29.4.05

E assim eles crescem...

A minha petite baton começou a viver com o namorado... Já? Não me conformo. Apetece-me fechá-la num armário até aos 40. Mandá-la estagiar no estrangeiro e fazer tudo para a manter o maior tempo possível afastada dos compromissos inerentes à função de "quase esposa, mãe e mulher". O meu medo é que ela agarre esta nova vida com os sete fôlegos que partilhamos com os gatos e fuja do mundo.

Não é nada contra o gajo. Alguém até já lhe deve ter preparado um altar onde figurará depois de a aturar... O meu receio é que ela não tenha ainda encontrado o seu próprio pedestal, onde brilhe e ofusque, subjugando às suas as ideias dos outros.

Os outros é que são o inferno. Batonzinha, tu és um paraíso demasiado virgem.

Sim, eu sei. Eles crescem.

PS - Depois disto ainda posso ir à tua festa de inauguração da casa? Receios à parte, cá estarei para o que der e vier. E festa é festa, já sabes...

Os pesadelos pesam

A Xanel Cinco trouxe-me à memória um dos meus pesadelos mais frequentes. E eu agradeço-lhe, porque afinal é sempre bom saber que não se é infeliz sozinho.

No meu pesadelo, é a cadeira de matemática, que até hoje não percebo porque figura no primeiro ano do meu curso, que me atormenta. De repente, vejo-me angustiada a pensar que afinal me falta fazer a dita, e que afinal eu não tenho a licenciatura acabada, e que afinal vejo-me confinada à maldita faculdade até ao fim dos meus dias. Socorro!

O que quererá isto, afinal(!), dizer? Se houver por aí algum psiquiatra que me esclareça...

Inscrições para a festa do 1º aniversário

Têm insistido comigo para pedir inscrições para a festa do 1º aniversário do Código, que é já no dia 21 de Maio, no Teatro Taborda.

Se calhar é melhor... Embora não seja jantar, nem seja preciso reservar lugares, convinha saber mais ou menos o número de pessoas com que posso contar. Se o número for jeitoso, para aí umas 50, pelo menos, o bar fica mesmo por nossa conta.

Optimista que ando, penso que não vai ser difícil. Entre leitores e bloguistas, a casa há-de ir abaixo.

Assim sendo, vão deixando a vossa inscrição nos comentários ou no email asantiago@iol.pt

Se desejarem, podem levar acompanhante, desde que o(a) mesmo(a) jure solenemente passar a ler o meu blog pelo menos uma vez por semana.

Dentro em breve vai aparecer aí na barra da direita a informação permanente sobre a festa.

Até.

28.4.05

- Oh, porque é que tens umas olheiras tão grandes?

- É porque não durmo a pensar em ti...

E hoje acordei com um galo na cabeça.

27.4.05

Porque responder a inquéritos nunca fez mal a ninguém...

... caro Claque Quente, cá vai:

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

"A Bíblia". A verdade escondida e a mentira poética. O bem e o mal. O Génesis e o Apocalipse.

2. Já alguma vez ficaste apanhado por uma personagem de ficção?

Ui... Ficar apanhada é o meu género. Muitas. O menino do "Coração" de Edmundo de Amicis, a Menina dos Fósforos de Andersen, a Alice do País das Maravilhas, a Bela do Monstro, o Capuchinho Vermelho, a Dona Flôr do Amado, a Princezinha, a Helena do Machado de Assis, a Anita (Vai às Compras e Na Montanha são os meus favoritos)...

3. Qual foi o último livro que compraste?

"Glória" do Vasco Pulido Valente. Estava em maxi-promoção. Ainda não li.

4. Qual o último que leste?

Tentei ler pela enésima vez "O que diz Molero" do Dinis Machado, mas ainda não foi desta. Não alcanço.

5. Que livros estás a ler?

"O Equador". Se o Miguel Sousa Tavares disse que sofreu a escrevê-lo eu quero ver, enquanto leio...

6- Que 5 livros levarias para uma ilha deserta?

Um livro de bruxaria para ver se me desenrascava. Ou melhor... Cinco livros de bruxaria.

E agora, "for something completly diferent": Passem ao outro e não à mesma! E depois avisem.

Química tântrica

Uma semi-loira, outra semi-morena, vi-me de súbito a meio de uma conversa sobre o eterno dilema "mulher fácil, mulher difícil", entre duas amigas muito próximas.

