Os portugueses são excelentes trabalhadores, mas péssimos profissionais. Trabalham com afinco para cumprir a sua função social na comunidade, e para a família, mas raramente encaram o emprego como uma peça fundamental ao funcionamento do país. Trabalham para a conta à ordem e para satisfazer os serviços secretos dos bancos, mas estão-se a marimbar para a conta poupança nacional de bens e serviços de qualidade que, a longo prazo, traz com certeza muitas mais benesses do que a visão redutora: Um emprego, um ordenado, uma vida, a minha vida.
Os governos, os empresários e os dirigentes da administração pública também não têm ajudado. Os primeiros têm sucessivamente brincado com os números da produtividade, programas bacocos de formação e de incentivo às empresas, entretendo sazonalmente os portugueses com a promulgação de “pontes”. Os segundos adoram os tais incentivos, mas nunca percebem muito bem (ou não querem) o que hão-de fazer com eles, talvez porque na sua maioria os programas criados não servem a realidade das empresas que gerem (sobretudo as pequenas). A estes e aos terceiros, os do Estado, tem faltado "o" incentivo fundamental - aquele que deveriam dar aos seus colaboradores. Aqui entra o rabo na boca da pescada – a maioria dos portugueses não está motivada, não sabe para o que trabalha, não vê o produto ao fundo da linha de produção, não veste a camisola, nem sabe de que cor ela é. E nem se interessa, o que é o pior de tudo.
E ficámos assim. Incompetentes.
Pelamo-nos por uma “ponte” (quem é que não andou já a ver o calendário de 2005?). Em Agosto ninguém trabalha, nem deixa que quem fica em terra, mar ao longe, trabalhe. No fim do ano ninguém trabalha, não há encomendas, não há marcação de consultas médicas, porque é o fecho do ano, o balanço, e são férias na terrinha, e há as compras, e os preparativos, e… Dura o mês inteiro de Dezembro, embora o Natal sejam dois dias e o Ano Novo também. E depois há a Páscoa, o Carnaval, os santos populares, feriados religiosos e efemérides com fartura…
Em Lisboa, por exemplo, em Junho, regista-se um êxodo digno de um especial na “National Geographic”, devido a três feriados: 10 de Junho, 13 de Junho e Corpo de Deus (feriado móvel pela altura das festas juninas). Por esses dias, as únicas pessoas que ficam na cidade são alguns funcionários da câmara, os noivos de Santo António e os marchantes da Avenida da Liberdade. Salvam-se os muitos turistas que devem ir daqui com a ideia que Lisboa é uma capital com muita festa, mas pouca gente.
O mal não está na existência dos feriados e das épocas festivas, aliás festa é coisa que para mim nunca está a mais! O que nos prejudica é a tendência para anteciparmos e estendermos essas marcas no calendário, fazendo com que a fronteira entre a incompetência e a nossa maneira de estar descontraída e improvisada seja demasiado ténue.
Todos os meses parece haver uma razão para nos evadirmos das nossas funções, e se isso é bom como estímulo para (sobre)vivermos, é péssimo para a tal "conta poupança nacional".
Não se compreende que passemos Janeiro a recuperar do Natal e a fazer balanços, o Fevereiro a pensar no Carnaval, o Março a pensar que já está a fazer calor e talvez dê para ir à Praia, o Abril a fazer planos para a Páscoa (se é que ela não foi já em Março), o Maio a estudar o mapa de férias, o Junho a jogar com os santos, Julho em férias numa das quinzenas que tem os melhores dias de praia, o Agosto já se sabe - é mesmo o grau zero da produtividade, o Setembro ainda dá para ir à praia e há o início das aulas e começa o ano de trabalho, e é preciso fazer planos e etc, o Outubro tem o dia cinco que dá jeito, e só depois é que se começa a trabalhar, o Novembro tem a romaria aos cemitérios, e o Dezembro é aquilo que já se sabe e que estamos a viver agora. Ainda há o décimo terceiro mês... Mas esse mal dá para os gastos.