenados inteiros. José só quer agradar a Maria, mesmo que isso signifique aturar os enfeites nas ruas e os encontrões nas lojas. Logo ele que nem sequer suporta o histerismo dos colegas mal entra o mês de Dezembro. O filho deles há mais de seis meses que não vem a casa, e no último dia 24 acabou por meter meia dúzia de bolos ao bolso, pedir dinheiro e sair antes da meia noite. O embrulho está lindo, acha José que ainda compra uma rifa a uma instituição qualquer, de que nem se recorda de ter ouvido falar, antes de sair do centro comercial. Maria já chegou a casa e só espera que o marido não se tenha lembrado de gastar dinheiro em presentes. Este ano, nem sequer fizeram árvore, porque ela não quis. José, por ele, fazia tudo. José sempre fez tudo, desde o início. Aceitou Maria com um filho de pai desaparecido, amou-o e protegeu-o até que outro herói, uma heroína aliás, o resgatou. A campainha toca e Maria sente-se desapontada por ser José. Ele não se importa e resolve surpreendê-la com a caixinha de veludo vermelho e laço dourado. Maria deixa rolar duas lágrimas, “eu só queria era o nosso menino Jesus aqui”. “Tu queria-lo sempre aqui Maria. Sempre! E eu também. Olha, vamos esquecer que hoje é Natal?! Está bem?! Assim não sofremos tanto. Ele há-de vir um dia, nós vamos encontrá-lo. Nesse dia comemoramos o Natal. Está bem?”. Maria assentiu com a cabeça e guardou a caixinha vermelha para esse dia. Jantaram e desligaram os telemóveis para não ver as mensagens. Na manhã seguinte, muito cedo, tomaram o pequeno almoço em Belém, e Maria comprou os pastéis de que ele tanto gostava para comerem na viagem. Eles iam à procura do filho.

22.12.04

Levemente

Desconfio sempre daquelas pessoas que nunca riem. As pessoas muito sérias, que encaram tudo com muita gravidade, como se carregassem o peso do mundo, têm o dom de me irritar. À sua maioria até reconheço o bom carácter e a boa formação, mas estes acabam por ficar submersos em camadas e camadas de preocupação que destilam por todos os poros, transmitindo energias negativas. Eu fujo delas. Não me canso de admirar a leveza que outras põem em tudo o que fazem na vida, na sua relação com os filhos, com os cônjuges, com o trabalho, com os amigos. Sem toma lá dá cá, cobranças indevidas, dramas e escalas de afectos. Gostava de passar por esta vida ao de leve, em tudo: no choro, na alegria, no amor, na saúde e na doença. Por isso aproveito tudo o que me ajuda a levitar, e quando digo tudo podem ser coisas tão simples como uma troca de palermices no 'msn', a meio caminho entre uma seca aqui do trabalho e a ida às finanças, uma gargalhada, uma tarefa cumprida com gosto no gabinete,um bom filme no sofá... Leveza implica encontrarmos apeadeiros onde possamos decarregar todos os nossos fardos que não podemos simplemente ignorar. A irresponsabilidade é uma coisa, a leveza é outra completamente diferente. Não pagar a renda da casa porque gastámos o dinheiro em 'griffes' é uma coisa, não pagar a renda da casa porque tivemos um imprevisto(credível) e ainda assim desprender risos intercalados com a contenção de despesas, é outra completamente diferente.

PS - Para que não restem dúvidas, este post é semi-autobigráfico. Eu paguei a renda da casa.

21.12.04

"Eu já posso imaginar que faço"

Vem mesmo a calhar neste tempo de frio um baton para o cieiro. A autora é uma miúda muito engraçada e muito querida que conheço há dois anos, e a quem gosto de dar conselhos de quando em quando. Para mim ela é uma... Como dizer?!... Uma bonita pedra em bruto que me apetece ajudar a lapidar. Não que eu seja um diamante da Tiffanys, mas sou mais velha (nunca pensei viver para me ouvir dizer isto...). A verdade é que eu gosto de aprender com os mais velhos, mas também gosto de ensinar qualquer coisa de jeito aos mais novos.

Acontece que a minha ‘petite’ baton acha que a imaginação leva à loucura. Não leva não. A imaginação salva-nos da loucura. Eu explico. A este propósito lembrei-me de um livro do Carlos Amaral Dias e do João Sousa Monteiro, que comprei por causa do título: “Eu já posso imaginar que faço”. O livro reúne por extenso dois programas que os autores fizeram na Rádio Comercial nos anos 80, e a sua leitura reconciliou-me na altura com a maneira que desde cedo encontrei para sobreviver a ansiedades e angústias.

