vidas reais
- Oh pá, gostava de ter uma gaja que fosse comigo para a praia ver-me surfar.
- Mas tu nem sequer sabes surfar!...
- Então gostava de ter uma gaja que fosse ver-me jogar à lerpa*.
*jogo de cartas à gajo
... porque nós seremos sempre o segredo mais bem guardado do mundo.
- Oh pá, gostava de ter uma gaja que fosse comigo para a praia ver-me surfar.
- Mas tu nem sequer sabes surfar!...
- Então gostava de ter uma gaja que fosse ver-me jogar à lerpa*.
*jogo de cartas à gajo
*Acabadinho de comprar...
Há muito tempo, com excepção dos The Gift, que não havia um projecto musical português que me entusiasmasse tanto como este dos Cindy Kat.
Está bem, está bem, estão lá os instantâneos da Sétima Legião, uma das minhas bandas de sempre... O Pedro Oliveira continua o mesmo, a cantar mal dizem, mas, por estranho que pareça, isso da voz nunca foi coisa que por si só me entusiasmasse num cantor, até porque prefiro a palavra intérprete. E neste, como nos trabalhos da Sétima legião, são as canções, o que dizem, embrulhadas nos sons que acendem aquela chama que nos puxa para a pista ou para onde quer que busquemos transportar-nos, o que importa. As letras são simples, com os temas recorrentes do amor, da alma, da perda, da saudade, da ilusão... Que são simples, não por si, mas pelos sentimentos que nos provocam. Há canções que complicam, há as que põem a nu, com uma simplicidade quase infantil, os nossos tormentos. Nem mesmo a faixa 7 (brilhante), o Miúdo, escrita e interpretada pelo JP Simões dos Belle Chase Hotel, mais retorcida, destoa do conjunto.
Depois acontece-me com os Cindy Kat o mesmo que com os Sétima Legião e os Heróis do Mar (outra banda de eleição) - um regresso à nacionalidade, ao ser português; A mim que para a música portuguesa necessaria e obrigatoriamente cantada em português sempre estive, e continuo, nas tintas. A música é de todas as línguas. E o projecto dos Cindy Kat, a começar pelo nome próprio e a acabar nos temas interpretados pelo Sam, é a prova de que o português ou o inglês ou qualquer outro idioma surgem naturais e sem complexos, ao contrário de outras bandas nacionais que superiormente se consideram por cantar exclusivamente em português (mas isso é matéria para outro post).
Não estranhem também se ouvirem sons familiares neste primeiro disco. Eu falo por mim, mas na quarta feira passada no Lux dei comigo a sentir os Joy Division, os New Order e até os Gene Love Jezebel... Mas isso sou eu, que ando sempre à caça de similitudes. Não é por mal, faz-me bem. Boa escuta.
*Edgar e Samuel: Sempre se encontraram ao pequeno almoço na FNAC?
Não páro de trautear "...because you're mine, I walk the line...".
O sábado à noite foi uma animação cá em casa. Depois dos esgares apaixonados do Joaquin Johnny Cash Phoenix e da pronúncia sexy da Reese June Carter Witherspoon, tive a tentar explicar à C. que o mal das mulheres é perguntarem: Porque é a minha vida não é como nos filmes? Fiquei quase rouca. Amanhã vou gastar mais uma vez o meu latim... Pegando em duas pérolas recentes da cinematografia - "Orgulho e Preconceito" e "Walk the Line", vou explicar de uma vez por todas como é que os filmes podem dar cabo da cabeça das mulheres. Será porque as mulheres confundem a realidade com a ficção? Não, é exactamente porque não o fazem.Neste momento, o meu marido entretém-se a ver os programas mais estúpidos da TV que o zapping lhe oferece, com destaque para os rescaldos, comentários e revisões exaustivas da jornada futebolística. Esta é uma benesse que eu lhe concedo aos domingos à noite, não por bondade, mas porque não dá mesmo mais nada de jeito.
