27.12.05

2005 short cut

Foto da stars-on-7-inch

Em 2004 venderam-me a ideia que 2005 seria um ano de grandes mudanças. Anunciaram-me o fim de um ciclo de sete anos e águas movediças. Eu acreditei. Acredito em tudo o que me dizem no final de cada ano, essa é que é a verdade. Oiço tudo o que é previsão astral e económica. As taxas de juro vão subir, que chatice. Em contrapartida, o meu horóscopo é do melhor que há, com grandes mudanças. A palavra mudança é a maior rasteira, aviso. Com ela ficamos pendentes de um ano em cheio, mas aos primeiros dias de Janeiro já lá vão as expectativas e entramos logo na grande roda da sorte do ano presente, que já vai cheirando a velho, à espera que chegue logo o futuro ano novo... e a única mudança que realmente se assinala é a da página que se vira em cada mês, cheia de fins de semana e de datas vividos sôfregamente, mais rápido que a inevitável passagem dos dias. "Nunca mais é sábado, nunca mais é a festa da X, nunca mais chegam as férias".

E assim, 2005 foi o que muito provavelmente o 2006 irá ser - um ano rápido. Talvez o mais rápido de que tenho memória. Mas a memória, segundo dizem, é curta. É por isso que já nem me lembro muito bem das grandes mudanças que vivi.

26.12.05

espírito de Natal VIII

Aderir ao consumismo ritualizado ou assumir-me como um pulha. São estas as opções natalícias.

in avatares de um desejo

23.12.05

espírito de Natal VII

Hoje disseram-me para não me preocupar, porque no Natal ninguém vai rebocar-me o carro.

É que eu não vim às compras. ESTOU A TRABALHAR, OK?!

22.12.05

espírito de Natal VI

No fim do jantar de Natal do gabinete fomos meia dúzia brindar com uns licores para um bar nada de especial, mas que estava à mão. Na mesa "à la irish pub" acabou por se erguer uma fronteira invisível entre sóbrios, mas pouco, e nada sóbrios, mas muito mesmo.

Na impossibilidade de manter um diálogo entre os dois lados, trégua que nem sequer a má-língua própria dos finais de jantares natalícios laborais conseguiu declarar, resolvemos pelo meu lado, o dos sóbrios mas pouco, darmo-nos à mania de fazer contas ao dinheiro dos outros.

Concentrámos todas as nossas ânsias no próximo ano e naquilo que ele poderá ter de melhor - o prazer de sair de Portugal. Ao início ainda só falávamos de férias, Veneza em Outubro e uma certa praça nos arrebaldes de Florença que ninguém visita por estar fora dos tradicionais roteiros turísticos... Depois, à medida que os copos iam vazando, com os líquidos foram-se também os pudores e começámos a engendrar formas de captar heranças de familiares que nem sequer conhecemos para reunir verbas que nos permitissem abandonar a pátria e viver idilicamente no estrangeiro, mas à grande e à francesa. No caso, seria mais à grande e à italiana e/ou (dependia da herança) à americana (versão Nova Iorque).

O espírito do Natal do futuro estava entre nós. Ao longe, no fundo do copo, uma bela villa na Toscânia chamava por nós.

Hoje acordei com uma valente dor de cabeça. O espírito do Natal do presente chamou-me à realidade.

20.12.05

espírito de Natal V

Lembras-te? Aquela coisa irritante de recebermos dos amigos prendas «para o casal»! No princípio era romântico. Qualquer prosaica prenda parecia uma peça mágica porque nos transformava num «casal». Depressa se encheu a casa de inutilidades que só mais tarde percebemos não destoarem do romantismo que tínhamos perdido(...)Não podes saber ainda, claro, mas este vai ser o último Natal que vamos passar juntos. Feliz Natal, meu querido!

in baby lónia

espírito de Natal IV

Não deixa de ser irónico que as mais populares canções de Natal tenham sido escritas e compostas por judeus. A maior parte delas vêm dos Estados Unidos, o país onde, tal como hoje o conhecemos, o Natal foi inventado, na cidade de Nova Iorque ao virar de 1900.

in Rua da Judiaria

espírito de Natal III

A quadra festiva em curso serve, existencialmente falando, para nos recordar que a vida se divide em três partes: aquela em que esperamos pelo Pai Natal, aquela em que esperam que nós substituamos o Pai Natal e, finalmente, aquela em que já temos idade para ser o Pai Natal.

in Tatarana

espírito de Natal II

Não percebo. Cada vez que anuncio a minha paixão pelo Johnny Depp cai-me tudo em cima, menos ele claro. Só por causa disso fui aos meus arquivos à procura do número de posts com referência ao meu actor preferido. Assim por alto contei apenas cinco. Está na altura de fazer outro. Ah... E não arranco o poster da parede, pelo menos até ao fim do ano.

