25.2.05

Noites Caídas 3

FAMA, FAMA...

A noite passada entrei como rodapé numa página embaraçosa para Portugal, com destaque na National Geographic - a discoteca FAMA.Ali em Alcântara, onde era o Rockline, o das míticas quartas feiras do rock, acabei por integrar, por força maior da erosão das células cinzentas frequente naqueles 'habitat', a fauna presente.

Com o distanciamento que me foi possível, convicta que era um leucócito, passei aquele par de horas a incubar uma maneira de perceber a existência daquele ecossistema - uma massa pegajosa anónima de seres vivos que lutam pela sobrevivência numa cadeia alimentar totalmente constituída por carnívoros.

Aquelas criaturas têm fome, muita fome. O único alimento espiritual, que não lhes enche a barriga apenas o ego, é a celulose cor-de-rosa. Este nutriente, por outro lado, tem dizimado sociedades inteiras, mediante a criação de alucinações sobre a fama e confundindo a mesma com notoriedade. É essa mesma celulose rosa choque que criou a habituação a umas figuras de estilo, que cientificamente denomino de conhecidus ignorantus tristis.

A meu lado tinha duas leucócitas amigas. Entre conversas que ali não tinham cabimento (ali nada cabe!), tentámos "imunizar-nos" do ambiente contaminado com inhas, loiras dopadas, actores de telenovelas com corantes, fotógrafos que fingem fazer frete, e os habituais corpos sociais desta sociedade anónima de vedetas que não paga o que bebe, o que veste... Sendo que até o que fode tem de estar na moda. Nem comer sabem. Daí a fome.

De repente, ouvimos gritos tribais de "arranjar par para a noite" (não lhe consigo chamar acasalamento, iria ofender milhares de anos de vida neste planeta) vindos da cabine do "senhor que estava a pôr música" (não lhe consigo chamar DJ, iria ofender muitos profissionais): «Tou nem aí, tou nem aí... lá lá lá».

Foi a nossa deixa. As três leucócitas esgueiraram-se pela caixa alta (claro!) deste artigo de zoologia nocturna da National, antes que o gerente amigo da R. viesse perguntar o que tínhamos achado do estaminé e antes que a relações públicas entrasse em depressão.

PS 1: As empregadas do bar são extremamente simpáticas, como já não é costume em Lisboa (no LUX por exemplo, estão sempre de trombas, e não são elas que pagam aqueles preços!). As porteiras (que conheço vagamente, não sei de onde) também são. O porteiro também é (aquilo tem muitos porteiros...). Em geral, todos os colaboradores da FAMA são gentis, agradáveis e empenhados, só é pena estarem no projecto errado.

PS 2: A R. acha que a única coisa que compensou a noite foi comprovar que o filho do Carlos Mendes, o Francisco, é realmente muito giro. A televisão e as fotos não lhe fazem justiça, é verdade sim senhor.

PS 3: Duvido que alguém com poder executivo na discoteca FAMA leia isto, mas se ler gostava de lhe dizer uma coisa -Há por aí muita gente gira que não sai nas revistas e que tem muito mais para dar à noite do que aqueles seres que vocês convidam. Entendem? Gente que até paga as bebidas e vos dá dinheiro a ganhar. A gente que realmente faz a casa. Não me pareceu que a filosofia fosse barrar a entrada "à la Kapital", nada disso. Mas, com a fauna que convidam para promover a casa só afastam os potenciais clientes.

PS 4: Já agora, esta é para a relações públicas - um cliente insatisfeito é um consultor grátis (ouvi dizer de uma especialista em qualidade).

PS 5: A noite acabou por ser divertida.

PS 6: Uma coisa é certa, só lá vai quem quer. Todos os sítios têm uma porta, que serve para entrar e sair.

2 Comments:

Blogger AW said...

as meninas gémeas são filhas do MEC, ficarão geneticamente aprovadas ?

2:06 da tarde  
Blogger AS said...

Ó Asdrubal, tu não estavas cá... a gente foi primeiro para te contar depois.
Marion, eu gosto do MEC...

10:42 da tarde  

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