Ou seja, o mais importante não é vivermos na eminência de fazer isto ou aquilo, porque temos ou porque precisamos, mas possuirmos a capacidade de imaginar que o fazemos. O resto a vida o dirá, com ou sem a nossa autorização.

No início da nossa relação com o mundo existe a imaginação, depois o verbo e só depois a acção. Quem começa apenas pelo fim, jamais experimentará a elasticidade da mente e o infinito prazer de projectar a existência.

Dom Quixote, que gosto sempre de recordar quando penso que estou a ficar doida, ou quando o pensam por mim, se não tivesse transportado a sua loucura a cavalo com o Sancho a reboque (existem sempre uma almas que embarcam nestas aventuras, bem hajam!), teria morrido como viveu: Louco, mas muito mais triste...

13.12.04

Eu também gosto de vocês todos

A F. ligou-me muito aflita, quase à beira de um colapso: "Sentiste?". Não, não tinha sentido nada. "Olha, se acontecer alguma coisa... Eu gosto muito de ti". Se a terra tremer outra vez, já sabem: Eu também gosto muito de vocês todos. Mas... nah, ainda não é desta que isto vai abaixo.

12.12.04

Bloguernices

Os meus consultores de imagem aconselham-me a virar a página. Dizem-me que tenho de pôr para aqui um novo visual, mudar as cores (como?), pôr links (não sei), meter umas fotos (não sei se me apetece), inserir um contador (não sei se tenho coragem), por aí adiante. Eu também gostava de muita coisa, até já imaginei um 'design' entre o místico e o 'avant-garde' estão a ver? Mas como? Se eu ainda agora, e depois de muito esforço, é que consegui fazer parágrafos nos posts?!... Enfim, sou muita naba na informática, falta-me tempo e, sobretudo, a disciplina. Se eu pudesse, ia a uma lojas que conheço comprar umas novas roupitas para o blogue, passava numa perfumaria e comprava aquele aroma, para dar aquele ar, e finalizava no cabeleireiro T&G, para fazer umas 'nuances' e levar um novo corte. Como não dá, vou ter de me contentar com a preciosa ajuda de uns colaboradores que ando a ver se engano. Como não lhes pago, vamos lá ver o que me conseguem arranjar de "bloguerno".

11.12.04

Excessos

É demasiado fácil cairmos em excesso. O abuso do corpinho, testando os seus limites, sempre foi razão para a queda de impérios. Álcool, droga, tabaco, sexo, comida, trabalho, podem ser sinónimos de auto destruição, sempre que usufruídos em doses “pesadas”. Inexplicavelmente sempre compreendi as pessoas excessivas, não tanto aquelas que deliberadamente cavam a sepultura, mas aquelas que dão uma no caixão e outra na sanidade mental, para se manterem vivas. Aqui há uns tempos um amigo andou a anti-depressivos (ele mais uns bons milhares de portugueses). O médico disse-lhe ‘off the record’: O meu amigo faça de conta que eu não lhe disse isto, mas eu se fosse a si não deixava de fumar agora. Está claro que o amigo não deixou. Fez bem.

Eu também gosto de fumar, é cá uma mania que eu tenho. De vez em quando bebo bem o meu gin tónico. Gosto de trabalhar e divertir-me noite fora. Detesto levantar-me cedo. O chocolate é uma perdição. Em contrapartida, não como batatas fritas nem fritos em geral, nem ‘fast-food’, abuso dos vegetais, dos grelhados, da água e nunca bebo álcool sem ser em momentos de lazer noctívago. Deus me livre de experimentar drogas como a cocaína, pois era capaz de gostar; Sim, porque sou uma pessoa excessiva e sim, sinto-me atraída por pessoas excessivas. Compreendo os que as condenam, sobretudo os que padeceram e padecem da impotência humana face ao corpo que deixou de funcionar e não deixa viver a alma no seu pleno. No entanto, continuo a respeitar os excessos e os excessivos. Frank Sinatra é um desses. Há um episódio da sua vida que relata a ida dele ao médico, numa fase em que as entranhas já não condiziam bem com a sua pose e os seus encantadores ‘blue eyes’. O ‘doc’ começou logo por dizer que ele tinha de deixar de fumar, beber, etc, etc. Sinatra virou-se para ele e disse: Acho que o doutor não é médico para mim. Virou costas e morreu como e quando tinha de morrer.

Há uma parcela da nova geração que parece ter-se dado conta que há um património importante a preservar – a saúde. Na televisão, no cinema, na publicidade (essa coisa que está sempre “à frente”) é a palavra saudável que vinga. Ainda bem. No entanto, esquecem-se que os piores excessos são por vezes aqueles que não se ingerem nem se praticam, mas que se pensam. Mau é estragar a nossa mente com sonhos impossíveis, passados não resolvidos, obsessões pela perfeição e pelo enquadramento em ideais que alguém se lembrou de impor... esquecendo-nos de viver. Tão simples como isso, viver. Nem que seja em excesso.