Uma defende que quando há química entre um homem e uma mulher, esta se deve manter na reserva, exalando umas frases subtis, propondo o que ainda é invisível mas já se sente. Outra acha um absoluto disparate a mulher andar a armar-se, contrariando o que lhe apetece fazer logo ali, no balcão do cinema, no carro, nas escadas.

A primeira, diz a segunda, é romântica. A segunda, diz a primeira, devia ter mais calma.

Eu ouvia-as à primeira, à segunda levei também com uma roda de romântica, à terceira falei. Com a devida distância que consigo reservar em todos os assuntos, que é nenhuma, disse-lhes que ambas acabavam por ter razão. E que outra coisa dizer?

A questão é que os homens (que é no fundo em quem se pensa, quando se tem este tipo de conversas) também não se entendem sobre o assunto. Sobretudo os que estão à beira dos 30 e ainda não chegaram aos 40. Depois disso, já todos têm as suas opiniões mais do que consolidadas à custa de muita porrada no lombo, devaneios e desilusões. Em suma, já sabem o que comeram, se gostaram e se preferem bem ou mal passado. Estes já não têm dúvidas e deixam-nas com as mulheres. (Para os quarentões e cinquentões, as mulheres que partam a cabeça...)

Os vintões entradotes e os trintões é que andam a passar um mau bocado. As mulheres desorientaram-nos. Perderam o Norte que apontava sempre para a ponta, e perderam-se à procura dos muitos pontos cardeais femininos - aqueles em que as próprias mulheres de vintes e trintas também se dispersaram.

A diversidade deu cabo da dicotomia Romeu/Julieta... Os papéis confundiram-se e se não se confundiram arranja-se maneira de confundir para não se ficar atrás. Atrás de quem? Ninguém sabe.

O cinema tanto mostra o ideal "príncipe à procura de donzela", como o da nova "gaja a dar conta da cabeça ao gajo armado em príncipe". A literatura então é dos mais promíscuo que existe, lê-se uma Marguerite Duras e a seguir uma Laura Esquível (diferentes até à medula) e fica-se a pensar que o coração de cada um é um puzzle que Deus criou e guardou a última peça para Ele. Lê-se um dos sonetos do Vinicius e achamos que quem escreve assim viveu demasiadas vidas para quem vai a meio de uma...

A geração dos principiantes adultos já perdeu as ilusões de adolescente, mas não alcançou a maturidade e o cinismo da geração que se segue aos 40. E quando as duas se cruzam... Há mortos e feridos. Geralmente, os mais velhos assistem.

Por isso voltamos aos desgraçados de 20/30 que estão sempre a perder. Sempre que insistem em fazer contas complicadíssimas ao que o outro vai achar, pensar, reagir. Sempre que perdem a espontaneidade e se aventuram com as armas dos outros. Sempre que têm medo de uma mulher que se chega poderosa, ou de um homem que afinal não é (porque já não são todos) tão à frente como se imaginava. Sempre que desconfiam de uma mulher tímida e recatada, e de um homem que, surpresa!, afinal até se atira de cabeça (porque ainda os há assim).

Amantes do amor, andam todos a desconfiar da própria sombra, a perseguir a chama da paixão, sem perceber que na azáfama com tanto arfar ainda a apagam sem nunca a ter visto. Pior ainda, a perseguir a chama da maneira que acham que os outros a conseguiram incendiar...

Na tal bússula que já não indica apenas o Norte e o Sul, estão todas as vias abertas. Azimutes para todos os lados. As minhas amigas têm ambas razão. Eu bem lhes disse.

Agora, porque eu não sou tão simples como aparentemente eu quis fazer parecer, algumas inevitáveis chaves do meu código:

- Jamais façam bluff

- Se (só para os mais calejados) fizerem bluff saibam à partida as consequências

- Se conseguirem prolongar o efeito da química e da paixão, prolonguem. Mas só se vos der prazer e não vos causar ansiedade

- Cada homem e cada mulher merecem tratamentos diferentes. Não enfiem tudo no mesmo azimute.

- Leiam o "Um Amor Feliz" de David Mourão Ferreira

- Lembrem-se "São demais os perigos desta vida para quem tem paixão..."

... E... Sim, é verdade. Eu prefiro a química tântrica.

Muito azar no jogo meus amigos.