espírito de fim de ano

Ideia para 2006:

Fazemos de conta que nada aconteceu até aqui e começamos tudo do princípio.

in O Boato

Gostei. Os ovos de Colombo saem sempre bem.

espírito de Natal

Ninguém até agora me levou a mal por ter escarrapachado esta imagem no meu gabinete. É verdade que o rapaz que me diz "Time is Precious" no anúncio do relógio Mont Blanc não chateia ninguém e está muito juntinho à minha secretária. A publicidade é uma boa publicidade... e é só por causa disso que agora estou a olhar para ele. Pelo menos até ao fim do ano, depois são capazes de levar a mal.

envergonhada mas pouco

Esta também fez um ano de blog no dia 17, mas como tem vergonha não disse. Batonzita, batonzita... Blogger que é blogger festeja os aniversários, mesmo que seja uma grande pirosice.

um ano de respostas

A Lolita comemora hoje um ano de Respostas Paralelas. Como ela mesma diz, iniciou o blog para responder às inquietações dos que lhe são próximos e que nem sempre a entendem. Eu acho que a Lolita, como quase todos os que se meteram na blogsfera como autores, o fez essencialmente para se entender e responder a si própria. A manutenção de um blog estrutura-nos e é um excelente spot de equilíbrio.

Não sei se é devido ao blog, mas neste último ano cresceste muito... De Lolita todas as mulheres têm um pouco, mas de R. só algumas.

a minha manhã com o Rodrigo

O Rodrigo já ia meio desconfiado. Quando a banda começou a tocar e entraram os anfitriões, coloridos e estridentes, a exigir bons dias e muitas palmas, o Rodrigo ficou com um ar sério e inquietou-se na cadeira. Depois entraram os artistas que iriam animar a manhã – os palhaços, os contorcionistas, os domadores... O Rodrigo pediu para vir para o meu colo. A seguir uma bela jovem ucraniana dependurou-se num arco junto ao tecto e fez as mais arriscadas acrobacias. Eu sentia o Rodrigo tenso no meu colo, com as mãozinhas agarradas à minha perna com medo que eu fugisse. Eu, realmente, queria fugir dali para fora... Olhei para o meu afilhado e vi que os olhos dele não brilhavam de excitação, mas sim de medo e tristeza. O Rodrigo estava deprimido. “Estás a gostar?”. Acenou a cabeça negativamente. “Queres ir embora?”. Pôs logo os braços em acção para vestir o casaco. Dois minutos depois corria alegre pela Rua das Portas de Santo Antão. O Rodrigo, quem diria, é como eu, acha o circo um espectáculo muito triste. Ele não consegue ainda verbalizar as suas emoções, mas o que ele sentiu foi pena dos artistas. E é pena, esse sentimento infame, que eu não consigo evitar sempre que vejo um cartaz ou vislumbro as caravanas de uma companhia de circo. Para curar a angústia de ambos, enfiámo-nos na FNAC a ver livros de animais e o filme Madagáscar que finalmente sacou um sorriso ao Rodrigo.

19.12.05

o que é para mim o diabo

A minha querida Baton ficou perturbada com o filme "O Exorcismo de Emily Rose", e logo de seguida bombardeou-me com questões sobre o actor principal do filme - o diabo, o mal na sua mais intrigante e exibicionista forma de manifestação.

Não vi o filme, mas sei que se trata da história de uma rapariga, a Emily Rose, possuída pelo diabo. Não quero entrar por aí... É um caminho demasiado sinuoso e serpenteado por experiências alheias, vividas por gente em quem confio, para ser retalhado aqui sem que caia na falta de respeito por elas e por gente que se aplica no conhecimento sério e científico destas questões.

O diabo em que acredito está na mesma proporção de existência do Deus que venero e em quem deposito a minha fé. Um não existe sem o outro, e ambos saberão disso.

O diabo em que acredito é um diabo que sinto, assim como sinto Deus.

Sinto-o, ao diabo, quando me assaltam a inveja e o rancor. Pressinto-o quando me tentam o egoísmo e a falsa ilusão de ser só eu contra um mundo injusto, "ai que esta vida é uma porcaria e eu sou uma desgraçada". Cheiro-o quando começo a germinar sentimentos de vingança, esquecendo-me que o mal não se combate com o mal. Tento ignorá-lo descaradamente se me faço desentendida e não pratico o bem quando tenho todas as oportunidades para isso.

Assim é o diabo. Sorrateiro.