Os domingos à noite são os mais estúpidos e indefinidos da semana. No que respeita à comida, acabam por ser interessantes. Não sei quem começou, mas convencionou-se em muitos lares que ao domingo não se janta, o que dá azo a comer o que calha e apetece - os restos do almoço, guloseimas, petiscos e tudo o que houver nas tupperwares do frigorífico e na despensa. É também o dia em que se usa o termo lanche ajantarado. Porquê? Porque o domingo é suposto ser o descanso de todos os guerreiros, a começar pela artilharia pesada da cozinha. Descansam-se os tachos, põem-se a trabalhar o micro-ondas e os abre latas. Eu hoje tive um lanche semi ajantarado. Comecei a comer às cinco e meia da tarde bolinhos caseiros no chá da amiga S., e acabei agora de engolir um cachorro. Coisinhas leves de domingo.
Os domingos têm outra característica igualmente nociva. São demasiado diurnos. O Sábado é dado aos programas a partir das oito da noite, tudo é giro e pode ser festa, a malta arranja-se, mete roupinha vistosa e anda com a gana toda porque no dia a seguir pode dormir até apodrecer (claro que este post está escrito à luz dos que não têm filhos, os que têm que recordem os bons velhos tempos). No dia em que dormimos até apodrecer, o domingo, restam-nos meia dúzia de horas livres antes da hibernação pré-segunda feira. Ou seja, restam-nos os programas insonsos diurnos que antecedem a noite dominical, quando chegamos ao sofá para carpir a proximidade da semana laboral. Nessas poucas horas de sol, levamos com os filhos dos amigos que nos chamam tios (benza-os Deus, que inocentes são), aturamos chás a horas decentes para possibilitar a participação dos papás, andamos a passear ao ar livre, visitamos, somos visitados, há quem aproveite para ir ao supermercado, há quem arrisque as filas para a matiné do cinema, há quem vá ao ginásio, há quem deambule no centro comercial, no Verão há a praia... Tudo para dar uso ao dia livre mais seca da semana.
O remédio para sobreviver sem traumas ao sétimo dia é esperar que chova a cântaros e enfiar-se no sofá a tarde inteira com um cobertor e boa companhia. O mal não é ser domingo, é ser domingo para (quase) todos. Devia ser dada a escolher a sua localização na semana. A mim dava-me jeito entre a quarta e a quinta-feira.
Nota: Gosto de ser tia e espero que me continuem a convidar para chás das cinco e programas saudáveis ao ar livre. Felizmente, muitos domingos até tenho de trabalhar. Por isso, nem sei porque é que me estou a queixar...
Neste momento, eu conjugo-me no pretérito perfeito. Estou blogada. É um estado que não me compromete mas evidencia-me a sobreposição de camadas de que somos feitos. Camadas e camadas... Costumo advertir os incautos que isto dos blogues poder ser uma terapia, uma subversão, uma treta, nada, um passatempo, uma coisa, o que se quiser. A indefinição leva à loucura, já se sabe. Não sei se é pela necessidade de terapia colectiva, mas hoje ocorreu-me esta frase pirosa: Um cidadão, um blogue. E ainda uma pergunta à colunista de costumes americana (daquelas que andam a passear-se estampadas a cores e em grande nos autocarros dos EUA): Será o blogue o psicanalista dos nossos tempos?
O Manuel Jorge Marmelo deu-nos a provar, no Tatarana, uma colheita de vinho datada dos anos 30.
O trecho do Estado Novo lembrou-me que sou uma fraca de espírito e a vergonha da família. Não gosto de vinho. Também não gosto de cerveja, de café e de champagne, o que não me chateia nada, mas de vinho queria gostar. És nova, hás-de lá chegar, é um gosto que se aprende, tens é de beber bons vinhos, mas não gostas mesmo? Passo a vida a ouvir disto... Já não sou propriamente adolescente, não vejo hora de chegar (e onde já agora?), devo ser burra, já me deram bons vinhos (mal empregues) e não, não gosto mesmo, vou respondendo de gin tónico na mão.
