11.12.04

Excessos

É demasiado fácil cairmos em excesso. O abuso do corpinho, testando os seus limites, sempre foi razão para a queda de impérios. Álcool, droga, tabaco, sexo, comida, trabalho, podem ser sinónimos de auto destruição, sempre que usufruídos em doses “pesadas”. Inexplicavelmente sempre compreendi as pessoas excessivas, não tanto aquelas que deliberadamente cavam a sepultura, mas aquelas que dão uma no caixão e outra na sanidade mental, para se manterem vivas. Aqui há uns tempos um amigo andou a anti-depressivos (ele mais uns bons milhares de portugueses). O médico disse-lhe ‘off the record’: O meu amigo faça de conta que eu não lhe disse isto, mas eu se fosse a si não deixava de fumar agora. Está claro que o amigo não deixou. Fez bem.

Eu também gosto de fumar, é cá uma mania que eu tenho. De vez em quando bebo bem o meu gin tónico. Gosto de trabalhar e divertir-me noite fora. Detesto levantar-me cedo. O chocolate é uma perdição. Em contrapartida, não como batatas fritas nem fritos em geral, nem ‘fast-food’, abuso dos vegetais, dos grelhados, da água e nunca bebo álcool sem ser em momentos de lazer noctívago. Deus me livre de experimentar drogas como a cocaína, pois era capaz de gostar; Sim, porque sou uma pessoa excessiva e sim, sinto-me atraída por pessoas excessivas. Compreendo os que as condenam, sobretudo os que padeceram e padecem da impotência humana face ao corpo que deixou de funcionar e não deixa viver a alma no seu pleno. No entanto, continuo a respeitar os excessos e os excessivos. Frank Sinatra é um desses. Há um episódio da sua vida que relata a ida dele ao médico, numa fase em que as entranhas já não condiziam bem com a sua pose e os seus encantadores ‘blue eyes’. O ‘doc’ começou logo por dizer que ele tinha de deixar de fumar, beber, etc, etc. Sinatra virou-se para ele e disse: Acho que o doutor não é médico para mim. Virou costas e morreu como e quando tinha de morrer.

Há uma parcela da nova geração que parece ter-se dado conta que há um património importante a preservar – a saúde. Na televisão, no cinema, na publicidade (essa coisa que está sempre “à frente”) é a palavra saudável que vinga. Ainda bem. No entanto, esquecem-se que os piores excessos são por vezes aqueles que não se ingerem nem se praticam, mas que se pensam. Mau é estragar a nossa mente com sonhos impossíveis, passados não resolvidos, obsessões pela perfeição e pelo enquadramento em ideais que alguém se lembrou de impor... esquecendo-nos de viver. Tão simples como isso, viver. Nem que seja em excesso.

2 Comments:

Blogger mjm said...

Apeteceu-me botar por aqui faladura, apenas para concordar parcialmente contigo quanto à propensão para as atitudes saudáveis que se 'vendem' por aí...
Não considero -de todo!- sensatas as missivas que proliferam, exacerbadas da sua justa proporção de bom senso. O culto da imagem faz com que seja muito atractivo ser-se saudável, e é fácil pegar-se nesse conceito e subvertê-lo em produto comercializável, afastando-se do bom senso intrínseco para o 'excesso saudável'...
À conta desses perfis bombasticamente vendidos, temos um novo subgénero de 'saudáveis': os maníacos do 'isso não, que faz mal!' e novos-adictos da escravatura da imagem...
Enfim, faça-se a média e adopte-se a ironia estatística do estado morno: um pé numa tina de água a ferver e outro numa de água gelada e conclua-se estar-se a uma temperatura média... É assim que eu escolho ser saudável :-))

ps - psiuuu.. quem é que consegue ficar-se pelo primeiro gin tónico? cheers!

6:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há quem diga que estar vivo é o contrário de estar morto... pois eu cá defendo (embora quase nunca o pratique) que estar vivo é o contrário de estar "sobrevivido"... ou seja, para q "sobreviver", se não nos podemos dar ao luxo de viver?
Venham os excessos pois... há que usar e abusar antes de irmos para a cova, digo eu...
Mas como dizia o saudoso Frei Tomás... façam o que eu digo, e não o que eu faço!

7:01 da tarde  

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