30.11.05

como (ela) descodifica uma relação 3

"Suponhamos que existem dois jovens que se ligam diariamente, encontram-se quase todos os dias, vão ao cinema, jantam, elogiam-se, olham-se, tocam-se, compram coisa juntos, encontram-se só para poderem olhar um para o outro e desejam boa noite e bom dia quando se deitam e acordam. Mas não passeiam de mão dada, não se tratam por namorados (pelo menos nunca tentaram fazê-lo) e nunca pensaram bem naquilo que são.

Análise: Já o são mas não sabem. Já o querem mas não assumem para não se magoarem. Já o desejam mas não o passam para palavras.

Um dia, na rua, quando ele lhe pegar na mão ela não vai fugir, quando ela lhe passar a mão pelo cabelo ele vai deixar, vão beijar-se e não vão ter tempo para pensar em mais nada."

in Respostas Paralelas

Porque no amor as palavras valem muito menos que as coisas.

prognóstico reservado

De todas as coisas que já me custaram a admitir na vida esta será sem dúvida a mais difícil:

Quando tenho aquele cantinho guardado só para mim, a última fatia de chocolate (quase bolorenta de tanta espera) para saborear com o DVD de quinta à noite, as horas de sossego no shiatsu, uma tarde a fazer estragos na conta bancária, uma sessão de cinema nas horas indecentes de trabalho dos outros... Quando tenho estes espaços só para mim (e olhem que eu arranjo sempre muitos!), acontece-me, ultimamente, sobressaltar-me com a absurda convicção que devia estar a fazer outra coisa porque essa que estou a fazer, afinal, não me está a dar o prazer desejado. E, no entanto, são estes momentos que mantêm a minha sanidade mental... (quem diria).

A vida, já me dizia o meu querido M., é muito irónica... A vida, disse-me no outro dia o N., é uma coisa que eu tenho a mania de ultrapassar.

Desejem-me as melhoras. Obrigada.

28.11.05

como descodificar uma relação? 2

Porque a ideia do post anterior era, a pedido de uma alma muito especial para mim, responder à questão: "Como saber se a relação é ou não séria?"...

Algumas dicas:

Em primeiro lugar, é preciso saber o que significa para cada um o binómio 'relação séria'. Eu, por exemplo, tenho uma relação que é séria (sou casada há oito anos), mas que aos olhos de alguns carece de peso; o peso da responsabilidade e do estatuto de senhora casada, mãe de família e esposa dedicada... Perderam a vez nessa fila, jamais tirei senha para esse 'guichet'.

Depois, é preciso saber o que quer cada um de uma relação séria. Aqui, por vezes, as direcções são as mais opostas. É preciso identificá-las e não perder o rasto ao que se ambiciona, medindo as cedências que se está disposto a fazer, e as exigências de que não se abre mão. Eu tenho para mim uma máxima que aplico em tudo: "Não enganei ninguém!". O meu marido soube desde o início a peste mimada que eu era, não foi enganado. É a tal história do bluff... Não o façam.

Depois disto, tudo é possível. Como saber se estamos a viver uma relação séria? Hummm... Quando acaba a necessidade de se colocar essa questão. O que é natural é o melhor. Se não perceberem, perguntem directamente. É foleiro, mas é melhor do que andarem enganados.

Aquela história de fazer experiência com um convite para um almoço em casa dos pais, ou para conhecer os amigos ou até para viverem juntos, não quer dizer nada. Há quem faça isso tudo como quem toma um copo de água, e há quem seja tímido ao ponto de evitar essas situações e, ainda assim, querer uma relação séria.

A seriedade das relações reside na aceitação do outro, sabendo de antemão o se que quer, não comprometendo nunca o que somos e para onde queremos ir... com o outro.

Finalmente, tudo tem um fim e quando lá se chega a decisão mais difícil da vida é "acabamos por aqui ou arranjamos outro ponto de partida?". Mas o fim chega inevitavelmente.

