Boy Power
Há cerca de um mês, ou mais, o Olho do Girino lançou-me numa reflexão exaustiva. Perguntou ele na ocasião, a propósito das virtudes e do sucesso das séries "Sexo e a Cidade" e, mais recentemente, "Desperate Housewifes":
"Não se arranja um equivalente para homens?"
Acho que estou agora em condições técnicas de afirmar a minha resposta: Não.
O único argumento que avanço resume-se a uma constatação com síndrome de ovo de Colombo; O homem é e foi sempre - ainda o guarda-roupa e a boa língua das quatro gajas mais giras da TV estavam longe de desfilar nas ruas de Nova Iorque - o protagonista das séries de gajas.
Sõa elas que dão as cartas nas referidas séries, fazem 'bluff' e escolhem os trunfos, mas são eles, não há hipótese minha gente, que figuram nos naipes que estão em cima do argumento.
O sucesso das séries d'elas tem a sua razão de ser nessa guerra quase imperceptível dos sexos. Se não houver o gajo sobre o qual se exerce o poder, o poder esvai-se e com ele as audiências.
A haver um equivalente para homens teria a mulher de assumir o protagonismo subtil que uma "Cidade e o Sexo" e umas "Donas de Casa Deseperadas" dão aos homens... E convenhamos, em todas as pseudo-séries de gajos conhecidas a mulher ou é a co-protagonista ou um adereço, nunca o tal subtil fio condutor das estórias.
Epílogo:
Gajos, não se queixem e apreciem da bancada o mal que, mesmo sem saberem, conseguem fazer à cabecinha daquelas mulheres que falam de sexo e se queixam da vida... ah... e estão desesperadas.
2 Comments:
Olá Ana. Pertinentes reflexões. Sinto-me lisonjeado por despertá-las. Já que estou com "a mão na massa" deixa-me acrescentar mais qualquer coisinha: dizes que o homem é o protagonista porque é sobre ele que se exerce o poder. Certo. Mas continua a parecer-me que existe algo de novo - a mulher deixou de ser elemento passivo, para ser elemento activo. Escolhe o homem, ainda que muitas vezes os rituais dessa escolha estejam impregnados de estereótipos de género. E assume-se como um ser com corpo e desejos.
Sobre "O Sexo e a Cidade" parece-me cheio de referências interessantes que se podem integrar numa ideia de contra-poder feminino (ou pós-feminista). Quanto a "Donas de Casa Desesperadas" já não estou tão certo... (apesar de as ter metido no mesmo saco). Tenho de a ver novamente. Um abraço!
Peço desculpa se invado este espaço mas, como gosto de crer que a blogosfera é um universo livre para explorar e desbravar, eis-me aqui neste blog, no qual encalhei por mero acaso tal barco à deriva nas marés. Passando os olhos apressados, encontrei neste post algo que me motiva a fazer um breve comentário.
SEX AND THE CITY é uma série televisiva que nasceu dum best-seller algo patético de uma cronista social de Nova Iorque. Daqueles fragmentos romanceados da Big Apple sofisticada e elegante, mas tão podre por dentro que até parece opressoramente provinciana, uma cadeia de televisão por cabo extraiu uma série centrada em quatro personagens femininas (que, se bem me lembro, só pairam no “livrinho”) e deu-lhes corpo e substância. Mas, por sinal, encarregou homens de escreverem o guião da maior parte dos episódios das quatro ou cinco séries. O que gostaria de sublinhar é o facto de existir, em SEX AND THE CITY, uma visão muito encapotada de uma certa moralidade masculina que surge na aparência subversiva (sublinho, aparência) de uma troca (cultural) dos papéis. Daí concordar, em parte, com a sua opinião de que, apesar de serem séries sobre mulheres (desconheço a outra série, confesso!), os homens são protagonistas ubíquos. E, são-no mais porque aquelas mulheres nascem de uma ficcional perspectiva masculina que busca pautar o poder selectivo das mulheres com a ubiquidade masculina no quotidiano das mulheres. Repare como a maior frustração das quatro country new yorkers passa pelo facto de não existirem príncipes encantados a resgatá-las para o matrimónio e, consequentemente, para a maternidade.
Dava pano para mangas…
Voltarei.
Enviar um comentário
<< Home