7.12.04

Post de iluminação

Depois de uns posts adolescentes impõe-se que fale agora de coisas sérias... Ouvi dizer. A situação política do país é grave e a blogosfera iluminada deve intervir. Deve? Bem, já que estamos em época de “luzes” e que eu até andei na Nova (um convencionado antro de iluminados) decidi dizer uma ou duas coisas “sérias”:

Há quem julgue que pensar a política é falar sobre intrigas palacianas, partidos, eleições e partidários. Não é. A política é uma arte quotidiana. Saia ela à rua, fique em casa, beba uns copos ou vá ao cinema. Política será sempre convencermos os outros do que fazemos, ou não, podemos simplesmente dispensá-los dessa investida, que ainda assim estaremos a fazer política.

Há quem pense que é muito importante ouvir debates, onde os comentadores de serviço se divertem, mesmo em cima do país e do nariz dos portugueses a jogar ao Monopólio e ao Risco: “Ele ainda tem trunfos, ele ainda tem apoios e pode dar a volta por cima desta crise, ele saiu muito mal desta história, tem de adoptar outra estratégia...”. Eu também os oiço de vez em quando, mas acho muito mais importante o contributo para a história de Portugal (se é que ela ainda interessa a alguém) das “bacoradas” que escuto da boca das gentes desvairadas que andam à toa neste tabuleiro rectangular, que ainda é uma nação. Os peões de serviço já não sabem onde ir buscar “ases” para continuar em jogo, enquanto os teóricos televisivos se divertem na mesa de apostas e ensaiam uma espécie de “stripp poker”.

Agora não me lembro de mais nenhuma coisa séria para dizer. Quando me lembrar digo, mas se não o fizer estarei ainda e sempre a fazer e a pensar a política. Não me faltam fusíveis.

6.12.04

Era uma vez

Se há bloguice apetecível e recorrente é o efeito de contágio. Daí até à desinibição (quase) total é questão de uma meia dúzia de posts. O Claque Quente entrou em maré de bar aberto e eu bebi mais do que a conta de gin tónico (isto são tudo metáforas meus amigos para dar aquele ar… ). Posto isto e para quem possa interessar aqui vai:

“Era ontem, hoje, amanhã e noutra vida”:

Johnny Depp – (grande novidade…) Gótico, mânfio, polícia, mau feitio, pirata, coberto de chocolate, amargo, doce, com maquilhagem, com tatuagem, sem maquilhagem, envolto num nuvem de fumo, com absinto, com “pancada”, sem “pancada”… De qualquer maneira, mas sempre sem a Vanessa Paradis atrelada, se faz favor. (Tirando a Kate Moss, o JD tem tido sempre muito mau gosto nas companhias femininas, mas ninguém é perfeito)

“Era só às vezes (muitas, vá lá) porque deve ser muito cansativo e a mãezinha que o ature”:

Robbie Williams – A nuca e o pescoço mais apetecíveis do mundo. Olhos atrevidos. Glúteos dignos de uma escultura. Mas gosta, em demasia, que lhe afaguem o ego e eu não tenho muita paciência para isso. É lindo quando fuma em palco. Gostava que cantasse só para mim, depois oferecia-o às minhas amigas (são pelo menos 3).

“Era sempre a pensar que ele pertence à brigada de narcóticos ou que planeia um golpe de estado”:

Benicio del Toro – “Oh… Porque tens umas olheiras tão grandes? São para te pôr maluca!” Era assim que começaria o nosso guião. O resto são cenas de filme. Belas cenas…

"Era se me deixassem brincar aos polícias e ladrões” :

Mel Gibson, Bruce Willis, John Travolta - Eu era a ladra e eles os polícias…

“Era uma novidade”:

Rodrigo Menezes – Bem sei que pareço uma cachopita com síndrome “Morangos da TVI cheios de corante” mas … Todos temos uma fraqueza. Ainda por cima o rapaz agora é da Judiciária e anda armado. Gosto dele. Isto não é normal. Eu sei.

“Era só para saber se é verdade”:

Miguel Sousa Tavares – Será que as más línguas falam verdade? Os boatos que ouço causam-me tristeza e não quero acreditar. Gostava de tirar isso a limpo, pronto.

“Já eram”:

Paul Newman – O único homem bonito que envelheceu mal. Uma pena. Guardo no coração, desde adolescente, o seu desempenho em “O Prémio” e no “Gata em Telhado de Zinco Quente”. O tempo não volta para trás, mas este tipo valia bem o esforço.

