26.6.05

E depois do adeus

... não se livram de mim.

Não é o sol na moleira. Não é a falta de pachorra. Não é a preguiça. É apenas a vida, filha das esquinas, que anda a 100 à hora. Que saudades do meu código. Porra. De verdade.

Às vezes digo adeus, mas não agito a mão, nem faço corrente de ar. Acreditem que sou apenas eu que me reparto em outros lugares.

Hoje vim a casa e pela primeira vez, ao fim de pouco mais de um ano de blog, senti pena de não ter cá estado nos últimos tempos para receber as visitas.

O frigorífico está vazio, a garrafeira uma pobreza e as aranhas fizeram um festim.

Apesar de tudo... Olhem já estive pior.

16.6.05

Imaginação cretina

A imaginação pode dar muito jeito na infância, quando na escola somos nós que escrevemos as melhores composições e as lemos em frente da turma. Pode ser do melhor quando em adolescentes precisamos de dar umas escapadelas fora de horas e das regras paternais. É da maior cretinice quando em adultos nos ultrapassa em excesso de velocidade num protótipo cinematográfico, conduzido por um duplo.

Eu passo a vida a ser multada, com o pé no acelerador.

Pensamentos in vitro 18

O sexo não tem paternidade nem maternidade. O sexo não tem primos, irmãos, tios ou avós. O sexo vem-se tão só por si. O sexo é dos órfãos.

7.6.05

Até amanhã

Contrariando previsões menos optimistas, confirma-se o ditado que diz que 'amanhã é outro dia'. Mas não encontrei nada sobre depois de amanhã. Vai ser preciso viver para saber.

O Clark59, que assina o Claque Quente, um blog que acompanho e que me acompanha desde o início d'O Código, disse-me num comentário aí abaixo que morreu.

Emudeci. Espantei-me. Entristeci. Sobretudo entristeci.

Clark, o que quer que lhe diga que não venha a cair em cretinice ou, no que é o meu maior fantasma da escrita, em conversa de treta alimentada pela circunstância?

Sabe que eu, e julgo que muitos outros, lhe vão sentir a ausência. Sabe que às vezes me apetece espancá-lo pelo abuso das suas emoções que faz palavras, mas que elas são parte do seu charme reguila e canastrão também sabe, ou não? Que raios homem! Você faz falta.

Só me descansa o facto de ter escrito no último post (?) que "vai ser preciso viver para saber". Por isso, só lhe digo até amanhã.

Eu também morro às vezes. Hoje por exemplo já fechei o caixão, mas sabe de outra coisa? O segredo é dizê-lo muito baixinho... Quando voltar grite. Só assim a morte faz sentido.

Beijo.

Tirem-me as armas da mão...

Sem vítimas a confessar, por enquanto, ando com uma tendência para desportos de tiro ao alvo que começa a adquirir proporções xl.

No último fim de semana experimentei um que já há muito tempo incluira na minha lista de tarefas de lazer - o tiro com arco.

Olhem, foi na mouche, é o que vos posso dizer!

Depois da esgrima, que é caminho que já admiti nunca vir a percorrer por várias razões, o tiro com arco devolveu-me a esperança de me atirar com qualquer coisa, contra qualquer coisa.

A gana ainda me vai levar em breve a entrar numa carreira de tiro e a experimentar aqueles óculos amarelos...

A sensação que vos consigo definir é esta:

Eu, uma arma, um alvo. Eu, uma prótese assassina, uma vítima. Eu, um adereço, um objectivo possível de cumprir a curto prazo. Eu, uma coisa, e outra coisa. Um ménage a trois, portanto. E eu é que mando.

2.6.05

Caminhos de Santiago 2

Esgrima

É arte. É disputar o ar com o outro a corte e passo elegante, astuto, atento, extenuante. É belo.

Feira do Livro

Nunca percebi a agitação à volta da Feira do Livro. Para mim não passa de um passeio dos tristes.

O ano passado foi o último, não me apanham lá mais de livre vontade. Dêem-me uma livraria, um senhor como o da Ferin para me aturar, umas prateleiras para eu vasculhar, um balcão para eu me encostar à vontade e um pó para eu snifar entre quatro paredes e está bem.

Para bater perna vou caminhar na praia e se for ao Parque é para estar na esplanada lá do Alto, se calhar a ler um livro.

Stands, barraquinhas de gelados, sessões de autógrafos em série e colóquios para encher o programa de verbo? Poupem-me.

Adulta à força

"Bom dia! Sente-se se faz favor".

Precisei mesmo de me sentar.

Simpático, sorridente, bronzeado, esterelizado como as ferramentas que estava a um minuto de me enfiar pela boca dentro, o meu último dentista olhou-me divertido do alto dos seus vinte e poucos anos.

Já tenho médicos mais novos do que eu! O choque foi maior do que a conta do consultório.

O Dr. T é excelente, eu é que ainda penso que estou na primeira idade adulta. O Dr. T também é adulto, mas é mais novo. Há que viver com isso.

O lugar do morto

Mais um teste da treta.

Nesta série não quero eu ser ninguém. São bons de ver, mas não de parecer. Entre aqueles marados, prefiro mesmo ser a morta. Bolas.

1.6.05

Caminhos de Santiago 1

Inauguro hoje uma rubrica sobre os caminhos que jamais poderei percorrer.

Finalmente ganhei coragem e abri a porta que faltava no meu labririnto - a porta do não.

Não, nem tudo o que sonhaste fazer é possível. Não, tu não és invencível nem capaz de fazer tudo, disse-me a porta entre o ranger da velhaquice. A porca.

Resolvi fechá-la a quatro trancas, que já começaram a enferrujar, e inauguro hoje uma galeria de troféus perdidos.

Não há razão para deles não me orgulhar. Não fiz, mas imaginei que sim.

O primeiro de todos:

Ser agente do FBI

O que plantou a semente do mal foram os filmes americanos de detectives e de gente que nunca dorme à procura de alguém, algo, alguma e qualquer coisa que desvende um corpo mutilado, um fantasma mal humorado, uma criança alucinada que fala com mortos... por aí. Confesso que os Ficheiros da Scully e do Molder acabaram com o resto de decência terrena que ainda havia em mim; a partir daí comecei a achar que nasci para descobrir os sub-mundos e os além-mundos, porque este onde vivo dá-me seca.

"A quem é que ela sai?", pergunta frequentemente a minha mãe... Saio à família, mas sou arraçada de David Palmer Lynch Laura, tenho os sentidos do Shyamalan, uns trejeitos de Anjo de Charlie, a ironia do detective Colombo quando calha, umas célulazitas do Poirot, uma queda para o vício do mistério do Sherlock, o sangue frio da Scully para vasculhar todas as tripas de um corpo alheio e a obsessão pela verdade do Molder... Dava uma perfeita agente do FBI.

Tenho ainda um super poder: Sou tão chata, tão abelhuda, tão capaz de provocar quebras de tensão, que seria exímia a interrogar suspeitos e testemunhas... Vencia-os pela tortura da minha presença.

O mundo perdeu uma grande agente do FBI. Até estou arrepiada.

Post curto

- Os teus posts estão a ficar demasiado grandes! Estás a ser seca!

Raios os partam. Nunca ninguém está contente.

Pensamentos in vitro 17

Escreve bem quem melhor disfarça a sua ignorância. Escrever pode ser um atrevimento.