Estou-me nas tintas a maior parte das vezes, mas... Queria sentir aquela cor sangue a quente nas faces, segurar o copo encostada a uma umbreira da porta, ir a um restaurante e gastar (ou fazer gastar) uma fortuna numa garrafa de não sei quantos anos, ir à terra e andar com o meu tio de adega em adega, chegar a casa do meu tio e não ouvir pela enésima vez e para ti é uma coca cola ou uma laranjada?, sujar uma toalha de mesa branca com uns pingos da minha pinga, encostar-me a uma umbreira da porta com um copo na mão (esta imagem não me sai da cabeça...). Pronto, está bem, admito, eu queria dar aquele ar de rapariga sofisticada quando é preciso e tasqueira desembaraçada quando calha e assim tem de ser.
Eu queria mesmo gostar de vinho. Quem me negou este gosto? E posso trocar? Cedo uma obsessão por Nestum de Arroz e por castanhas cruas. Chocolate, cerejas e maçãs são sagrados, não há vindima que mos leve.
A semana não tinha corrido bem. À beira do sábado comecei a ceder ao cansaço mais intolerável, aquele que não resulta de acções que nos absorvem pelo entusiasmo, mas daquelas que nos comem por parvoíce. Eu também tinha, toda a semana, engolido tudo por inteiro, sem digerir, nem saborear.
Para queimar tanta inquietude que esses cansaços me causam, resolvi que o fim de semana iria ser passado entre a cama, o sofá e o ginásio. Queimar sono e queimar calorias. A mente e o corpo, um duo que normalmente anda de trombas por diferenças irreconciliáveis.
A parte do sono correu bem, não me lembro de dormir tanto há anos. A parte do ginásio também, mas doeu-me a mente pela penitência do corpo. Talvez porque desde há muito tempo que os dois não se confrontavam dessa maneira. Normalmente a ida ao ginásio é parte da rotina diária, na qual a mente mete o piloto automático... Vê-los, ou senti-los, os dois confrontados, fez-me perceber o quão perigosos são estes fins de semana higiénicos, assim expostos aos espelhos dos ginásios modernos e analisados no sofá de casa.
Ou a mente e o corpo se entendem de uma vez, e suportam os defeitos de ambos, ou nos próximos fins de semana terei de escolher entre um e outro, entre o Céu e o Inferno... Mas não me parece que estes sejam tão perturbadores e esclarecedores como o Purgatório, esse estado em que a alma se encontra com a matéria e não vêem meio de se largarem. Para mim, por enquanto, o Céu pode esperar, preciso seguir o caminho mais difícil.
Conheci há tempos um tipo francês, fotógrafo de profissão, que decidiu viver em Portugal, e ao fim de uns anos ainda não se arrependeu. Perguntei-lhe, na ocasião, abismada, porquê?! A minha pergunta caiu-lhe mal e desconfio que ficou logo a olhar-me de atravessado. Porquê?!!! Respondeu. Você já viveu no estrangeiro? Não, infelizmente. Retorqui só para provocar. Seguiu-se a habitual ladainha dos estranjas sobre Portugal, o sol, o clima, blá, blá, e não damos valor ao que temos, blá, blá, blá, e que temos Paz, bléu, bléu... Ainda esperei que ele dissesse e as mulheres portuguesas são muito bonitas, sempre tinha safado a conversa, mas não. Entre um canapé e um tónico, lá o deixei a remoer sobre os benefícios de viver em Portugal. O francês irritou-me, portanto.
Ele era meio tonto, mas quando começo a ouvir-me e a ouvir tanta gente à minha volta com vontade de emigrar, desiludidos e enfadados que estamos com o país, lembro-me dele. Ele lá terá as suas razões, que são tão legítimas como as nossas, os que estamos com um olho na fronteira. A cada país correspondem, medidas singularmente pelos seus habitantes, as alegrias e as tristezas, as obsessões e as desilusões, que de fora, ao olho do estrangeiro, são invisíveis e imensuráveis. Somos todos estrangeiros. Essa é a nossa condição, feliz mas, e talvez por isso, ignorante em casa alheia.
