5.2.06

geração Lux

Ontem houve noitada. Viva e recomendada pelas minhas boas companhias, morta e desajeitada pelo ambiente nocturno lisboeta.

Há muito tempo que as noites de Lisboa caem sobre mim sem que as manhãs me tragam a alegria de uma ressaca que não faz mal pelo bem que me souberam os exageros. Mas, de vez em quando, insisto.

Graças à companhia acabo, muitas vezes, por despertar o lado bom da noite. Ou o lado esquerdo, como gosto de lhe chamar. A noite é boa conselheira, boa confidente, regeneradora, avesso dos dias, sejam eles bons ou maus. Somos nós, mas somos ainda mais nós porque só nos restam os outros. À noite precisamos mais dos outros, damos mais atenção à falta deles. De dia sou mais autosuficiente.

A noite é menos egoísta e não lhe vejo solidão, encontro-me nos encontros, é isso, mesmo que me encontre sozinha.

A noite de ontem confirmou-me tudo isto. A noite de ontem confirmou-se.

Não estávamos contentes por estar na noite, antes aliviados por estarmos na noite juntos. Quem mais nos poderia salvar?

O jantar foi uma quase merda e caro. O estacionamento demorou e pagou-se como se pagam os luxos nesta cidade. O Bairro Alto puxou dos galões de freake-ó-chique-intelectual e tivemos de aturar a empregada de trombas, o copo (de plástico) gamado ao balcão, o VJ off conteúdos e o Dj intermitente (vá lá, safou-se no fim com os New Order...). O Jamaica, aquele reduto dançante, apetecível, preso pelas pontas da fauna do Cais do Sodré e com música decente, estava de porteiro com ar de seminarista, à rasca com a casa cheia e com a falta de sensibilidade que honra as nobres tradições dos porteiros de Lisboa.

Lá rumámos ao Lux... Caramba, a malta queria estar junta. Dar noite à noite, que o dia já lá vinha e com ele o síndrome da abóbora, a assombração que povoa as madrugadas. (Ainda por cima não gosto de chegar de dia a casa. Saio à noite, entro à noite. Sou assim.)

A 'geração Lux' estava para lá do auge. O auge não estava lá, é isso. Estavam lá todos e até nós, sem perceber muito bem porquê. Todos são todos, ninguém em particular, um massapão incapaz de se moldar em figurinhas ou cromos. Vi feios, vi bonitos, mas não havia beleza ou feiura que se destacasse.

No terraço frio e deserto do Lux, pusémo-nos, à conta do T., a dissertar sobre a 'geração Lux'. Um termo que o T. aplica para descrever uma certa geração a roçar os trinta, que se julga muito iluminada e disponível apenas a fazer coisas originais, sem muito trabalho mas, claro(!), com muita inspiração. O termo estava circunscrito ao cinema português e à falta de perspectivas animadoras, servidas a frio pela nova geração de cineastas portugueses (salvou-se pelo menos, da 'geração Lux', o Marco Martins que realizou o filme "Alice").

Do cinema a uma teoria sobre o engate, na 'geração lux' acabámos por compreender tudo. Não há geração que salve o sonambulismo nocturno lisboeta. Tensas são as noites, não há dança nem sorriso aberto que liberte as gentes de Lisboa que já não são muitas e desvairadas. O prazer deu lugar ao ar de frete.

No fim da noite, antes de nos transformarmos em abóboras, acabámos por agendar outra noitada para um destes dias. Ainda não sabemos é se vamos bater nas mesmas portas ou se vamos para a província. O mais certo é fazermos apenas umas alterações ao guião - mudamos os décors, acrescentamos uns protagonistas e o final fica em aberto, antes que o The End dê cabo da noite.

16 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Na Covilhã há umas discotecas muito fixes, com uns nomes muito originais, de ir às lágrimas, e deixam entrar toda a gente. beijos

10:43 da tarde  
Blogger maldito cinema said...

E ainda há o Grenn Hill... geração provincia mas de muuitas manhãs felizes... mesmo com ressaca... que tal alugar uma casinha e passar por lá um fim-de-semana de gajas? Tudo pode acontecer....

11:23 da manhã  
Blogger AS said...

grande ideia!!!!!!! Vamos combinar? Grande ideia!

11:29 da manhã  
Blogger johnny handsome said...

Não há nada como a luz de um novo dia, um par de Guronsans e um novo alento para planear futuras expedições punitivas nocturnas.
Punitivas, no meu caso, porque as mazelas já se fazem sentir e cada vez acordo mais decadente...E a prometer que a anterior foi a última noite em que me meti na narcose sem fazer a descompressão devida. ;-)

1:00 da tarde  
Blogger Paz Kardo said...

Um fim de semana de gajas? Eh pá, o que é que eu estou aqui a fazer?

http://nomadasperdidos.blogspot.com

4:08 da tarde  
Blogger Lua said...

Lux?! Só lá estive uma vez, gostei. Também é fácil gostar de determinados locais se oferecerem o minimo de qualidade e não se tornarem repetitivamente cansativos e monótonos. Também é verdade que os locais são importantes mas mais importantes ainda são as pessoas que os constituem, nomeadamente aqueles com quem privamos e socializamos.
É verdade que já fui mais notivaga, mas continuo a encontrar a "magia" e o "brilho" característico que as pessoas transportam na noite.

E... então Johnny?! Por esse andar estás aqui estás a inscrever-te nas excursões da junta de freguesia!!!;-)

Marta

4:45 da tarde  
Blogger johnny handsome said...

Já estive mais longe, Marta ;-)

5:38 da tarde  
Blogger AS said...

Para a Sony Hari... Eu falei na província, mas não tinha pensado tão longe... Embora esteja com saudades da Covilhã! É desta que quebras o tabu? Vamos à Serra um dia destes? Pelo andar da carruagem, nos próximos fds tenho um Porugal a percorrer com as minhas amigas! Qualquer dia o outro despede-me... :)))

7:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Acho a ideia de ir à serr genial. Depois vamos visitar todas as "capelinhas" da Covilhã, pra fazermos o relatório.

7:14 da tarde  
Blogger johnny handsome said...

Se precisarem de instrutor de ski ou de sacristão para vos guiar ás capelinhas....;-))

9:46 da manhã  
Blogger Lolita said...

Gostei dessa do fim de semana de gajas. Mas podiamos era ir para Madrid! Sempre temos uma noite melhor... ;-)bora? bora?

4:21 da tarde  
Blogger johnny handsome said...

Y en Madrid, si necesitais un guía para la movida y la noche Madrileña....

4:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Aceitam mais um? tb sei umas coisinhas la da ciudad

5:34 da tarde  
Blogger AS said...

Esta caixa de comentários pareceu-me, de repente, uma agência de viagens! Quer tudo andar no laréu, é o que é! :)

8:35 da tarde  
Blogger Samuel Filipe said...

Covilhã e Madrid. Parece-me ideal.

Bora-Bora também não está mal Lolita.

Mas excelente, excelente, só mesmo o post.

Edu, lembras-te da saga da Green Hill?

5:03 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

A ver se me disseram alguma coisa... ai...:)

7:29 da tarde  

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