Finalmente de todos os finalmentes, se não estivermos bem sozinhos, jamais estaremos bem acompanhados.

como descodificar uma relação? 1

Há-as para todos os gostos mas as que parecem estar mais em voga são as relações que ninguém sabe (ou não quer?) definir.

Saem para jantar, vão ao cinema, bebem uns copos, dão uns beijos e uns amassos, mandam sms, telefonam-se, mandam sms (os sms estão muito na moda), sorriem-se, mas não sabem muito bem o que andam a fazer.

Na maioria das vezes são descomprometidos, mas têm assuntos do passado mal resolvidos e traumas que acumularam por força de algumas desilusões.

Não se maçam. Não se inflamam. Não se apaixonam. Andam.

Talvez aquilo que os atraia seja a possibilidade de virem a sentir qualquer coisa, ou o facto de terem um encosto. Talvez, à falta de paixão maior, se contentem com a ideia de ter alguém ou com a ideia de nutrirem um sentimento por alguém; É a velha história: "Gosto da ideia de gostar dele(a)".

De facto, gostos não se discutem, mas deveriam saborear-se... O que me leva a pensar que estamos numa nova era de platonismo, muito mais frustrante e inibidor que o tradicional.

Estas relações não têm nada a ver com aquelas que assentam pura e simplesmente no sexo. Essas são desde o início aquilo que ambos sabem: dois corpos que buscam o prazer, sem preconceitos, sem cobranças.

Nas relações indefinidas muitas vezes nem chega a haver sexo. Nelas tudo se mede, a quantidade de vezes que o outro ligou deve ser proporcional ao número de vezes que ela ligará, os sms são semioticamente analisados, uma ausência prolongada equivalerá, durante uma semana, ao mau humor desmesurado da outra parte... A ambiguidade destas relações reside na falta de legitimidade para fazer exigências, porque se não há compromisso como se pode exigir o que quer que seja? Mas exige-se, mais cedo ou mais tarde... e então podem acontecer duas coisas:

Ambos chegam à conclusão que andam a fazer figura de parvos e deixam-se de jogos virtuais.

Um começa a sentir-se verdadeiramente entediado com as exigências do outro e foge (ou fogem os dois para outra relação incerta).

Eu até poderia dizer que considero estas relações uma pura perda de tempo, sem alma nem paixão. Mas não digo. Que sei eu? Há muitas formas de começo de um relacionamento e quem disse que tudo deve começar com uma grande paixão?

Eu até me apetecia dizer que mais vale estar só que desenxabidamente acompanhado(a), mas eu nunca estive só e não sei dar valor a isso. Por isso não digo.

Eu acho que as relações não devem ser insonsas, mas quem sou eu para achar o que quer que seja? Cada um toma a sua vida com o sal que lhe aprouver.

Eu acho que as pessoas devem ser felizes. E isto eu acho bem.

22.11.05

engate

E se de repente um barman a aconselhar sobre as melhores marcas de gin a beber em Portugal e Inglaterra, explicar todo o processo de fabrico e de destilação da bebida (com direito a gráficos e tudo), a introduzir no fabuloso mundo do metanol, metazanol, (será?), e lhe mostrar a ementa do restaurante às duas da manhã quando a cozinha já está fechada e fizer questão de lhe explicar todos os pratos... Isso é engate.

Às vezes sair à noite ainda é engraçado, é só uma questão de baixar as armas... Afinal só passa o que nós deixarmos e sorrir faz bem à alma, não dá cabo do fígado como o gin.

rage against the machine

Recebi um mail que me deu raiva. A irmã de uma amiga está desempregada. Daquilo que me lembro, ela é uma profissional de mão cheia. Pelas minhas contas, deve andar na casa dos trinta. Puxando pela memória, já trabalhou com os melhores da sua área profissional. Já vi tudo. A competência já não ocupa lugar, os anos a mais pesam nas entrevistas de emprego. Depois dos trinta e poucos o mercado envia para reciclagem. E depois não querem que eu me enerve e tenha medo de envelhecer. Vão à fava.