Festa do 1º aniversário - 21 de Maio

Costa do Castelo, nº 75

Já é oficial! Confirmei a reserva. Dia 21 de Maio, sábado, bloguistas e leitores em geral que perdem tempo a ler-me, ou que simplesmente queiram ir a uma festa de blogs, apareçam a partir da meia noite no Teatro Taborda, na encosta do Castelo de São Jorge.

Teatro??? Nãooooooooo! Prometo que o palco não tem nada a ver com a festa. O sítio é do foro cultural do município lisboeta, mas tem um restaurante-bar que a objectiva e a Lolita acharam por bem dar guarida a quem nesse dia não terá mais nada de importante a fazer além de beber uns copos à conta destas manias da blogosfera... Convenceram-em. Se a coisa correr mal, a culpa é delas!

Para evitar o pior, e porque nestes caminhos de Santiago nunca nada é simples (sobretudo porque vou para terras de São Jorge...), aqui ficam para já algumas pistas da máxima importância para a noite correr bem:

- Vão a pé ou de táxi. Estacionar naquela colina não é fácil

- Levem a carteira recheada de euros porque não há multibanco

- É preciso tocar a campainha para entrar

- Não vende tabaco

Por enquanto é isto.

26.4.05

25 de Abril

Imagem daqui

A objectiva ligou-me eufórica no dia 25 à tarde! Estava na Avenida da Liberdade, de máquina em punho e quase que lhe senti a temperatura elevada das faces que adivinhei mais encarnadas do que nunca... A Cristina é assim: Nunca a vi corar por causa de um homem, mas dêem-lhe uma manifestação e uma causa e lá está ela, da cor preferida do Valentino.

Eu por mim, também acho que o vermelho nunca está fora de moda.

A objectiva esteve quase vai não vai a mandatar-me para a acompanhar... Mas eu cortei-lhe logo as vazas. No feriado estive a fazer uma das coisas que nos últimos tempos mais me dá prazer - deitar coisas fora. Desta vez foi limpeza profunda aos armários da cozinha e do WC. Colheres de pau e medicamentos fora de prazo foram apenas duas das muitas porcarias que deitei para o lixo. E que bem me soube.

À conta da minha fada madrinha, que nunca sei onde anda nestes dias, estalei o verniz escarlate das unhas e dei cabo das costas a perfurar os recantos cegos de energia amorfa, à cata de velharias sem valor de mercado.

Muito em alta continua, apesar de tudo, o vermelho dos cravos (como se pode constatar nas fotos da objectiva 3...). Não sei se alguma vez o desfilaria na passarelle, mas sempre foi uma das preferências no meu guarda-roupa.

Limpeza, mandar trastes para o lixo sem direito a reciclagem, reorganização do espaço... Sim. A minha revolução foi em casa. E não é onde ela deve começar?

24.4.05

Estranhas similitudes

Etiqueta para casamentos e congressos partidários

Os convidados dos partidos adversários nos congressos são como os parentes que ninguém grama e a(o) amiga(o) que foi namorada(o). Convidam-se por obrigação.

A minha amiga fanática

Sorrateira, sem dar cavaco, dissimulada, como só uma gaja loira sabe ser, a Roxanne do Suave Milagre arranjou finalmente coragem para semear livremente os seus genes de groupie convicta.

O novo blog, onde só ontem tropecei, chama-se fanaticu, ou mais concretamente do latim fanaticu.

Só para dar um exemplo, ela é capaz de ser a única pessoa do mundo a saber mais sobre o Sean Penn do que o próprio. Mas há mais na lista dos seus ídolos, a maioria dos quais eu nem um aperto de mão lhes dava... (Costumamos dizer que jamais andaríamos às avessas à conta de um homem, salvo raras excepções que apenas confirmam a regra).

De resto, a Roxanne tece malhas de adoração intrincadas a figuras do mundo artístico como a Sally Field, Arnold Schwarzenegger e a Whopi Goldeberg (!), e eu não resisto a tentar descodificá-las, descobrindo na maioria das vezes explicações que encerram o estatuto de metamorfose ambulante da Roxanne.

Fazendo minhas as palavras que ela escolheu para sublimar o seu fanatismo saudável:

Toda a gente é louca, só que alguns morrem sem se declarar. (Provérbio popular brasileiro)

Vou continuar a aplaudir (e se ela gosta de palmas), entremeando com risos, os seus delírios de loira que anda sempre a ver estrelas...

