Dão-se alvíssaras
Perdeu-se na noite um grupo de bons amigos nascidos na década de 70, com esporádicas filiações amistosas com membros da década de 60 e até de 50 (na fase tardia).
Estes rapazes e raparigas desapareceram de suas casas há uns anos atrás, para se divertirem, supõe-se, nuns bares e discotecas onde foram vistos pelas última vez a dançar até altas horas da noite, mas não tão altas como agora. Alguns testemunhos para o historial do grupo, registados no princípio das investigações, dão conta que no início era normal o grupo sair de casa mal o sol se punha, ir ao cinema, petiscar uns 'hamburguers' e uns cachorros nuns 'snacks' sem marca registada, ou morder umas carnes numas tascas que ainda não eram finas, e ir a correr para a discoteca para assistir à abertura da pista. Na altura, já havia uns mais modernaços que gostavam de chegar tarde, preparando caminho para a já promissora condenação da saloiice vigente.
Depois de "snifar" os fumos que se escapavam por todos os lados da discoteca, e observar as combinações psicadélicas de cores, começavam então a dançar sob o signo da bola de espelhos, esse mítico astro da noite. Numa fase primitiva, ocorria uma estranha forma de acasalamento sem imediatos fins procriadores - o 'slow', uma estranha alegoria às gerações progenitoras; O rapaz convidava a rapariga para dançar uma balada, com a barriga e as caras coladas. Esteticamente e em termos técnicos, os passos enunciados eram muito pobres, e raramente o casal saía do mesmo lugar. Mais uma vez, já na altura, havia uns mais modernaços que gozavam com aquela saloiada.
A sessão acabava cedo. Suados de tanto dançar, por volta das 3 ou 4 da manhã começavam a pensar ir para casa, para terem tempo de, no caminho, engendrar uma maneira de enganar o padeiro mais desprevenido para lhes vender uns bolinhos quentes. Ainda por confirmar, está a declaração de uma testemunha ocular que afirmou ter ouvido numa das ocasiões um ou dois dos desaparecidos a desafiar o grupo a prosseguir a noite, instigando os companheiros a procurar locais alternativos que estivessem abertos até mais tarde.
A última vez que foram vistos, no início da década de 90, foi à saída de uma discoteca já desaparecida da zona de Alcântara. Mas há relatos que apontam para o Cais do Sodré, outros para o Bairro Alto e outros para a 24 de Julho (informações avulsas e contraditórias têm dificultado o avanço da investigação). Nessa altura, já não dançavam ‘slows’ nem assistiam à abertura da pista, mas os porteiros ainda não frequentavam todos a mesma escola, e a música não era feita por DJ’s, eles só a punham.
Desde então, surgem ocasionalmente relatos de cidadãos perturbados que afirmam ter visto alguns dos desaparecidos. Ouvidos, com algum descrédito por parte dos agentes da autoridade, estes cidadãos contam que eles apresentam um ar desconsolado e andam em grupo, embora pareçam discutir muito e entrem em muitos bares e saiam logo a seguir.
O responsável pela investigação ameaça encerrar o 'dossier', por considerar que não há mais nada a fazer.
Há, no entanto, uma repórter especializada na área criminal, que persegue esta lenda. Do seu bloco de notas, 'alguém' arrancou algumas páginas onde se lê:
«Hoje fui atrás deles. Estavam irritados... Viste? Eu não disse? Aqui é tudo proibido a maiores de 21! Dizia um. Eu bem avisei que devíamos ter ido ao Lux!!!... Vociferou outra: Nem pensar, aquilo já não é o que era, na última vez que lá fomos eram só bancários e professoras primárias... Alguém ficou ofendido: E o que é que tens contra as professoras do 1º ciclo do ensino básico, afinal? A coisa estava a ficar feia. Não tenho nada contra as professoras primárias, a minha irmã até é uma! Mas tu sabes do que é que estou a falar, não me enerves... Sugeriu outro: Eh pá, é sempre a mesma coisa. Vamos mas é entrar aqui, que há mesa e tem tostas mistas grandes e boas... A mais queque disse logo: Aqui? Nem penses, o empregado é parvo e os gajos parece que estão todos vestidos com roupa da avó, devem ser de Biologia! Além disso não tem cartão multibanco. Então vamos àquele em Belém! Ó pá, mas tu drogas-te?! Lá é só tias e tios, vestidos com a roupa dos filhos, e música do Henrique Iglésias. Uma de sapatilhas laranja choque palpitou: ‘Bora para o Bairro, ficamos na esquina! Outra de sapatos agulha: Deves estar a gozar, não vim “vestida” para isso! A noite ia ficando definitivamente estragada com a tirada de uma das mais entesadas: Sabem de uma coisa? Nós somos uns parvos. Todos. Nós é que estamos desfasados , devíamos estar em casa, agora já não há nada para nós. Ou alinhamos no que há, ou vamos para casa. Eu vou para casa!... E ameaçou abandoná-los. Então vai! Berraram uns. Vá lá, não se chateiem... Bolas, pá. Não vale a pena. Olha, eu estou com sede. Quem quiser que me siga. Seguiram todos. Ainda ouvi uma a dizer: Eh pá! Que frustração! Juro que amanhã vou falar sobre isto no meu blogue e perguntar se alguém conhece sítios giros para gente gira (e modesta!) como nós. Vou pedir ajuda para um roteiro. Entre risos de gozo: Lá está ela com a mania do blogue, já não tinha pancadas que chegassem ainda nos inferniza... Indignada ripostou: Se vocês lessem mais gostavam, mas vocês estão todos velhos... blá, blá, blá... Sem a poderem já ouvir, só lhe responderam: Bebe e cala-te!...»
PS - Para quem não teve pachorra de ler este post demasiado extenso, serve o mesmo para que deixem ficar na caixinha de sugestões aqui em baixo, dicas para o roteiro daquelas pobres almas penadas que por aí andam às vezes à noite...
2 Comments:
Ó Clark, quando eu o encontrar na noite mando-o logo para casa! Com o máximo de sete pessoas e um minímo de cinco!
Essa noite fica para a história! E continuo com grandes dúvidas sobre os locais para onde podemos ir no próximo fim de semana!
A das Sapatilhas Laranja
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