tele-medicina

... porque nós seremos sempre o segredo mais bem guardado do mundo.

A BlogHer (Where de women bloggers are) vai reunir mulheres de todo o mundo em Chicago no final do próximo mês. A conferência dispõe de babysiters e possibilita que as oradoras se expressem na língua materna. A cidade, dizem, é um espectáculo, e "girls' talk" é uma linguagem universal. É capaz de ter a sua graça. É por isso que a Cristina da Objectiva3 anda doida para ir e procura apoios e/ou ideias para consegui-los. Vamos dar uma ajuda?
Nota: Quem tiver uma vida no Second Life também pode participar na conferência...
O meu coração é de carne
antes fosse um naco em banho de tempero para ir ao forno
ao menos estava sossegado e não me encalhava a goela e o peito quando
se arma em músculo em pleno exercício cardio-vascular.
Os meus pulmões são descolorados
mesmo quando fumava, disseram-me, tinham bom aspecto,
tirando daquela vez que sonhei com umas bolas vermelhas a escorrer pela radiografia.
Os meus pulmões, coitaditos, aguentam tudo e aconchegam o coração.
Gosto muito deles.
A minha barriga é uma desgraça.
As dores nas costas, às vezes, assentam praça.
Da cintura para baixo e das nádegas até ao umbigo,
escutei que são as dores terrenas...
Fogo, antes fosse um ET.
Quero ir para casa. (Estou a chegar).
Os pés andam bem obrigada.
Os joelhos compostinhos e não tremem
tirando quando me faltam as forças à alma
mas essa que falta me faz remedeia-se sempre
até quando me vergo à mente.
Pudera, é feita de outra estirpe, não foi concebida no leito conjugal.
É um pré-conceito, imaterial. Graças a Mim, que sou divina.
Mas o melhor é que não tenho colesterol e a minha pele cheira a leite.
Quieres bailar? Não cheguei a ouvir a pergunta. De repente, vi-me no meio da pista de la bodeguita a tentar acertar o passo com a canção que oscilava, como todas as outras que o DJ passava naquela noite, entre besos e te quieros... As mãos do professor paralisaram-me. Eu e a S. estávamos derretidas com o charme do homem, no sentido "já que estamos de férias vamos deixar-nos de vergonhas e admitir as coisas com frontalidade"... Calça branca de linho, t-shirt preta, rabo de cavalo, cabelo encaracolado... O professor era uma aparição em forma de várias coisas que nunca me atraíram na espécie masculina, a começar pelo facto de dançar salsa e merengue e outras variações no género latino que eu acho (achava?) uma foleirice. Assim, arrastada pelo entusiasmo da S., que está para as danças latinas como eu estou para um concerto dos Arcade Fire, entrei naquele antro dentro dos meus jeans de marca europeia, a maquilhagem discreta e o cabelo comprido com a franja e as pontas ainda a soar à tesoura do Ricardo, armada em europeia chique que está ali a privar com o lado típico e popular da noite, mas não quer ter nada a ver... É á noite, talvez como forma de protecção, e sobretudo no estrangeiro, que eu procuro tornar-me esquisita, dar ares de snobe, não vá descambar para um lado que não me apraz conhecer. Não sei se foi das Cubas, servidas em grande com rum dourado pela idade, se foi do professor... acabei por sentir-me verdadeiramente feliz naquele ambiente de raparigas de folhos e sapatos vertiginosamente altos, com um mau gosto incrível mas que envergonham do alto da sua simplicidade garrida qualquer mulher armada ao pingarelho. Talvez elas, e os seus pares, tivessem revisto e aumentado todas as minhas inseguranças; no fundo a minha timidez, o meu jeito de latina que não se assume, a vergonha infantil que criou uma imagem sofisticada feita de reservas e pudores no estilo e nas atitudes. Encostada ao bar, com a minha Cuba na mão, e os pés a ameaçarem envergonhar uma portuguesa pseudo-melancólica e fatalista, e a S. aos saltos de contente, vislumbrei por entre aqueles corpos possuídos pelo ritmo da salsa os estilhaços de mais uma auto-imagem que cai por terra. Afinal eu sou latina. A constatação não podia soar mais estúpida e desatei a rir. Afundei a consciência no copo e compreendi que se calhar todos os portugueses são latinos envergonhados. Somos um povo muito estranho, divididos entre o orgulho de integrar uma Europa esclarecida e civilizada (?), África e o mundo ibero-americano. Eu que de África só conheço Cabo Verde, que a bem da verdade também não é bem África, confesso que a veia do mundo onde se habla espanhol, e onde entrámos por via da origem linguística e da nossa aventura nas terras de Vera Cruz, afinal pulsa mais forte do que eu imaginava. Não sei se é do calor, das Cubas ou do professor...
A minha casa da árvore não é esta. É parecida na altura, no porte da árvore e no décor estrelado. Mas tem janelas largas com flores penduradas no regaço, é de madera lisa e uniforme. A minha casa na árvore é de há muito tempo atrás. Não é muito grande, apenas suficiente para uma criança dar o passo que precisa para crescer. E depois descer. Sim, cá para baixo. Fazer aquela janela dar para um terraço, com vistas largas. Nem precisa ser muito grande, apenas suficiente para dar um abraço. Quando eu fizer a minha casa da árvore no chão serei crescida.