Parabéns Melga, mas vê lá se fazes qualquer coisinha...

... que isso de seres engenheiro não desculpa tudo!

O Francisco comemora por estes dias um ano de blog, mas queixa-se da má conjuntura laboral para escrever.

Aqui vai o meu conselho ( lá estou eu...): Escreve sobre o teu ofício. Os engenheiros não são más pessoas, apenas apreciam o lado mais prático da vida. Sistematizando a desordem, ignoram o caos e projectam fugas para a frente, andando a maior parte das vezes para o lado, mas as intenções são boas.

A única razão porque me reservo o direito a dar palpites sobre o blog do Melga, é porque ele é dos poucos homens com menos de 30 anos que perco tempo a ouvir!

22.4.05

Um post apostolicamente mauzinho

Gostava de saber que legitimidade tem um ateu, ou um praticante de outra religião que não a Católica, para proferir sentenças sobre o novo Papa.

É que acabei de levar com um e enervou-me. Se calhar é porque não simpatizo com a pessoa... Enfim, andei na catequese, mas não sou santa.

21.4.05

O mistério dos homens sem carta de condução

Perdoem-me a saloiice, mas uma mulher sem carta de condução consegue ser mais normal que um homem sem a mesma. Machismo à lupa de uma mulher? Talvez. Tenho coisas assim e já desisti de as combater, não vá arranjar alguma doença auto-imune.

Quanto às mulheres, o que me causa estranheza é precisamente o inverso. Conheço algumas que têm carta de condução mas não a utilizam. Depois do exame, por qualquer fobia, jamais usufruiram desse elemento vital à sua independência e mobilidade. Tenho ainda duas amigas que desconfio terem tido desconto na escola de condução, pois só circulam na província, em rectas sem sinais e sem trânsito...

Agora o que realmente me deixa curiosa são os homens não encartados.

Todos os que conheci até hoje, e são uma meia dúzia (não é muito?! Para mim é... ), são da área da comunicação, e quase todos com cargos de chefia. Por sua vez, todos eles alegaram sempre conhecer muitos mais com a mesma disciplina de voto e de outras áreas de actividade profissional. Haverá algum clube?

A minha amiga C. considera-os categoricamente comodistas. Não vou (apenas) por aí. De comodistas todos temos um pouco e, verdade seja dita, os que conheci nunca se queixaram do dinheiro que gastavam em táxi, nem de andar de transportes públicos, e, nesse aspecto, até vão contribuindo para um bom ambiente. O factor comodismo, por isso, não me convence.

Sendo assim, fiz a minha pesquisa habitual... Fiquei a saber que além dos que conheci, existem muitos mais ainda. Há sempre uma amiga que namorou ou convive com um ou mais machos que se deixam conduzir.

As várias hipóteses avançadas são (verdade verdadinha, que eu levo a sério os meus "estudos"):

"Sempre tiveram quem os conduzisse e acomodaram-se";

"Têm a mania que são importantes e sonham ter um dia um(a) motorista";

"São ricos e andam de táxi";

"É porque não têm jeito, seriam uns nabos a conduzir";

"Chumbaram mais do que uma vez no exame e depois tiveram vergonha de repetir";

"São ambientalistas convictos";

"Excitam-se com uma mulher ao volante";

"Os homens ligam muito à imagem, e se não puderem ter um topo de gama (à bela maneira portuguesa), preferem não ter a carta de condução que sempre lhes dá um certo ar 'diferente'...";

"São uns inúteis, preguiçosos e desleixados. Mas também acho o mesmo das mulheres que não têm";

"Faz-me tanta confusão como uma mulher que não tem carta";

"É uma opção como qualquer outra";

"Apanharam algum trauma".

A mim só me resta...

São homens. Não há explicação unívoca. O melhor que tenho a fazer é perder esta mania de querer perceber tudo e dar boleia a um desses desgraçados.

20.4.05

Pensamentos in vitro 15

Às vezes, o maior acto de inteligência é desistir de converter um burro.

1º aniversário em negociações...

O que vocês querem sei eu...

Já fui alvo de algumas pressões para fazer uma festa do 1º aniversário do Código. Cá para mim, querem é que eu organize uma noite de copos e dança, e do meu Código ninguém quer saber. Estou mais ou menos a brincar... Até porque estou tentada a fazer-lhes a vontade. O local até já tem pré-reserva!

