bailar
Quieres bailar? Não cheguei a ouvir a pergunta. De repente, vi-me no meio da pista de la bodeguita a tentar acertar o passo com a canção que oscilava, como todas as outras que o DJ passava naquela noite, entre besos e te quieros... As mãos do professor paralisaram-me. Eu e a S. estávamos derretidas com o charme do homem, no sentido "já que estamos de férias vamos deixar-nos de vergonhas e admitir as coisas com frontalidade"... Calça branca de linho, t-shirt preta, rabo de cavalo, cabelo encaracolado... O professor era uma aparição em forma de várias coisas que nunca me atraíram na espécie masculina, a começar pelo facto de dançar salsa e merengue e outras variações no género latino que eu acho (achava?) uma foleirice. Assim, arrastada pelo entusiasmo da S., que está para as danças latinas como eu estou para um concerto dos Arcade Fire, entrei naquele antro dentro dos meus jeans de marca europeia, a maquilhagem discreta e o cabelo comprido com a franja e as pontas ainda a soar à tesoura do Ricardo, armada em europeia chique que está ali a privar com o lado típico e popular da noite, mas não quer ter nada a ver... É á noite, talvez como forma de protecção, e sobretudo no estrangeiro, que eu procuro tornar-me esquisita, dar ares de snobe, não vá descambar para um lado que não me apraz conhecer. Não sei se foi das Cubas, servidas em grande com rum dourado pela idade, se foi do professor... acabei por sentir-me verdadeiramente feliz naquele ambiente de raparigas de folhos e sapatos vertiginosamente altos, com um mau gosto incrível mas que envergonham do alto da sua simplicidade garrida qualquer mulher armada ao pingarelho. Talvez elas, e os seus pares, tivessem revisto e aumentado todas as minhas inseguranças; no fundo a minha timidez, o meu jeito de latina que não se assume, a vergonha infantil que criou uma imagem sofisticada feita de reservas e pudores no estilo e nas atitudes. Encostada ao bar, com a minha Cuba na mão, e os pés a ameaçarem envergonhar uma portuguesa pseudo-melancólica e fatalista, e a S. aos saltos de contente, vislumbrei por entre aqueles corpos possuídos pelo ritmo da salsa os estilhaços de mais uma auto-imagem que cai por terra. Afinal eu sou latina. A constatação não podia soar mais estúpida e desatei a rir. Afundei a consciência no copo e compreendi que se calhar todos os portugueses são latinos envergonhados. Somos um povo muito estranho, divididos entre o orgulho de integrar uma Europa esclarecida e civilizada (?), África e o mundo ibero-americano. Eu que de África só conheço Cabo Verde, que a bem da verdade também não é bem África, confesso que a veia do mundo onde se habla espanhol, e onde entrámos por via da origem linguística e da nossa aventura nas terras de Vera Cruz, afinal pulsa mais forte do que eu imaginava. Não sei se é do calor, das Cubas ou do professor...
4 Comments:
Amiga!
É da tua alma!!!!!! Que tem muito para descobrir!
É com grande alegria que comprovo a tua volta à escrita! As influências espanholas não são más...pelos vistos!!! ;)
Bj
Cris
Santiago veio de onde, afinal!??... I rest my case!
Esta mal informada e `e pena difundir informação incorreta. Saiba que em termos de raça Os portugueses não são latinos, mas sim brancos pertencentes `a variante mediterrânica.
Na Europa o termo latino não designa etnia, mas sim origem linguística. Em termos étnicos, a classificação "latino" aplica-se a povos da América do Sul.
Exato - de maneira geral os Europeus são brancos. Os povos do Norte da Europa sao brancos nordicos; os povos do Sul da Europa sao brancos mediterranicos, dos quais os portugueses fazem parte.
A palavra "latino" esta relacionada com a nossa língua que, tal como o francês, espanhol, italiano e romeno, `e latina.
No entanto, lingua e raça sao duas coisas diferentes
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