Os "gajos-gaja" e as "gajas-gajo"
A palavra gajo(a) era até há poucos anos feia e dada a adjectivações ordinárias. Nas últimas vagas de linguagem, 'gaja'(o) virou quase adjectivo e tem até o seu quê de sincero e de frontal, e até de carinhoso.
Dizer que uma miúda é muito gaja, é o mesmo que dizer que é muito feminina. Dizer que um gajo, lá está, é muito gajo, significa que tem todas as características de macho, sem ser necessariamente parvo. Porque há, ainda bem, coisas que são tipicamente gajo, e coisas que são tipicamente gaja.
E toda a gente sabe do que estou a falar, vai desde a tampa da sanita para cima, até ao saldo do cartão de crédito para baixo...
Recentemente dei comigo, coadjuvada pelos meus compinchas gajos e gajas, a atribuir novas variantes na categoria amor, o que talvez possa contribuir para a compreensão dos muitos homens e mulheres que têm dificuldade em sobreviver nos jogos de lego com que ainda nos entretemos, a tentar encaixar-nos uns nos outros (salvo seja).
Falo dos "gajos-gaja" e das "gajas-gajo". Estes seres sofrem. Duplamente. Compreendem melhor do que ninguém os outros, mas raramento o contrário acontece. Eles seguem todas as tendências do seu sexo, mas acumulam as mais perversas e retrocidas preocupações do sexo oposto.
Por exemplo, um "gajo-gaja", além das supostas necessidades básicas à sobrevivência do seu género, como dever ser um potencial devorador de mulheres, acumula a sensibilidade e as exigências típicas de uma gaja - no amor sentem o arrebatamento, a saudade, o rompimento, a despedida, as discussões, tudo, como uma gaja. Eu que sou uma sei do que falam - nós somos complicadas! Tenho amigos homens que são "gajos-gaja". Normalmente, tento a ajudá-los a lidar com as mulheres. Normalmente, dão-se mal.
Por seu turno, uma "gaja-gajo" está condenada a que a julguem uma porca, uma desvairada, uma oferecida. No mínimo. Eu não sou uma delas, mas invejo as minhas amigas que o são. A maneira como se interpretam e existem nas relações devem-na a uma força masculina, elevada à potência feminina que a natureza lhes deu. São, por isso, imbatíveis. Não lidam com as habituais mesquinhices de gaja, sabem onde está o fim e o início de cada relação, vivem o meio com a intensidade e o empenho que a mesma exige.
Tenho para mim, até por via das confidências que as minhas amigas "gajas-gajo" me vão fazendo, que há por ali também alguma desilusão. A consciência disso desvia-me um pouco da inveja que delas tenho - afinal, a simplicidade das das coisas não nasce do nada, nasce do caos e da turbulência... As "gajas-gajo" não têm a vida fácil, sofrem o maior dos conflitos internos, quando à porta das hormonas bate o sentimento, esse tipo que não tem sexo.
No fim de tudo, tudo acabará por dar no mesmo - há sempre peças neste Lego que não encaixam.
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