A pressão com maior graça e sinceridade (já agora) veio do Claque Quente. Vejam lá.

Não percam os próximos capítulos. Até lá vão pensando no dia 21 de Maio...

18.4.05

A mulher pintada

O universo feminino permanece como um dos mais imutáveis da natureza. Apesar das revoluções, das épocas históricas obscuras e castradoras ou dos movimentos de emancipação, as gerações de mulheres têm sempre assegurado, na clandestinidade das hormonas, ou na apologia das mesmas, a essência do corpo em ‘S’ (curvas) e da mente em ‘Z’ (ziguezague).

Na caverna ou no Spa, roliça ou anoréctica, mãe ou libertina, a mulher é sempre um produto de estética, de conteúdo com forma, seja qual for a maneira como esta é contornada – do grosseiro lápis de carvão, ao cirúrgico computador.

É na alteração da forma (o conteúdo é matéria mais movediça a que não me atrevo hoje) que vamos sendo apanhadas a meio das modas. Eu, que nasci na década de 70, já apanhei algumas mudanças. Vivi-as de acordo com a idade, o círculo de relações e o número de páginas de revistas femininas lidas.

Apetece-me por agora falar de uma das variáveis do gráfico feminino que aprecio especialmente - a maquilhagem. Penso que é das variáveis que mais variou e nos avariou.

Quando era criança, a minha maior aspiração quando crescesse não era ser médica ou jornalista (isso vinha em segundo lugar), era crescer para me começar a pintar. Lembro-me, do alto dos meus 4, 5, 6... até aos 10 anitos, de delirar com as sombras azuis da minha madrinha, as unhas vermelhas da minha irmã, os batons garridos da D. Lurdes e as idas ao cabeleireiro onde a minha mãe pintava o cabelo. Tudo aquilo era lindo e a vida assim a cores, nuns 70 e princípios de 80 tão a preto e branco, adivinhava-me a tendência para procurar o ‘glamour’ num país que não era tão giro como o do Dallas e onde via muitas mulheres que andavam com umas camisolas de gola alta e os cabelos desgrenhados, que não tinham nada a ver com os Anjos de Charlie que eu idolatrava.

Veio o secundário. As expectativas de infância saíram goradas. Na minha adolescência rapariga que se pintasse era pirosa. Na escola quando não tínhamos aulas íamos para a praia, para o café ou ver lojas de roupa de praia, “à surfista” de preferência. Jamais naquela altura passaria pela cabeça das adolescentes escaparem-se para aquelas mega-lojas de maquilhagem e perfumaria experimentar a sombra rosa a dar com o top, ou o verniz vermelho igual ao da Madonna. A Madonna era a Madonna, as estrelas da revista “Bravo” eram as estrelas da revista “Bravo”, nós éramos miúdas e a maquilhagem era tabu. Ponto final, sem admissão a vírgulas ou reticências.

Veio a faculdade. As expectativas, que já não eram muitas, saíram outra vez goradas. Entretanto já me tinha passado um bocado a febre, e orgulhava-me voluntariamente à força de contribuir para as estatísticas de baixo consumo das portuguesas relativamente aos produtos de cosmética. Em compensação, ia a Espanha e vinha de lá a bater mal com a aparência daquelas 'guapas', que contrastava descaradamente com a das bandoletes, das sainhas compostas e do rosto saloio das lusitanas, que nem trigueiras conseguiam ser.

O lema na faculdade era ser simples. Ser “simples” em Portugal sempre teve muito significado. Uns dourados nas orelhas e umas roupas de marca eram o máximo que as estudantes davam. A maquilhagem, claro está, tinha de ser muito simples e não dar nas vistas, e preferencialmente à noite, quando se podia ser menos simples. Fosse como fosse, as universitárias da minha geração seguiam o lema: “Não tenho paciência para isso, depois esqueço-me, esfrego-me e borro-me toda, e gosto da beleza natural”. A beleza natural também é muito importante em Portugal.