Ocorre-me agora frequentemente, a par de ir viver para Barcelona, Madrid ou Nova Iorque, outro pensamento que começa a ser grude: ganhar vontade de ir para fora cá dentro. O slogan é conhecido e não é, neste caso, um elogio ao turismo de habitação e às quintarolas românticas que povoam o nosso berço... É um grito de liberdade. Acredito que as fronteiras que criamos interiormente são mais limitadoras que as fronteiras geo-políticas. A vontade de sair do país não passa muitas vezes de uma vontade de sair de nós mesmos, quebrar barreiras, cruzar avenidas interiores ainda por inaugurar.
Jamais serei feliz em Barcelona ou em Nova Iorque se continuar cá dentro, sem ter ousado ir para fora. Quando for, não será para fugir (e se tenho vontade!), será para me expandir. Aí sim, colocarei a bandeira verde e rubra em terra alheia, sem vergonha nem raiva, porque das misérias deste país só eu e todos os portugueses sabemos. Os estrangeiros que continuem na ignorância.
Se o meu carro falasse por mim estava lixada. Não haveria vivalma que se aproximasse a menos de cinco metros de distância, e mais cedo ou mais tarde sairia uma ordem do tribunal a interditar a minha circulação na via pública.
De todas as infracções de coerência em que incorro, a miserável estima pelo meu veículo é a mais grave. Fanática do banho assumida, turcos incluídos, consumidora compulsiva de artigos de higiene e alindamento corporal, dos perfumes e da companhia toda, eu acumulo em pó no veículo, que me transporta limpinha e cheirosa, porção igual à de geles e betumes com que me unto em casa.
Com que direito? Nunhum. É uma vergonha. Os ácaros estão a dominar-me e já penso em conduzir de luvas (hummmm há umas na Luvaria Ulisses sem dedos lindas!).
Quem me conhece e entra pela primeira vez no meu carro pensa que é emprestado ou que eu sou um bluff... Digo sempre: "Pois eu sou um bocado descuidada com o carro, não me perguntem porquê... Não sei explicar". Mas começo mesmo a ficar envergonhada e sem saber o que dizer...
Hoje vou ao Corte Inglés pôr-me na fila para a higienização do meu bólide. Com a mania das limpezas (pessoais e domésticas, lembre-se) que tenho, ainda me meto lá dentro e aproveito para me desinfectarem também. Quero continuar a ser mais limpinha do que ele.
Que alguém me representasse a traço impulsivo, me fizesse em ironia e suscitasse a crítica. Que tecessem opiniões, organizassem revoluções e numa manif me queimassem ou elevassem. De uma maneira ou de outra, nunca a minha imagem será consensual mesmo...
Slave to Love - Bryan Ferry, 1985
Tell her I'll be waiting In the usual place With the tired and weary And there's no escape To need a woman You've got to know How the strong get weak And the rich get poor You're running with me Don't touch the ground We're restless hearted Not the chained and bound The sky is burning A sea of flame Though your world is changing I will be the same The storm is breaking Or so it seems We're too young to reason Too grown up to dream Now spring is turning Your face to mine I can hear your laughter I can see your smile No-I can't escape I'm a slave to love
O filme abriu a porta do frigorífico e derreteu uma geração... A canção acabou com o resto. A partir daí andei a ver se conseguia chegar às 10 semanas, mas não há coração que aguente. Já a combinação comida/sexo é muito saudável, desde que ambos não passem do prazo.
Prosseguem os festejos até às 24H00 de hoje.
Que nunca ninguém diga "que rapariga tão mal empregue"... O povo consegue ser muito cruel.Feel - Robbie Williams, 2003
(...)Before I fall in love, I'm preparing to leave her. I scare myself to death,That's why I keep on running. Before I've arrived, I can see myself coming...
I just wanna feel real love, Feel the home that I live in. 'cause I got too much life, Running through my veins, going to waste
Robbie Williams, alma gémea da perdição, da corda bamba a pender para a desgraça, gajo giro com tatuagens a mais, e ainda assim giro como o raio (fazer o quê?). És uma desgraça, às vezes até és piroso... Se outros te cantassem, bolas não tinha ido ao Atlântico ver. A ti tudo fica bem.