Deus está no inverso de tudo isto. Mas ambos vivem em nós. Nalguns casos, para os quais não encontro justificação digna de lógica, o diabo entra à bruta nas pessoas e engole-lhes a alma. Não sei o que dizer... Para mim, temos o diabo no corpo quando não temos paz interior. Essa é a sua mais vulgar conquista.

Para mim, por último, o mundo do diabo é um copo meio vazio e o mundo de Deus é um copo meio cheio. Mas o mundo é dos dois. Felizmente num caso e infelizmento no outro, nenhum chegou ainda a transbordar o copo.

dar nome

A única publicidade que tem verdadeiramente efeito em mim como consumidora é a impressa. Raramente um anúncio televisivo consegue atingir-me. Quando muito perco-me na imagem e no som, mas não consigo fixar a marca ou até mesmo o produto que vende. Sou, por isso, um péssimo alvo, ou então sou muito exigente, e dou por perdidos muitos dos milhões gastos em segundos de horário nobre.

Mas um bom anúncio numa revista leva-me à certa. Garanto-vos que comprei o Eternity Moment só por causa da imagem da Scarlett Johansson. O sorriso, o olhar, o abraço, a cor... Eu sabia que aquele era o momento que eu queria. O cheiro só o senti quando à saída da perfumaria desembrulhei o pacote e me vaporizei da ponta do cabelo ao tornozelo. E não me desiludi. A boa publicidade é aquela que dá a identidade ao produto, que o transforma em nome de coisa.

15.12.05

in vogue

Acabei de comprar a edição de Janeiro da Vogue. Todos os meses dia de Vogue é dia de festa. Logo à noite, sento-me a ver as tendências, as dicas, as produções de moda, as últimas novidades no mundo da cosmética e uma série de acessórios e peças de luxo inacessíveis à minha bolsa.

Como todas as revistas femininas da mesma estirpe, como a Elle e a Máxima, que também vou consumindo mas com baixa fidelidade, a Vogue (que me dizem vende pouco) mostra-me o melhor que há no mundo do supérfulo e da manutenção da eterna juventude. E eu gosto do que é supérfulo e inatingível.

Não é o meu ópio, não é um sistema alternativo de auto-flagelação, não é um indutor de frustração. Para mim a Vogue é uma forma portátil, bem paginada e enformada num papel que dá gosto desfolhar, de subscrever a beleza artificial e tudo o que ela pode fazer pela beleza natural da mulher.

Mais do que as reportagens destas revistas, que são de alguma maneira repetitivas e frequentemente cheias de chavões e de ideias feitas cuja autoria se perdeu no tempo, são as roupas, os sapatos, as maquilhagens, os cabelos e as peles perfeitas e luminosas, impressos naquele papel brilhante e grosso que satisfazem a minha gula incontrolável pelo que é belo.

Perguntam-me se não fico triste por não poder comprar a maioria daqueles vestidos de alta costura ou por na minha vida de trabalhadora por conta de outrém não haver sequer cabimento mental para a grande parte daqueles visuais. Não, não fico nada triste.

Eu também não posso ter em casa um quadro do Renoir ou do Monet, mas gosto de saber que eles existem nos museus e nas salas de estar de alguns milionários. Da mesma forma que fico muito feliz por não ter nascido no Iraque ou numa favela do Brasil, quando leio uma reportagem sobre a penosa existência dos seus habitantes.

O feio e o belo existem. Nem um nem outro devem ser invisíveis aos nossos olhos.

14.12.05

reclamação

Chamaram-me a atenção para o facto de o meu blog ser exclusivamente hetero. Já tinha pensado nisso, só falo de relações homem/mulher ou na perspectiva heterosexual das coisas. Mas há gajas que gostam de gajas e gajos que gostam de gajos, eu sei. O problema é que, infelizmente (juro), eu não conheço nenhuns, só de nome.

Seja como for, gosto de pensar que os meus posts são "tamanho único", one size fits all.

My Fair Lady vs Mrs.Robinson

Ela voltou! Em força, para me desafiar:

Porque na maioria das vezes não é a mulher mais velha que se comporta como uma jovem, é o rapaz que se comporta como se fosse mais velho.

Leiam-na. Eu sofro de My Fair Lady ela padece de Mrs. Robinson. Ela é o outro lado do post "eu e os rapazes mais novos" aqui mais abaixo.

Só para provocar... Nesse filme o jovem fica com a filha dela não fica? A "Miss Robinson".

in and out

- Eu gostava de chegar a casa e encontrar a minha mulher à espera num banho de espuma, rodeada de velas...

- Escusas de pensar nisso. Já sabes que eu não sou mulher dessas coisas. Já te devias ter habituado.

