Sós (sem drama)
Lá vai mais um caixão sozinho no carro funerário. É um velho sem família que morreu num lar, é o que penso sempre. Triste. É sim, é muito triste. No entanto, não existe maior solidão que o nascimento e a morte. À partida, nascemos sós. À chegada, podemos ter à nossa espera uma família carinhosa e um berço confortável, mas ainda assim estamos sós no mundo pela primeira vez. Alguém depois nos guiará, por palavras e acções, no percurso da vida, mas estar só é a nossa condição, até à morte.
Cada alma tem o seu caminho.
Cada vez que tomamos uma decisão, estamos sós.
Cada vez que respiramos, estamos sós.
Cada vez que estamos doentes, estamos sós.
Quando casamos, estamos sós.
Quando procriamos, estamos sós.
...
Estamos sós porque em todas as ocasiões defendemos o nosso lugar no mundo, na sociedade, no trabalho, na família, no grupo de amigos. Por mais companhias que tenhamos, e causas que partilhemos, ocupamos um espaço único, que jamais vaga. O velho do caixão sozinho no carro funerário não está mais só do que viveu. Não está mais só do que nós. E isto nem sequer é triste, é real. Sem drama.
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