12.3.05

Um dia...

Foto do Delirios

A Marion lançou-me na reflexão sobre a morte, e mais concretamente sobre a ideia do nosso funeral...

Aquele que é provavelmente o pior pesadelo de qualquer pessoa, só sossegado pela ignorância da data em que ocorrerá, sempre foi objecto das minhas cogitações. Uma mania que não é um capricho auto-flagelador, antes uma forma de ultrapassar o trauma que a morte representa para o meu corpo animado.

O último pensamento a que recorro frequentemente devo-o ao político João Amaral que, segundo rezam os escritos, terá dito que o dia da morte era mais um dia da sua vida.

Mesmo antes da série "Sete palmos abaixo de terra", de que sou obviamente fã, mas já com muitos filmes anglo-saxónicos na cartilha, sempre nutri pelas cerimónias fúnebres em inglês um respeito e um fascínio que caem normalmente mal nas convicções latinas do meu povo.

Não é suposto, por cá, comer depois, celebrar durante, e preparar devidamente o antes, com um sentido de estética que na tradição católica pecará por excessivo ou, talvez, por demasiado festivo. Embora, estou crente, a nossa maneira portuguesa de encarar os rituais fúnebres resida mais em factos antropológicos, que não domino minimamente, do que na igreja.

O que é certo é que também não é suposto, por cá, as pessoas disporem-se a pensar sobre o assunto do seu enterro. Nos Estados Unidos, por exemplo, deixam-se escritas as últimas vontades - quem fará os discursos, que flores, que música... - e até se reservam caixões.

Para a maioria das pessoas que conheço esse é um assunto tabu. Há uns tempos atrás a minha mãe entrou em estado de choque quando lhe disse que gostava que me maquilhassem para estar bonita naquele dia... Na América também se faz. E depois?

Chamam-me mórbida e dizem-me para não me preocupar com isso, que é um disparate, e arrepiam-se e, sobretudo, dizem-me que depois de morta o que é que interessa?

Esquecem-se que o funeral é sobretudo para os vivos. É neles que eu penso. E eu, enquanto penso nestas coisas malucas, vou enfrentando o anjo da morte pelas asas...

4 Comments:

Blogger AW said...

bolas ... grande mulher, olhar a morte nos olhos sem medo, e ainda pensar em partir bem arranjada ..... tiro-te o chapéu !!! e obrigada pela referência

6:24 da tarde  
Blogger Paz Kardo said...

A única solução para a morte é a vida; o único caminho que não leva directamente à morte é viver...
Saudações Nómadas de Ricardo Teixeira...
Excelente post ;)
http://nomadasperdidos.blogspot.com

5:45 da tarde  
Blogger Nilson Barcelli said...

Não sei como foste capaz de escrever tal reflexão, embora reconheça que é excelente.
Mas fiquei um pouco impressionado porque para mim o assunto é tabu.
Beijo.

8:44 da manhã  
Blogger Roxanne said...

Na "Dona Flor e seus dois maridos" de Jorge Amado, o primero capítulo descreve em pormenor a "etiqueta" de um funeral e inclusivamente o que se deve servir. É uma questão de cultura.

2:41 da tarde  

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