21.11.05

Momento infantil

- Oh Ana tu podias ser tudo o que quisesses!

E eu não dava um dia para querer logo outra coisa.

Consultadoria

Os meus amigos acham que eu sei muitas coisas. Ou que, pelo menos, acho que sei. É capaz de ser isso. Ser convencida é meio caminho andado para a conversão dos outros. A última questão que esteve em cima da mesa nas recentes conversas intermináveis é tão velha e tão pouco original que até dá dó: Afinal o que querem os homens/mulheres? Como é que sabemos se eles(as) gostam ou não de nós... Por aí, mais vocábulo menos vocábulo, mais pica menos dor de corno. A resposta é óbvia. Está no olhar. Não lhe larguem os olhos e saberão no vosso íntimo. Nós, homens e mulheres, sabemos sempre tudo no que toca a sentimentos. Só não sabemos ouvir-nos e ver-nos. Demasiado óbvio eu sei.

15.11.05

Frágil

"Sabe Ana, dizem por aqui que quando a gente quebra o pé é sinal que temos de dar uma freada na nossa vida, porque estamos muito acelerados!".

O P., brasileiro de Belo Horizonte, é assistente de som, trabalha na área social da prefeitura, dá aulas de cinema numa favela, toca violão como ninguém... Conheci-o este Verão. Firme nos ideais, disponível, descomplicado, solidário, divertido, sereno. Como quase todos os brasileiros, o P. é muito místico. Tudo para ele tem uma explicação e o entorse que fiz no pé direito não foge à regra. Se calhar tem razão, quem sabe?A única certeza que tenho, agora mais do que nunca, é que o corpo trai-nos e faz férias não autorizadas. Quebra-se, entorta-se, inflama-se, mutila-se, desfaz-se, arde, gela, afoga-se... O corpo é nada, mas segundo o P. temos muito a aprender com ele.

14.11.05

Código decifrado

Poucos já se lembrarão do código que criei por ocasião do primeiro aniversário deste blog, mas ele ainda se encontra aqui do lado direito para quem quiser conferir.

Hoje pus a mão na consciência. Aqui vai:

"No dia deste quadro Renoir impressionou e da primeira à última letra da palavra que pintou, vai uma mão cheia de boas promessas que ele originou. Para cada uma delas, palavras em verso há que outros criaram, e nelas se hão-de encontrar os votos que eu vos venho esta noite desejar."

... assim começava, e aqui estava o principal:

A palavra que ele pintou é uma palavra de cinco letras (como indica a "mão cheia de boas promessas") - F E S T A, porque foi uma festa que o Renoir pintou!

Cada uma das cinco letras é a primeira letra de uma promessa, cinco promessas/cinco desejos para a noite da festa do primeiro aniversário que decorreu no bar do Teatro Taborda, no Castelo. O nome da promessa encontra-se em poemas/factos de cinco autores.

Assim:

1ª letra / F - "À primeira não tinha lógica, se anglo eles são, mas depois foi um sucesso que em 82 os Mouros não ouviram sem razão"

A promessa é Folie, da canção dos Stranglers. A palavra francesa não tem lógica porque eles são ingleses. Presentes no Festival de Vilar de Mouros em 1982, os Stranglers não cantaram este sucesso na sua actuação.

2ª letra / E - "A segunda não vem do cravo nem da canela, mas também está num prato que gira e leva nome de novela. Aquele que "de noite arde" interpretou com sentido, na terça parte da Modinha, a décima primeira promessa"

A promessa é Emoção. Está num disco de Vinicius de Moraes de 1972 que se intitula "A nossa filha Gabriela", e emoção é a décima primeira palavra da terceira estrofe da canção "Modinha".