A conversa é seca, mas real. Assisti-a há uns tempos entre amigos, numa daquelas ocasiões divertidas em que a intimidade dos casais se revela inocentemente e sem pudores.

Recordo-a agora para retomar o tema do post meias vs collants.

As mulheres defraudaram as expectativas masculinas, é verdade, mas sobretudo defraudaram as suas próprias expectativas.

A lingerie não se vê, mas sente-se. Não sei de quem é a autoria desta máxima que justifica, em parte, o custo elevado dessas peças íntimas de qualidade. A maioria das mulheres que conheço dá de bom grado 100 ou 150 euros por uns jeans de bom corte, mas jamais daria o mesmo valor por um soutien ou um body La Perla. Não se vêem. Ou seja, vestimo-nos para os outros ou vestimo-nos para nós com os outros como ponto de referência? Ou vestimo-nos simplesmente para nós e os outros que nos tomem como bem entenderem? Uma coisa é certa, ninguém se veste sozinho.

Puxando a corda ao máximo, arriscando-me a estabelecer uma relação abusiva, apetece-me dizer que as mulheres que investem numa boa e sexy lingerie estão a contrariar um mundo que cultiva a aparência exterior e estão mais seguras de si e da sua feminilidade.

Qual é a relação neste post entre o banho de espuma e a lingerie? No pouco tempo que dispensamos à intimidade e ao prazer mais primário, mais chegado à nossa pele. A vida real é a desculpa perfeita.

A lingerie não se vê, mas sente-se. Na vida real vemo-nos... mas sentimo-nos?

gostei desta. obrigada

Ele disse-me:

- O teu blog não é muito lido, mas é muito bem lido.

Os meus leitores são o máximo.

13.12.05

meias vs collants

Parece que este artigo está em vias de extinção. As mulheres que usam meias são um mito.

Quem me chamou a atenção foram eles:

As mulheres preferem os collants... Eu compreendo a tristeza infantil do Jeff, o tarado sensível desta minha série de culto, que ainda acreditava, até ao episódio de ontem, que todas as mulheres calçavam meias.

Pois é. Jeffs de todo o mundo, não sei o que nos aconteceu... Mas amanhã eu prometo que vos conto umas coisas sobre roupa interior. Até lá durmam bem e sonhem com o Verão, que não exige nem meias nem collants (embora eu use meias no Verão... Isto é muito complicado, eu sei).

11.12.05

no limbo fico eu

Cada vez menos informada pelos órgãos oficiais da religião católica, por mea culpa que lá não tenho ido, venho a saber pela revista "Única" do Expresso deste sábado que o Papa Bento XVI aboliu o limbo.

Para os ainda menos informados, o limbo é aquele sítio sem sofrimento nem glória, para onde iriam, em tempos, as crianças não baptizadas, mas ainda assim inocentes.

Esta notícia devia alegrar-me. A Igreja Católica está a evoluir (!), mas apenas deu argumento à suspeita que dela me tem afastado: as verdades absolutas da religião que me viu crescer, ensaiadas temporalmente, valem por meia dúzia de pensadores sentados no Vaticano. A evolução da Igreja Católica que muitos reclamam, eu incluída, não é esta.

voltei à Fábrica

Depois de longa ausência, os cinéfilos metidos a sabidos da Fábrica Lumière têm vindo, aos poucos, a regressar aos trabalhos.

Hoje fui eu.

Vão lá e deixem as vossas opiniões. Afinal, nós os portugueses, além de termos todos a mania que temos um escritor, um poeta, um espanhol (a versão anti também conta), um cantor de fado (mesmo que não apreciemos o género) dentro de nós, também temos sempre uma opinião sobre o filme que vimos no outro dia e sobre o actor cujo nome nem sequer lembramos (os portugueses são péssimos com nomes).

depois da Expo, do Rock in Rio, do Dakar, dos MTV Europe Music Awards...

Segundo um estudo da União Europeia, Lisboa ocupa o 4º lugar, num ranking de 258 cidades europeias, nas idas ao cinema. À frente dos lisboetas, apenas estão os luxemburgueses, os parisienses e os belgas de Liége.

Quem diria? Mas o que mais me espanta é que Lisboa consegue o lugar neste Top 10 só com uma média de 9,29 idas anuais ao cinema! Só. O que me leva a crer que os outros europeus ou preferem o teatro, ou não têm tantos centros comerciais com 14 salas como nós (não têm de certeza, que isso é moda cá da nossa terra) ou gostam do sofá.