By the way, PARABÉNS! Hoje fazes 30 aninhos, e tão bem vividos. És mais novo do que eu?!!! Não há direito. Tchim tchim.
Heaven - Bryan Adams, 1983
Este era daqueles álbuns origatórios em todas as festas, igual estatuto só o Born in USA do Springsteen... Lá dentro o Heaven era a cereja no meio do vinil, a razão para nos aconchegarmos e mentirmos com quantos dentes tínhamos: "Baby you're all that I want, When you're lyin' here in my arms... ".
Take My Breath Away - Berlin, 1986
Ai eu e os aviões... Na altura, o Tom Cruise não parecia tão baixo, os óculos escuros da Ray Ban eram um must, a Kelly McGillis era uma bomba, e eu queria ir para a Força Aérea como civil e sofrer um dano colateral.
Esta era aquela canção que nos fazia suspirar e dançar nas matinés das discotecas. Lembram-se?
Aproxima-se o Dia dos Namorados. Aquele de que ninguém gosta e quase todos acham piroso. Apesar disso, sucedem-se por aí dicas de hotéis, restaurantes, presentes, recados e surpresas antecipadas... Este ano resolvi associar-me aos festejos. Enlouqueci. Vou dar dicas para o Dia de São Valentim. E esta?
O post it (rosa choque) é especialmente dedicado aos sem namorado(a), vulgo encalhados, revoltados, desiludidos, "à espera do(a) ideal", românticos, sós, maus feitios e liberais em geral... O Dia dos Namorados deve ser um projecto social inclusivo. Diga não à descriminação.
Decidi que o dia 14 de Fevereiro deve ser como o Carnaval, ninguém pode levar a mal...
- Comece o dia por se arranjar e perfumar da cabeça aos pés. Vista-se de rosa ou vermelho. Use umas cuecas cor-de-rosa oferecidas para dar sorte, como na passagem de ano. Se tiver lata coloque ainda um coração na lapela;
- Quando chegar ao trabalho beije na boca todos os seus colegas, mesmo aqueles a quem normalmente nem um passou bem daria... Lembre-se que o Dia exige sacrifícios, mais ou menos como o Natal. A coisa tem o seu lado positivo, pode aproveitar e dar à língua com aquele(a) colega giro(a), independentemente do seu estado civil... O que é importante é o amor e a boa vontade entre os Homens;
- Passe o dia a cantarolar e a ouvir em altos berros aquelas canções românticas pirosas que escuta às escondidas ou que, odiando, servirão para atormentar os colegas. "Tudo pára quando a gente faz amor" do Roberto Carlos, uma balada da Britney Spears, os Divo, sei lá... (Ainda hei-de fazer uma lista de canções "romélicas" para o Dia, do pimba ao aceitável e ao mesmo muito bom. Se tiverem sugestões apresentem-nas aí em baixo);
- Encha as contas de email dos seus amigos com cartões e mensagens de amor. Aqueles pps plenos de pensamentos para a vida também servem. Os mais atrevidos podem dar-se ao luxo de encaminhar sites pornográficos ou sobre swing;
- Se tiver de assinar algum documento ponha coraçõezinhos em cima dos i e culmine as missivas com frases amorosas (como "tenho tanto amor para dar"), em vez do habitual "com os melhores cumprimentos";
- Quando atender o telefone diga sempre: "Sim meu amor..."
