domingo à noite no recato do lar
Neste momento, o meu marido entretém-se a ver os programas mais estúpidos da TV que o zapping lhe oferece, com destaque para os rescaldos, comentários e revisões exaustivas da jornada futebolística. Esta é uma benesse que eu lhe concedo aos domingos à noite, não por bondade, mas porque não dá mesmo mais nada de jeito.
Os domingos à noite são os mais estúpidos e indefinidos da semana. No que respeita à comida, acabam por ser interessantes. Não sei quem começou, mas convencionou-se em muitos lares que ao domingo não se janta, o que dá azo a comer o que calha e apetece - os restos do almoço, guloseimas, petiscos e tudo o que houver nas tupperwares do frigorífico e na despensa. É também o dia em que se usa o termo lanche ajantarado. Porquê? Porque o domingo é suposto ser o descanso de todos os guerreiros, a começar pela artilharia pesada da cozinha. Descansam-se os tachos, põem-se a trabalhar o micro-ondas e os abre latas. Eu hoje tive um lanche semi ajantarado. Comecei a comer às cinco e meia da tarde bolinhos caseiros no chá da amiga S., e acabei agora de engolir um cachorro. Coisinhas leves de domingo.
Os domingos têm outra característica igualmente nociva. São demasiado diurnos. O Sábado é dado aos programas a partir das oito da noite, tudo é giro e pode ser festa, a malta arranja-se, mete roupinha vistosa e anda com a gana toda porque no dia a seguir pode dormir até apodrecer (claro que este post está escrito à luz dos que não têm filhos, os que têm que recordem os bons velhos tempos). No dia em que dormimos até apodrecer, o domingo, restam-nos meia dúzia de horas livres antes da hibernação pré-segunda feira. Ou seja, restam-nos os programas insonsos diurnos que antecedem a noite dominical, quando chegamos ao sofá para carpir a proximidade da semana laboral. Nessas poucas horas de sol, levamos com os filhos dos amigos que nos chamam tios (benza-os Deus, que inocentes são), aturamos chás a horas decentes para possibilitar a participação dos papás, andamos a passear ao ar livre, visitamos, somos visitados, há quem aproveite para ir ao supermercado, há quem arrisque as filas para a matiné do cinema, há quem vá ao ginásio, há quem deambule no centro comercial, no Verão há a praia... Tudo para dar uso ao dia livre mais seca da semana.
O remédio para sobreviver sem traumas ao sétimo dia é esperar que chova a cântaros e enfiar-se no sofá a tarde inteira com um cobertor e boa companhia. O mal não é ser domingo, é ser domingo para (quase) todos. Devia ser dada a escolher a sua localização na semana. A mim dava-me jeito entre a quarta e a quinta-feira.
Nota: Gosto de ser tia e espero que me continuem a convidar para chás das cinco e programas saudáveis ao ar livre. Felizmente, muitos domingos até tenho de trabalhar. Por isso, nem sei porque é que me estou a queixar...
3 Comments:
"2 E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito."
Génesis Cap. 2
O problema é que o sétimo é o Sábado!!!
O teu "post", antes de mais, está uma pérola. Acho que tenho trauma do Domingo desde os tempos de estudante. Era o dia que tinha que fazer a porcaria da mala e nunca podia ver o McGyver ... Perde-se metade do dia a pensar na 2ª feira e todos os programas na cidade (leia-se Lisboa) parecem-me deprimentes. Por isso, é que muitas vezes a decisão é mesmo dar um passeio de carro, com destino ao Alentejo, que eu adoro.
O Domingo é o Dia Nacional da Procissão!
Procissão ao shopping (visão dantesca de famílias inteiras a comer Happy meal;
Procissão à praia (se de inverno, a procissão resume-se a andar numa fila interminável de carros sem deles sair);
Procissão ao parque (crianças, cães, velhinhos, pipocas e algodão doce à mistura);
Procissão da roupa de domingo (parece que é o dia oficial em que todos tomam banho e vestem a roupa mais decente que têm - tendo em conta as várias definições de decente);
And so on, and so on!!!
Este post despertou a costela de ironía que há em mim
Marta
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