E há mais:

Nas visitas aos museus, Lisboa volta a surgir no ‘top-10’, ocupando a sétima posição, com uma média de 6,05 visitas/ano por residente, enquanto o Porto surge no 47º lugar, com uma média de 2,21 visitas. Já ao nível de literatura, Lisboa e Porto surgem entre as 10 cidades da União Europeia com um maior número de bibliotecas públicas - Lisboa, com 339, surge na segunda posição, apenas atrás de Londres, e o Porto, com 113, na sexta -, e Coimbra no 13º lugar, com 80.

Esta das 339 bibliotecas públicas em Lisboa é um dado que tenho de conferir com as minhas fontes...

informação útil

Aquela que parece ser ultimamente a maior dúvida de consumo dos meus amigos é: Compro um plasma ou um LCD?

Eu que não percebo nada disso e continuo com a minha Sony gigante analógica (que Deus a conserve) não resisto a avisá-los que hoje saiu no DN um artigo sobre os prós e os contras dos dois sistemas.

No final, ri-me com a fatalidade: "Em matéria de televisões, o futuro é plano".

9.12.05

cabelos compridos

Passados uns anos sobre a minha saída da Praceta do Xitol, nas idas à casa de amigos que os meus pais tinham conservado mesmo depois de mudar de concelho, comecei finalmente a perceber os olhares divertidos e a afabilidade paternal com que os meus vizinhos me cumprimentavam. Eu tinha sido, porventura, a criança mais estranha que ali tinha vivido.

Não era traquinas, não era especialmente simpática (como, dizem, sou hoje), não era a mais popular (isso foi mais tarde) e só os mais próximos sabiam que era aluna de quadro de honra(isso acabou mais tarde...). Era sim a mais limpinha e coquette das crianças da praceta. Só usava vestidos e saias, sapatinhos de princesa e carregava sempre uma mala cheia de tralha, muitas chaves, canetas, bloquinhos, batons que tinha estragado à minha mãe e que ela entretanto me tinha dado por impossibilidade de uso.

A única coisa que não batia certo no visual era o cabelo. Não tinha lacinhos, nem ganchos com malmequeres, porque a minha mãe insistia no tamanho curto, quase "à rapazinho". As idas ao cabeleireiro eram um suplício e até cheguei a sonhar com um salão que me acrescentasse cabelo (eram as extensões que eu já imaginava...). Não valia a pena. "Tens de cortar o cabelo que é para ele ficar forte". Palavra de mãe.

Imune às piadas dos outros meninos da praceta, influenciada pelas revistas e pelas cabeleiras fartas dos "Anjos de Charlie", comecei a adoptar uma peruca em pano. Atava à cabeça um avental curto da minha mãe, azul petróleo, daqueles que se usavam nos anos 50/60, sem peitilho, e assim andava pela casa e na varanda a pavonear-me. Nunca consegui descer à praceta com aquele adereço porque a minha mãe proibia-me carinhosamente... Mas ainda hoje a D. Aurora, a D. Lurdes, o Sr. Fernando e mais uns quantos cujo nome esqueci se recordam da minha figura a desfilar na varanda, alheia à relação de proximidade e coscuvilhice própria de um bairro dos anos 70, onde todos se conheciam e as crianças brincavam na rua até tarde.

Eu tambám ia brincar à apanhada, ao elástico e à barra do lenço, mas o que me dava mesmo satisfação era estar na minha varanda, grande, cheia de vasos, décor de todas as minhas fantasias do mundo dos adultos, feita uma mulher crescida de cabelos compridos.

Os meus cabelos já não são de pano, nem são extensões, caem-me fartos depois dos ombros e cresceram naturalmente fortalecidos graças à minha mãe, ou pelo menos eu gosto de acreditar que a ela se deveu. O Ricardo, meu cabeleireiro, gosta de esculpi-los e sossegar-me: "Não te preocupes que eu não corto muito em tamanho".

As mulheres não se medem pelo tamanho dos seus cabelos, mas é do alto dos meus que eu ainda me sinto dona da minha brincadeira.

8.12.05

para a S. amazona dos tempos modernos

O post anterior veio a calhar entre risos quando andava à procura da imagem de uma mulher amazona para oferecer aqui à S. Desculpa lá mas não consegui encontrar nada que estivesse à medida dos teus sonhos, tudo o que encontrei estava mais para Lara Croft ou menina de calendário porno que outra coisa. As amazonas que a S. prevê que um dia vão voltar são mais do tipo "guerreiras modernas na versão regresso à natureza agora mais espertas e subtilmente dominadoras". A G. arrepiou-se com a ideia e só dizia: "Credo, eu não quero virar fufa". A S. explicou-lhe que as amazonas não eram fufas, apenas faziam dos homens escravos. A G. continuava a dizer em pânico: "Eu não quero virar fufa". A S. explicou-lhe mais uma vez que as amazonas não eram fufas, apenas faziam dos homens escravos. A S., guerreira escondida com a lança de fora e o cavalo à espera lá fora no frio, continuou dizendo que isso já não acontecerá no nosso tempo, mas a mulher, como ser mais completo e independente que o homem, vai encaminhar a liderança da Humanidade para uma nova geração de amazonas. A G. ficou a pensar no assunto. Eu só acho que ser amazona deve dar muito trabalho.

olhem lá

Como é que nós achávamos esta mulher super? Ia eu para a varanda fazer figuras tristes a rodopiar...

