Ela não sabia, mas estava a ser observada - Cap. III
O Hotel
Os cartões de crédito e a conta bancária estavam a abarrotar de dinheiro. Ir para o Tivoli ou para qualquer outro hotel caro de Lisboa não era problema, aliás, no momento Júlia não tinha problemas nenhuns. Pela primeira vez a sua vida estava a zeros, e o contador só agora começava a dar sinais de alguma impaciência. Ainda atordoada pela visão do edifício do Diário de Notícias, pegou nas malas, dirigiu-se ao quiosque mais próximo e pediu à senhora enrolada numa manta, gelada pelo frio de Fevereiro e pela falta do calor humano de clientes, que lhe guardasse as malas. "Não é incómodo nenhum, mas fecho às sete. Eu até devia era fechar mais cedo. Tabaco cada vez vendo menos, dos jornais ninguém quer saber. Já está tudo farto dos políticos sabe?!". Sabia.
No átrio do Tivoli era grande o alvoroço. Nos sofás amontoavam-se casacos e sucediam-se os seus ocupantes numa grande agitação de máquinas fotográficas e telemóveis a soar músicas da moda. Atrás de si uma miúda nos seus vinte anos deixou cair a mala e estendeu-se no chão imaculadamente limpo, com grande espalhafato. Enquanto a ajudava a apanhar o pacote de lenços de papel, o maço de tabaco, a caneta, a agenda e mais uma série de tralhas que tinham caído do enorme saco da Parfois, Júlia observou o rosto dela encarnado e em visível desassossego, e emocionou-se com a urgência de vida que aquela criatura emanava. Olhou para o lado e viu uma série de sapatilhas coloridas a correrem, e compreendeu, enquanto se levantavam ambas, que a rapariga devia pertencer à romaria de ténis; a única diferença era que trazia umas botas de salto alto, e uma saia com uma pantera cor-de-rosa. "Oh.. Obrigada! Por acaso não sabe se eles já chegaram?!". Eles eram o actor Jude Law, o cantor Robbie Wiliams e o realizador Steven Spielberg. Júlia correu ao balcão para ver se ainda havia quarto. Pelo visto, tinha escolhido o hotel mais concorrido de Lisboa.
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