Veio o trabalho. Desforrei-me. Mulher crescida acompanhei o advento das grandes lojas e das grandes marcas. A MAC do Chiado foi uma bênção, mais a Sephora e outras mega lojas de perfumaria e cosmética. A desculpa era boa: “Tenho de estar apresentável”. A Cosmopolitan, a Elle e a Máxima também deram uma ajuda. Começou também a difusão dos programas televisivos sobre as futilidades do nosso género, as dicas, os truques, o look da moda. A par disso, as minhas cores de gaiata da praia/campo também foram desaparecendo e era a minha mãe que me aconselhava, como ainda hoje, a pôr “uma ‘corzinha’, que estás muito desmaiada filha”.

Hoje as mulheres portuguesas pintam-se mais, basta andar na rua para perceber isso. Geralmente pintam-se mal, mas isso é outra coisa.

Os homens portugueses, por seu turno, continuam com um grande grau de desconfiança em relação a isso. Conheço muitos que não gostam de ver, ou porque receiam que o “betume” tape uma demasiado evidente feiura natural ou porque têm medo que a pintura acrescente mais um factor de complexidade à já abstracta mente feminina. Não conheço bem as suas razões, mas prefiro não entrar pelo cliché machista, porque acho que nem sempre os homens o merecem.

Eu, apesar de toda a minha vocação infantil, acabei por nunca me pintar todos os dias, pelo menos com todos os requisitos, passos e pós exigidos. E assim me encontro, com mais olhos do que barriga. Tenho uma mala gigante cheia de pincéis, sombras, batons, bases, máscaras, blush... e não resisto a meter o dedo em tudo quanto é expositor, vidrada que fico nas cores e na infinidade de apetrechos e produtos, cuja aplicação às vezes até desconheço, e, no entanto, ando a maioria das vezes de cara lavada e com muito protector solar.

E não, não é que acredite na beleza natural. A beleza é só uma. A mais bela possível.

16.4.05

A neura

Se eu pudesse dividia a neura em dois

o neu para ti

a ra para mim.

Do neu tirava-lhe o n, que é letra de negação

e ficava só o eu,

que vale bem mais do que estar só em mim.

Do ra

acrescentava-lhe a zão,

que afinal deve haver uma razão para dividir a neura por dois.

Um neurótico sozinho não chega a chatear ninguém.

1º aniversário

No próximo dia 17 de Maio, o Código de Santiago faz um ano. Aceito sugestões dos meus meus V.I.R. (Very Important Readers), via comentários ou email: asantiago@iol.pt

Obrigada.

As casas da sorte

A minha amiga Sónia anda a tirar um curso de Reiki, depois de já ter feito uma pós-graduação em bio-dança (não faço a mínima ideia do que seja, só sei que as aulas decorriam na mata de Sintra...).

Ontem apareceu-me com um novo código baseado em números calculados pela nossa data de nascimento. Segundo os meus números - 2 e 5 (e eu que gosto é do redondinho 8) sou influenciada pela lua e tenho tendência para vícios, tanto nas devoções, como nas obrigações.

A Sónia estava histérica, tinha descoberto a luz e decidiu partilhá-la comigo, eu que sou a amiga mais dada a entender estas coisas, ou talvez a única. A Sónia vive rodeada de cépticos materialistas.

Entretanto, à conta da última descoberta da minha amiga, entretive-me a fazer o balanço numérico dos meus contactos de terceiro grau com ciências do além, nos últimos tempos:

Assisti a 6 palestras sobre reencarnação;

Assisti a 1 palestra sobre o Ki das 9 estrelas (mais um código de números);

Li 1 livro sobre astrologia da célebre Linda Goodman, que é verdadeiramente "assustador";

Conheci 1 especialista em quiromancia (leitura de mãos);

Conheci 1 especialista em tarot;

Conheci dois médiuns;

Alguém me disse que estou a terminar um ciclo de 7 anos;

Tive 6 sonhos conscientes (acordada) premonitórios;

Diverti-me a fazer, sem exagero, uns 15 testes de personalidade dos blogs (que gato és, que filme és, que figura mitológica és, etc...);

Vi aproximadamente 7 vezes a astróloga Cristina Candeias na "Praça da Alegria" da RTP;

Conheci 3 pessoas influenciadas pela Alexandra Solnado;

Tornei-me fã de um site sobre astrologia - www.astro.com;

Tive 1000 conversas sobre astrologia, quiromancia, tarot e reencarnação com os meus amigos;

Chamaram-ne maluca pelo menos umas 20 vezes.

(...) fora outros encontros menos imediatos, que de repente não me ocorrem.