3ª letra / S - "A terceira tem pecado no bico, ele fez prosa desavinda com a tradição e conveniente com a mulher e o amor. Cativo ficou num soneto, onde até ficar preso, experimentou-as contraditórias."

A promessa é Sensações. David Mourão Ferreira escreveu o "Soneto do Cativo" que termina assim: "... tenho vivido eternamente preso!"; e começa assim: "Se é sem dúvida Amor esta explosão de tantas sensações contraditórias"... Nesta muitos se despistaram com o termo 'cativo', pensando que era Camões...

4ª letra / T - "À quarta, o nascido no dia do santo pregador de Lisboa do ano dos três oitos, muitas fez nas mesas dos cafés"

A promessa é Tertúlia. Fernando Pessoa nasceu no dia 13 de Junho de 1888, dia de Santo António de Lisboa. O poeta participou em muitas tertúlias no Martinho da Arcada e na Brasileira.

5ª letra / A - "Na quinta, a que veio ao mundo na terra atlântida, veio ao monte da Graça dar nome ao labirinto de livros. Românticos foram os seus sonetos, entre eles a trilogia, que vai do corpo ao espírito, tem no meio a promessa que nunca morre"

A promessa é Alma. Natália Correia nasceu nos Açores e deu nome à bibiloteca situada no bairro da Graça - Biblioteca Municipal Natália Correia. Em 1990 foram publicados os Sonetos Românticos, entre eles "Do amor que acorda, o espírito que dorme", uma trilogia - Corpo, Alma ("que nunca morre"), Espírito.

"Afinal que promessas de Renoir aqui há, que eu vos venho desejar?":

F - Folie

E - Emoção

S - Sensações

T - Tertúlia

A - Alma

Só assim fazem sentido! Boas festas.

13.11.05

Aberto até de madrugada

Este blog nunca foi muito certo. Escreve tarde e a más horas, some-se amiúde, não tem ritmo biológico que justifique vistorias regulares e jamais alguém saberá onde estava o Código no dia das eleições autárquicas, aquando dos funerais mais conciliadores da história da nação, no dia dos MTV Europe Music Awards, etc... Desconfio até que se houvesse uma outra revolução em Portugal, o Código estaria a pensar na morte de um qualquer outro sistema, provavelmente um daqueles que não dá nas vistas.

Este blog, quando não está a falar dele próprio, fala de microsistemas cá muito da minha moda. Palavra de honra que às vezes penso "caramba devia escrever sobre isto... ". O 'devia' tira-me logo a vontade, mas as oportunidades perdem-se. E este blog é, obra do caos da minha vida, um espaço ganho de oportunidades que perco. É uma balda, é o que é. Ganhei-o porque o arranjei no imenso mundo livre da net (por quanto tempo?) e ganhei-o sem remorsos, porque um blog não rouba espaço a ninguém. Não é preciso lixar ninguém para ter um blog, não são precisas cunhas, nem empréstimos bancários, nem puxar dos galões.

Este vazio legal liberta-me. Se não pago impostos nem licenças, que se lixe. A moral, por sua vez, dita-me que este blog deve estar aberto até de madrugada, numa estrada perdida, com happy hour non stop, como aqueles bares dos filmes chungas - quase vazio quando o herói se vai enfrascar e carpir, ou a abarrotar quando o herói quer partir umas cabeças, rachar as costelas e dançar com a mais gira do sítio. É o minimo que posso fazer. Quando não me virem ao balcão é porque estou a fazer contas com a gerência.

10.11.05

Plateau

Cheguei outra vez. Dizem-me que devo estar feliz, porque voltar depois de ter partido é sempre bom sinal, como se fosse a justa retribuição pela ousadia de abandonar uma cena em que já sabemos de cor todas as falas.

Este é o meu plateau. Aqui. Lisboa, nestes anos de todas as graças, algumas em queda, que desprezo desavergonhadamente às vezes, ou ergo como trofeú na mesma proporção quando tenho plateia.

A fuga seria agora a morte da artista.