PS - Alguém se lembra do nome da actriz?

6.12.05

eu e os rapazes mais novos

Corriam os anos da minha entrada na idade adulta quando de repente, ou não (talvez já estivesse em período de incubação), as minhas amigas foram assaltadas por um vírus. Raparigas atinadas, no auge dos vintes, começaram a andar com rapazes mais novos. Duas delas até chegaram a casar e casadas continuam até hoje. Falo de diferenças de idade na ordem dos cinco anos, ou seja, elas tinham 2o, 21, 22, 23... e eles ainda mal lidavam com a mudança da voz. Cinco anos é muito.

Ainda no outro dia, em plena operação stop da GNR na 24 de Julho, uma amiga, que jamais identificarei para não prejudicar a sua imagem ( se não for eu quem o fará?), estava a olhar para uns rapazinhos que atravessavam a via e soltou esta exclamação digna de registo nos anais da História dos costumes: "Ai valha-me Deus, olhem-me só esta juventude, aquela pele esticadinha, aqueles corpos tão pueris, tão cheios de força e de possibilidades...". Eu, palavra de honra, estive quase a entregá-la às autoridades. Ela, claro está, namora há nove anos (!) com um rapaz (amigo, responsável e senhor do seu nariz) cinco anos mais novo, e estes desabafos são só de boca, que esta minha amiga é a mais fiel de todas (menos na cabeça).

A minha indiferença pelos rapazes mais novos reside numa teoria um pouco maquiavélica... Acredito, desde muito nova, que se uma mulher casar ou mantiver um relacionamento empenhado com um homem mais novo estará sempre em desvantagem. Porquê? Aqui entra a parte diabólica; O homem mais cedo ou mais tarde irá abandoná-la (olhem o meu tom dramático!), em função da beleza e da frescura de uma mulher mais nova, porque em breve irá desaparecer o encanto que sentia pela mais velha.

Agora podem chamar-me os nomes que quiserem e perguntar-me de onde tirei eu esta ideia absurda.

Isto é o que eu sempre vi a acontecer à minha volta, não é só dos filmes. Obviamente, estou neste caso a falar de diferenças de idade muito superiores aos cinco anos (sosseguem meninas!).

A minha indiferença pelos rapazes mais novos não consiste só nesta versão folhetinesca! Muito mais importante que isso é o que antecede o relacionamento, ou seja, o que têm os rapazes mais novos para oferecer (além da frescura dos tecidos, que isso pouco me importa nem atrai)?

Regra geral, têm mais a aprender connosco que o contrário. Eu não gosto de ensinar, gosto de ser aluna. Devo sofrer do síndrome My Fair Lady.

Regra geral, são muito submissos ou rebeldes sem causa. Eu não gosto de coisas fáceis e gosto de casmurros com ideais, mesmo que esses ideais não me digam nada.

Regra geral, são bonitinhos mas não são interessantes. Normalmente imagino-lhes logo dez anos em cima... Umas rugas, uns cabelos brancos ficam sempre a matar. As olheiras também são do meu agrado. (Sim, eu sou assim. Estão a ver o Benicio del Toro?).

Regra geral, não têm conversa de jeito. Pronto. Ou como diria a C. "não dão pica".

Isto é a regra geral... mas tenho de dar a mão à palmatória: Há rapazes mais novos que não são assim. Vou falar-vos apenas de alguns que, desconfio, abrem a porta a uma galeria de desconhecidos que por aí devem existir. Deus queira.

O T. dá vontade de levar para casa. É um profissional responsável e com uma maturidade muito aquém dos seus 24 anos. Só para vos dar uma ideia, é dos poucos rapazes com menos de trinta anos que eu consigo ouvir sem me cansar, capaz de contestar as minhas convicções e ainda de me pôr a pensar sobre coisas que eu nem imaginava. Sim, e é giro, simpático, tem olhos bonitos e o pacote todo. Claro que com mais dez ou quinze anos ainda ficará melhor, o que faz dele um gajo com uma sorte dos diabos, porque estará sempre em vantagem.