Cheguei a duas conclusões. Primeira: Mais do que querer adivinhar o futuro, anda meio mundo a tentar perceber o presente, num desepero para se conhecer a si e aos outros. Segunda: Espero que a curiosidade não me mate.

Terceira via: Apesar das inúmeras somas algébricas, linhas, mapas e cartas ao meu dispôr, é no meu código que eu confio mais.

Para a Cristina

A Cristina cumpriu com êxito uma etapa longa da sua vida académica e profissional. Estudou, estudou, estudou.. com disciplina e afinco e, só por isso, merece toda a minha vénia! Um mês enfiada em casa a preparar a apresentação da tese é obra que eu jamais empreenderia com a falta de paciência que tenho para assentar arraiais em frente aos livros... Embora ela não aprove, já bebi um gin tónico em sua homenagem e, enquanto corto a lima para mais logo (eu sou bebo gin tónico ao fim-de-semana e depois das 20H00), aqui fica o meu maior desejo feito poesia, pela sua escritora preferida:

"...e a juventude me foi eternidade"

Sophia de Mello Breyner

12.4.05

New Order

Os New Order têm um novo álbum - "Waiting For The Sirens'Call". Os New Order vêm a Portugal pela primeira vez. Os New Order actuam dia 28 de Maio no festival Super Rock Super Bock. Os New Order são uma das bandas da minha vida. Estou feliz.

Nota: No mesmo dia actuam também os Black Eyed Peas e Moby. Continuo feliz.

Recado: Francisco e Lolita, eu vou!

Manual de ensino para adultos

Henry Higgins estava convencido que sabia mais do que Eliza... Eliza estava convencida que não queria ser ensinada. "My Fair Lady" convenceu-me a nunca desistir de aprender.

11.4.05

Códigos uma ova

Código da estrada, código deontológico, código ético, código de barras, verde código verde, código de honra, código da praxe, código Da Vinci... E eu?

Noites caídas 4 - Jamaica

Depois de umas tantas noites que foram caindo sem glória nem registo que o valha, à excepção das boas companhias, na sexta-feira voltei ao Jamaica, no Cais do Sodré.

E a noite caiu bem. Tão bem que esta semana estou com as víceras ao saltos para lá voltar.

Sobre o Jamaica há muito a dizer. Já escrevi até uma prosa evocativa sobre aquele canto escuro do Cais, que um dia ainda hei-de publicar, quanto mais não seja para honrar as memórias de alguns dos seus obreiros e frequentadores que na ocasião resolvi entrevistar. Devo-lhes isso.

Na sexta-feira o ambiente continuava surreal. A rusga, o desdentado, a puta, o cromo, a tia, os amigos, o estudante, o tio, o colunável intelectual, os amigos, os saudosos, os chungas, os betos liberais, os queques armados em Bloco de Esquerda, os amigos, a mão na anca, os pretos, os brancos, o engate.

Novidade: Dancei, dancei, dancei, como já não o fazia há anos. A música, a modos que inserida numa play-list desconexa, estava boa. Rock, lembram-se? Pop bom, lembram-se? Os setenta, os oitenta e os noventa, lembram-se? Eu já não me lembrava.

A bola de espelhos e aquela luz que nos põe os dentes e a roupa "brancos mais brancos não há" tiveram um sedutor efeito hipnótico e retroactivo que pode criar dependência aos mais impressionáveis.

Devia ser proibido...

... haver mulheres assim: O que se passará com elas? Saberão ao certo o impacto que criam e a admiração que provocam? Será fácil ser assim? Às vezes penso que se vivesse as suas vidas, dentro daqueles centímetros bem medidos, acabava num centro de recuperação de drogas ou alcoólica. A coisa mais normal para mim é que elas se passem de vez em quando.

8.4.05

Pensamentos in vitro 14

"Gosto de ti tal e qual como és"

Isso a gente já sabe...

O pior é que quando se deixa de tentar mudar o outro... nah. Já não vai lá.

Experiência laboratorial já comprovada: Há sempre um atomozinho que queremos que seja diferente no outro. Quando ele se esfuma... Acabou a química.

João Paulo II, 1920 - 2005

"Ringrazio tutti. A tutti chiedo perdono". (Agradeço a todos. A todos peço perdão).

in Testamento espiritual do Papa João Paulo II

Ao fim de mais de uma semana de especiais e de todo o tipo de comentários sobre o Papa João Paulo II, o que registo são estas palavras. Sublimam a sua humildade e é esse traço do seu percurso que guardo dele.