- Coma bombons como se não houvesse amanhã. O açúcar ajuda à combustão cerebral necessária neste dia;
- Na rua, faça olhinhos a toda a gente e lance piropos. No carro, distribua sorrisos aos outros condutores, pisque o olho e tenha à mão uma folha A4 com o seu número de telemóvel para lhes mostrar (ou melhor, tenha duas, uma com o número verdadeiro, outra com um número falso, dependendo do condutor alheio. Lembre-se que esta lista de dicas só é válida para o dia 14 de Fevereiro...);
- Junte um grupo de amigos no mesmo estado civil e organize um "jantar de encalhados", de preferência num restaurante onde se encontrem muitos casais e rosas vermelhas em cima da mesa. Sempre lhes poderão proporcionar um ambiente diferente... ;
- Em alternativa, para o caso de não ter muitos amigos sem namorado, e se for heterosexual, vá com um amigo do mesmo sexo jantar num desses restaurantes... Quando era criança brincava aos papás e às mamãs? Brinque agora aos gays, vai ver que é giro na mesma. Brincar com as mentalidades pode ser muito saudável;
- Para depois do jantar, organize uma festa em que só se dancem slows (lembram-se?) e promova uma maratona daquele jogo fantástico que uma certa geração (a minha) jogava na escola - o bate-pé, recordam-se? (Olhem lembrei-me agora daquela canção do Vitor Espadinha, "E recordar é viver... Só tu e eu..." la la la);
- Se se deitar sozinho, o que será o mais provável, ou não... , reveja os acontecimentos do dia, ria-se e, pelo amor de Deus, pense que no próximo ano já terá namorado(a) e irá passar o 14 de Fevereiro em casa ou num país onde não se festeje o Dia. Caso contrário, corre o risco de levar com um(a) louco(a) a fazer estas figuras.
Seja solidário e coloque as suas sugestões alternativas na caixa de comentários. Dia 15 de Fevereiro voltamos todos ao normal, e não se fala mais nisto.
Tive um sonho. A Lolita tinha-se dependurado na bola de espelhos e fotografado as asas negras de Martin L. Gore. Horas antes, acordada, mas acima do Atlântico, sem pavilhão que me contivesse, fui levada... No meu sonho a Lolita também tinha captado essa imagem. Horas depois, acordada, acredito que as imagens do concerto dos Depeche Mode jamais poderiam passar do estado onírico, se o próprio concerto não passou ainda. Gostaste, perguntaram-me hoje? De quê? Do sonho ou do concerto? Dos Depeche? Sempre.
Estou cansada até às artérias, o couro cabeludo está cheio de stress (o que me lembra que hoje tenho de fazer uma máscara nutritiva), arrasto os pés para casa, o carro está na reserva e não me apetece nada parar na bomba (o que é feito dos senhores que atestavam o depósito e nós só tínhamos de dar a chave?), doem-me as costas, o pescoço parece uma barra de ferro... Mas amanhã, ai amanhã levo a bola de espelhos na aura e o dark side para o que der e vier, e vou dançar, waiting for the night to fall, com o angel ou com o violator, porque é tudo uma question of lust e as remixs também se papam... Depeche... Depressinha, porque I just can't get enough...
Ontem houve noitada. Viva e recomendada pelas minhas boas companhias, morta e desajeitada pelo ambiente nocturno lisboeta.
Há muito tempo que as noites de Lisboa caem sobre mim sem que as manhãs me tragam a alegria de uma ressaca que não faz mal pelo bem que me souberam os exageros. Mas, de vez em quando, insisto.
Graças à companhia acabo, muitas vezes, por despertar o lado bom da noite. Ou o lado esquerdo, como gosto de lhe chamar. A noite é boa conselheira, boa confidente, regeneradora, avesso dos dias, sejam eles bons ou maus. Somos nós, mas somos ainda mais nós porque só nos restam os outros. À noite precisamos mais dos outros, damos mais atenção à falta deles. De dia sou mais autosuficiente.
A noite é menos egoísta e não lhe vejo solidão, encontro-me nos encontros, é isso, mesmo que me encontre sozinha.
A noite de ontem confirmou-me tudo isto. A noite de ontem confirmou-se.
Não estávamos contentes por estar na noite, antes aliviados por estarmos na noite juntos. Quem mais nos poderia salvar?