O F. já não o vejo há muito tempo, mas foi dos poucos que me cativaram num jantar de blogues. O F. só tem um problema, acho que quer crescer cedo de mais, tem muita gana de ser adulto e isso também não é bom. Mas sensibilidade e encanto não lhe faltam. Sim, também não é nada feio e tem uma voz de bronze que tenho saudades de ouvir. E ofereceu-me um CD dos Depeche Mode, pronto.

Os rapazes da Quarta Ferida Narcísica têm aquele charme inabalável de quem já sabe muito para a idade, mas não se consegue distanciar do que é próprio da idade. Entendem? Andar nessa corda bamba, a equilibrar-se entre as hormonas e a consciência bem medida do mundo à nossa volta é obra imaginável apenas para quem tem dois dedos de testa e muita pinta.

Eu sei que de seguida estava mesmo a calhar o post - eu e os rapazes mais velhos... Mas se este já ficou deste tamanho... É melhor não.

eu não digo?

Faz-se um postezinho, por mais simples que seja, sobre ROMA ao contrário e logo aparecem os comentários... Eu até posso tentar escrever sobre coisas sérias, ensaiar a divulgação cultural neste blog... nah. A malta quer toda o mesmo.

all we need is love?

-Ana! Viste ontem a reportagem sobre o Francisco Sá Carneiro e a Snu?

- Não, mas dizem que está muito boa.

- Boa? Está espectacular!

- Tenho de ver, devem repetir...

- Olha... E tu tens razão.

- Tenho razão?

- Sim. Até chorei, aquilo sim é que era um grande amor. Se não for assim, não vale a pena.

Mais de 50% dos telefonemas que recebo e faço têm como tema as relações de amor. Muitas vezes até começa por ser profissional, mas logo descamba... O que se passa? As carreiras poderão estar ao alto ou de rastos, as finanças controladas ou nas ruas da amargura, o corpo em boa forma ou a precisar de arranjos... Mas os suspiros que oiço, a inquietação que vejo à mesa de um almoço ou de um jantar, os olhares ávidos, tudo me indica que sem amor ninguém vai lá. Não sei se isto é bom ou mau, sinceramente. Será que fazemos bem em depositarmos toda a nossa felicidade numa relação amorosa?

5.12.05

parabéns Nuno (os meus amigos são muito talentosos)

Eh pá! O gajo tem jeito para aquilo! Dizia-me hoje a R., cheia de pena por não poder comprar a foto que mais gostou da exposição "Viagens" que o Nuno Henriques inaugurou este sábado, em Sintra.

"Viagens" foca locais diferentes, momentos efémeros, Belém, Maranhão ou Ceará, no Brasil, São Vicente, Santo Antão ou Santiago, em Cabo Verde, e em Portugal temas de Tavira e do Alentejo.

Ele realmente andou uns meses fora a fotografar, mas eu pensei que fosse só para arejar as ideias e lavar as vistas... Afinal trouxe as vistas com ele.

Eu não fui à inauguração porque estava fora, precisamente a sacudir o pó de Lisboa, mas no próximo fim-de-semana lá estarei, com um travesseiro de Sintra no buxo a acompanhar as viagens do Nuno.

O que é engraçado é que o Nuno andou precisamente a fotografar dois países que eu visitei este Verão... Quando a G. souber disto vai logo dizer que é um sinal de mudança de ciclo e das energias positivas que os trintões estão a receber com a mudança do Saturno ou lá o que é. E eu acredito.

parabéns Jorge

Ele se calhar até vai embirrar com este post, mas não sei, não o conheço suficientemente bem para saber se gosta deste tipo de lamechices.

O Jorge, que conheci há pouco tempo em Cabo Verde por questões profissionais, trouxe-me à memória duas coisas: primeiro que nunca deixamos de conhecer pessoas interessantes, segundo que eu sou uma ignorante sem castigo merecido.

Vim a saber, já em terra semi-africana-caribenha ou lá o que é aquele arquipélago, que o Jorge chama-se Manuel Jorge Marmelo, é escritor desde quase sempre e tem 14 livros editados (vejam o site dele). Para mim ele era, antes de o conhecer, "apenas" o Jorge Marmelo, jornalista do Público. Morri de vergonha, mas disfarcei bem, penso.

A sua obra mais conhecida, "As mulheres deviam vir com livro de instruções", é precisamente aquela que lhe dá uma pontinha de raiva, porque nem sequer é a que gosta mais, disse-me ele, mas é a que toda a gente conhece pelo menos de nome.