João Paulo II não era perfeito e defendeu virtudes de cuja utilidade suspeito, mas nunca lhe ouvi a arrogância e a superioridade eclesiástica. Não se limitou a eregir a exclusividade católica, antes peregrinou em busca da bondade e da legitimidade que existe ainda nas várias formas de adorar, ou não, a Deus. Foi assim que tentou que o mundo se chegasse a Deus. Não chegou. Mas o mundo ainda não desistiu e quem vier agora que não se esqueça disso.

6.4.05

Simpatias

Tenho este feitio: Ou amo ou odeio. Raramente sou indiferente ou assim-assim. Há pessoas que imediatamente me apetece torturar com palavras e/ou desprezo absoluto. Outras por quem sinto uma irresistível vontade de incluir no meu círculo de empatias. Também sou assim com os artistas - a aura acima do produto. No caso de Margarida Pinto os dois convergem, tem voz de mil sentimentos e os sentimentos dela só podem ser bons. Vou ouvi-la e muito.

Baby Lónia, um ano de poesia

Penitencio-me desde já aqui perante ti Baby. Fizeste um ano e eu distraída que andei não exultei de alegria contigo pela pena sensível com que preenches o teu espaço na blogosfera. E são as tuas palavras a melhor forma para mim de evocar o primeiro aniversário.

Um dos meus preferidos...

vem cá

vem cá

acerca-te devagarinho

quero mostrar-te o caminho

do côncavo do meu olhar

vês-me inteira?

é vez primeira

tardei em ver-te chegar

mas vou

dizer-te baixinho

colar em beijos carinho

até a dor se gastar

assim

madura e premente

deitada nesse presente

vertical no teu lugar

... Sim, eu sei. Quando respiro fundo, só respiro amor. Romântica afinal.

Kisses para ti Baby.

4.4.05

Sou uma V.I.B.

... Very Important Blogger.

O Lusofolia encontrou a designação e a Objectiva 3 até ressuscitou dos livros para me atribuir a função (ver comentário no post anterior)!

E olhem, é verdade! Sou mesmo uma V.I.B. Houve uma altura em que andei muito preocupada com o facto de pouca gente me ler. Disparate. Já me passou.

Os meus leitores são todos V.I.R. - Very Important Readers. E vão vindo. Isso é que importa. Obrigada e, como se diz em Hollywood, God bless you!

1.4.05

O homem anda nervoso

O meu marido anda nervoso. À custa de eu ter andado a arrastar móveis sozinha e a limpar umas marcas esquisitas no chão, fui para o hospital a pensar que tinha as costelas partidas. Foi só uma mialgia ou lá o que é(um jeito, uma distensão muscular, sei lá), mas fiquei um bocado imprópria para consumo.

O meu marido ficou em casa de imediato. (Não fez mais do que a sua obrigação, claro). Agora é o meu assistente particular e motorista. Já lá vai uma semana, sendo que segunda feira dispenso os seus serviços, porque volto à vida activa. Graças a Deus.

O tipo tem bom feitio, leva-me o pequeno almoço à cama, lembra-me de tomar as drogas, manda-me sentar e recomenda-me descanso. Eu obedeço. Mas vê-se que anda cheio de nervos, e sorte a dele que a nossa máquina de café avariou, porque o homem passa a vida a ir beber café à rua. Assim que ele sai só me dá para rir, agarrada às costelas não vão elas partir-se. Eu compreendo-o. Há uns três anos ele foi operado ao joelho e a recuperação dele em casa, à custa das minhas costas e braços, foi penosa, sobretudo para ele. Ao fim de três dias eu já não o via, leva água, tira tabuleiro, pôe filme, tira jornal, dá livro... Ufa.

Bem dizem os antigos: "Deus nos dê muita saúde!", porque por quem se ama somos capazes de atrair a doença só para lhe ver a cura.

Quando achamos que ele já não nos surpreende...

... ele suspira ao nosso ouvido por uma bela mulher.

Palavra de honra, fiquei admirada.

Pensamentos in vitro 13

Se desvalorizamos a paixão porque dura pouco, não estaremos a empenhar demasiada coisa no amor só porque este dura mais?