O jantar foi uma quase merda e caro. O estacionamento demorou e pagou-se como se pagam os luxos nesta cidade. O Bairro Alto puxou dos galões de freake-ó-chique-intelectual e tivemos de aturar a empregada de trombas, o copo (de plástico) gamado ao balcão, o VJ off conteúdos e o Dj intermitente (vá lá, safou-se no fim com os New Order...). O Jamaica, aquele reduto dançante, apetecível, preso pelas pontas da fauna do Cais do Sodré e com música decente, estava de porteiro com ar de seminarista, à rasca com a casa cheia e com a falta de sensibilidade que honra as nobres tradições dos porteiros de Lisboa.
Lá rumámos ao Lux... Caramba, a malta queria estar junta. Dar noite à noite, que o dia já lá vinha e com ele o síndrome da abóbora, a assombração que povoa as madrugadas. (Ainda por cima não gosto de chegar de dia a casa. Saio à noite, entro à noite. Sou assim.)
A 'geração Lux' estava para lá do auge. O auge não estava lá, é isso. Estavam lá todos e até nós, sem perceber muito bem porquê. Todos são todos, ninguém em particular, um massapão incapaz de se moldar em figurinhas ou cromos. Vi feios, vi bonitos, mas não havia beleza ou feiura que se destacasse.
No terraço frio e deserto do Lux, pusémo-nos, à conta do T., a dissertar sobre a 'geração Lux'. Um termo que o T. aplica para descrever uma certa geração a roçar os trinta, que se julga muito iluminada e disponível apenas a fazer coisas originais, sem muito trabalho mas, claro(!), com muita inspiração. O termo estava circunscrito ao cinema português e à falta de perspectivas animadoras, servidas a frio pela nova geração de cineastas portugueses (salvou-se pelo menos, da 'geração Lux', o Marco Martins que realizou o filme "Alice").
Do cinema a uma teoria sobre o engate, na 'geração lux' acabámos por compreender tudo. Não há geração que salve o sonambulismo nocturno lisboeta. Tensas são as noites, não há dança nem sorriso aberto que liberte as gentes de Lisboa que já não são muitas e desvairadas. O prazer deu lugar ao ar de frete.
No fim da noite, antes de nos transformarmos em abóboras, acabámos por agendar outra noitada para um destes dias. Ainda não sabemos é se vamos bater nas mesmas portas ou se vamos para a província. O mais certo é fazermos apenas umas alterações ao guião - mudamos os décors, acrescentamos uns protagonistas e o final fica em aberto, antes que o The End dê cabo da noite.
O site do fotógrafo Adriano Miranda.
Não resisto a roubar-lhe uma, que digo, duas (!), das belíssimas fotos que trouxe de Cabo Verde aquando da rodagem do filme português "A Ilha dos Escravos", do realizador Francisco Manso.
"A fidelidade não pode significar falta de oportunidade".
A frase é roubada à Roxanne e é superior a mais considerações sobre o assunto. Evoco-a para encimar uma das minhas regras de trânsito pela vida e, com ela, pelas relações.
Tenho amigas giras, uma delas é a Lolita. É alta, magra, tem bom gosto a vestir e tem bom coração. É boa e é uma gaja boa. A Lolita já sentiu na pele (se calhar não se apercebeu, porque é boa, além de boa) a inveja feminina, tão menos grave quanto mais decorrente da insegurança daquelas que destilam aquele sentimento infame.
Falo da Lolita, não porque este post seja sobre ela, mas porque a ela atribuo, neste post, o exemplo maior da minha perspectiva sobre o ciúme e o medo da infidelidade. Se homem novo houvesse, ou houver, na minha vida (porque o velho já conhece bem a Lolita e por ela nutre uma amizade quase fraternal), a Lolita seria das primeiras de todas as minhas amigas a apresentar-lhe. Primeiro porque ela merece e o seu olhar sobre as relações alheias é dos mais limpídos que conheço, segundo porque é essa a minha maneira de estar, na amizade e no amor. Homem que comigo esteja só porque não encontrou mais alternativas é um perigo. Amiga que comigo esteja com medo do efeito que eu possa ter no seu homem não é digna de mim, porque é fraca.
Fechar os olhos ao mundo, manter a cadeado o objecto do nosso sentimento e protegermo-nos nós próprios com vendas e sete chaves são atitudes demasiado cansativas e castradoras, que não nos merecem nem nos fazem merecer.