Eu sou uma ignorante porque realmente nunca li nenhum dos seus livros, o que me parece mal, mas já tinha ouvido falar no tal das mulheres com livro de instruções.

Ontem, enquanto andarilhava pela net, soube que no sábado o Jorge foi a Famalicão receber o Prémio Camilo Castelo Branco, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, pelo livro de contos "O Silêncio de um Homem Só", lançado em Novembro do ano passado. Grande Jorge. Que pena não podermos ir hoje ao Tabancas beber um gin tónico, ou mais.

Eu já tinha prometido que ia comprar os livros do Jorge e fazer as pazes com a literatura portuguesa. Lá estou eu outra vez a apaziguar-me... Eu tenho é de fazer as pazes com a literatura em geral.

Olha Jorge, se calhar até vou começar mesmo por esse das mulheres. O que se há-de fazer, por mais que não o queira sou uma rapariga das massas. Até lá vou-te lendo aqui.

O Jorge faz com que eu tenha orgulho da minha geração (nasceu um ano antes de mim), quase tanto como o que ele sente por ser do Porto. Ainda por cima, o Jorge tem dois filhos com idade para já se vestirem sozinhos, o que é tremendamente injusto; Não só escreve bem, como publica e já contribuiu para as nossas reformas.

A inveja é uma coisa muito feia eu sei, mas é a minha maneira de te dar os parabéns.

não vou à bola com eles

Raramente sinto saudades da faculdade, apenas do que lhe era paralelo (os horários flexíveis, aquele primeiro ano muito festivo, os anos da rádio...). Mas hoje até senti um aperto no coração quando dei comigo a pensar que me apetecia voltar a uma aula de Hermenêutica, Teoria, Modelos, Pragmática... e todas aquelas que acabavam em Comunicação. Caramba, nalguma delas haveria de caber um trabalho, que digo eu (?), uma tese (!), sobre o momento televisivo a que acabo de assistir - o comentário na Sic Notícias sobre a jornada futebolística do fim-de-semana, por aquele senhor do Porto que veste uns fatos e umas gravatas muitos caros, mas muito feios, cujo nome o meu marido me repete todos os domingos desportivos, mas que não me lembro, seguido sempre da mesma frase: "Oh pá, eu não gosto deste gajo, mas gosto de o ouvir, quanto mais não seja para poder dizer que não gosto de o ouvir".

O masoquismo do meu marido (como se não bastasse ser do Sporting), hoje foi acompanhado de algumas sevícias cerebrais a que eu me auto sujeitei. Naquela meia hora (ou mais?) na Sic Notícias, o "Estado de direito", a "dialéctica", e "o apito dourado silenciado" envolveram-se e fizeram de mim parva, que continuo sem perceber como é que um jogo para tantos apaixonante, irracional, másculo, belo, pés com bola, bola com cabeça, canela com canela, pode ser rebaixado ao ponto de se teorizar sobre ele? Como é que alguém que gosta de futebol grama estes momentos televisivos? Como é possível perderem-se horas a ver uns rapazinhos numa mesa redonda da TV a discutir um lance de bola?

Mas os meus pensamentos foram interrompidos... de repente, o pivot da Sic Notícias pergunta: "E o que dizer do Vitória de Guimarães em Braga?". Sim e o que dizer?

Em qualquer mesa de café de Portugal se faria melhor do que isto.

O.M.S. encerrada por motivos de saúde

A O.M.S., depois de se empenhar na conversão dos seus colaboradores fumadores, está já a pensar numa nova evangelização. Em breve, quem corre o risco de vir a ser dispensado da organização mais saudável do planeta são:

- os viciados em cafeína

- os adeptos da vida sedentária

- os anti-vegetais

- os pró-fast food, pão branco, fritos, refeições congeladas, refrigerantes, gorduras...

- os depressivos

- os anti-preservativo

Depois desta medida tomada, a O.M.S. terá de fechar as portas por falta de pessoal.

Eu, é verdade, não conheço o funcionamento interno da O.M.S., mas se a organização está mesmo preocupada com os nocivos fumadores, então porque não preocupar-se também com todos os outros comportamentos de risco que, seguramente, lhe devem entrar pela porta todos os dias e, mais grave ainda, com o seu consentimento?

Não há pachorra.

2.12.05

late night show

Retirado de uma conversa fora de horas:

- O meu sonho é ter alguém para envelhecer ao meu lado.

- O meu sonho é não envelhecer.

- Isso até é pecado (risos). Até parece que queres morrer cedo...

- Não quero morrer cedo e não quero envelhecer.

- Esta rapariga não é normal...

- Mas quero alguém para não envelhecer comigo, ao meu lado.

- Esta rapariga...