James Stewart – O típico homem seguro e altivo, sob o qual se esconde tanta insegurança, e de quem as mulheres fazem tudo o que querem. Eu é que já não vou a tempo de fazer nada…

Robert Redford – Já teve melhores dias. A placa dentária e a Sónia Braga deram cabo dele. Ainda assim… Vá lá, vá lá!

David Mourão Ferreira – Escreveu “Um amor feliz”. Está tudo dito.

“Era para aqueles dias de romantismo agudo”:

Colin Firth – O verdadeiro gentleman. A piada estava em virar-lhe o mundo do avesso.

Joseph Fiennes – O irmão é de fugir. Este é mais de fugir com ele num cavalo branco. Nunca vi homem que ficasse tão bonito de ‘collants’.

“Eram suplentes”:

Hugh Grant – Este estupor fica muito bem de camisa branca.

Dougray Scott – Tem uma irresistível cara de mau.

George Clooney – Porque sim.

Brad Pit – Porque começa finalmente a envelhecer.

“Era uma vez”:

Lobo Mau – Nunca me convenci do final daquela história. Não me conformo com a injustiça de que foi alvo este sujeito. A Capuchinho Vermelho deve sabê-la toda, a história. Cá para mim divertiram-se à grande e naquele dia ela vestiu o melhor fatinho…

“Era nunca”:

Joaquim de Almeida – Péssimo actor. Péssima dicção. Credo. Mais não digo que o homem é conterrâneo e andou lá fora a lutar pela vida.

Pedro Santana Lopes – Alguém me explica o que é que algumas mulheres vêem nele? Deve ser isso… Andam todas a tentar descobrir, para não ficarem atrás umas das outras. Só pode.

José Sócrates – A voz, o nariz, a roupa, a pose… O homem parece uma manta de retalhos. Nada é dele e ele nem se sabe bem o que é. Alguém, por isso, me explica o que é que algumas mulheres vêem nele?

PS 1 - A lista ficou maior do que pensava, mas ainda bem que escrevi no imperfeito “era”, caso contrário onde arranjaria eu tempo para tudo isto?

PS 2 – Este ‘ranking’ não inclui homens cá de casa porque o gin tónico não chegou para tanto…

4.12.04

Depp(endente)

O primeiro passo para a salvação é admitir a dependência, não é o que dizem? Eu admito, mas não quero ser salva. Ainda por cima vou agora dar um passo maior do que a perna: O filme só estreia no dia 30 deste mês e já ruma aos Óscares. Johnny Depp está em grande. Eu estou a ver se resisto à pirataria...

2.12.04

Cinemaníaca

Ainda a propósito do post anterior, sobre o filme da Bridget Jones, estive para aqui a pensar que uma das razões porque amo o cinema é precisamente a sua capacidade de subverter o tempo, projectando histórias arrancadas da ordem temporal das coisas, numa divertida “sacanice” com a passagem das horas que marca a nossa existência. Está lá tudo, num filme. O princípio, o meio e o fim. A palavra ‘fim’ representa a supremacia da sétima arte, com ela acreditamos que tudo acaba, ou melhor, tudo tem uma resolução, mesmo que não seja a melhor, mesmo que permaneça a dúvida... No cinema até a dúvida é um fim. A dádiva do cinema é tanto maior quanto o engenho que deposita na construção de personagens e enredos, que perduram no tempo apesar de todos terem tido um final. Assim de rajada, lembro-me de pelo menos uma dúzia de filmes que perseguem a eternidade – “O Padrinho”, por exemplo, é um manancial de “falas” a que quase todos os homens gostam de recorrer uma vez ou outra, a história do casal de “Eyes wide shut” de Kubrik serve para todas as ocasiões... E podia continuar horas a fio neste exercício. Apesar de tudo, acredito que o cinema é uma arte contrária à vida, alimenta-se dela, mas prega-lhe sempre uma valente rasteira, esfregando no seu rosto imprevisível ‘o’ guião com que nos amarra ao ecrã. É que nós não podemos visionar a nossa vida, pois não? Nem podemos repetir as cenas até a coisa ficar perfeita, não é? E, no entanto, um e outro, cinema e vida, são de uma beleza esmagadora, precisamente por aquilo que os divide – o tempo. Um real, o nosso, o outro imaginário e construído. Numa clara aproximação existem filmes como o recente “Lost in Translation”. Aí abaixo, num comentário ao post anterior, foi apontado como tendo o final perfeito. Eu percebo porquê. Não sendo uma obra maior da minha lista, o seu final é uma parábola do permanente advento que é a vida. Termina com um segredo ao ouvido... e um sorriso!