Ainda me lembro de há uns anos, pré-noiva, estar numa festa do curso do meu marido, cheia de colegas dele, alguns bem atraentes, e o meu pré-noivo perguntar: "Estás a olhar para onde?". Eu respondi-lhe simplesmente: "Estou a olhar para aquele teu colega que é giro. Porquê?". Ele nem respondeu. A resposta da minha fidelidade estava mais do que dada e, felizmente, não era por falta de oportunidade.
... antes pelo contrário. Apenas não resumo a minha atracção pelo sexo oposto à busca de um corpo dito perfeito.
A atracção não é uma equação matemática, é um composto aquoso que lubrifica o nosso cérebro e nos torna permeáveis às (im)perfeições humanas.
Poderia fazer aqui um post extenso sobre homens com ou sem barriga, e se os aprecio musculados ou não... Mas para quê? A ideia é só esta, gosto de homens com barriguinha...
Uma amiga minha louca varrida anda, disse-me, a "cuspir verde". A mulher é doida pelo Sporting e no último fim de semana, precisamente à hora que escolhi para ir ver o "Orgulho e Preconceito", numa sala de cinema meia cheia de gajas enfadadas e de professoras do liceu, esteve vestida de verde frente ao televisor a ver se as águias apanhavam uma gripe das aves que lhes tolhesse os movimentos...
Já tinha desistido de compreender o que a motiva, eu que estou para o futebol como um esquimó para um frigorífico combinado, até que ela me contou no msn que anda a utilizar a sua euforia verde para seduzir os colegas de trabalho - sportinguistas, benfiquistas, portistas...
Confidenciou-me que vai aos blogues de futebol e aos sites desportivos colher umas boas tiradas sobre os jogadores e os passes de bola, junta-lhes umas poses femininas e goooooooooloooooooo... à mesa do almoço está rodeada de gajos a babarem-se.
Finalmente percebi que a relação de algumas mulheres com o futebol é uma jogada de meio campo para atingir o adversário... A minha amiga tem saído claramente uma vencedora. O efeito da sedução dura pouco mais que o efeito ensurdecedor do derby lisboeta, mas ela também me confidenciou que não pretende mais do que isso... É a vantagem de ter muitos campos de jogo e a bola ser sempre, e só (graças a Deus), ao fim de semana.
Pescoço atrofiado por golas altas é coisa que desde que me conheço abomino. Tomara ter um pescoço alto e diáfano, mas não tenho. Aliás, o pescoço é uma das partes mais sensíveis do meu corpo, mas nem por isso a mais bonita. Coisas dos genes. A gola alta, além de me cortar a circulação do ar, ainda me põe o pescoço mais atarracado.
A Sony Hari, pelo contrário, embora nunca a tenha visto de gola alta, escolheu esta ideia de uma camisola esticada até às orelhas para assinalar a sua entrada a solo na blogosfera (a Sony já escreve na Fábrica Lumière, de onde estou prestes a ser expulsa por falta de comparência, mas prometo que vou mudar). Não sei de onde tirou essa ideia, mas da Sony tudo é de esperar, sobretudo surpresas...
Humor sarcástico e uma visão muito particular das coisas, das mais mundanas às mais etéreas, são duas das suas muitas características. Espero que a gola alta não as esconda... Porque, meus caros leitores, It's a Sony...
A loira dos milagres, a Roxanne, comemorou ontem dois anos de blogue, precisamente num dia em que me ausentei da blogosfera para assuntos inadiáveis (ver televisão, comer cereais, inscrever-me no ginásio e dormir sobre as preocupações).
Passa-se uma coisa engraçada com os aniversários dos blogues das minhas amigas, nunca dizem nada e quando avisam, no próprio dia, sou sempre apanhada na folga... Sem presente e sem vergonha.
Como comigo não há parabéns nem mão pelo cabelo que não resulte em ralhete, "pedi" já à minha querida Roxanne que escreva mais vezes... Seria o milagre da multiplicação de todas as suas singularidades.