Ser filha
Já uma vez aqui escrevi que me considero “eterna filha”, o que talvez explique a minha relutância em ser mãe.
Hoje, precisamente, filha que sou, li um post sobre a intensidade deste estado, que não linko porque até na blogosfera há coisas que devem permanecer privadas, e neste caso em especial não tenho o direito de abusar daquelas palavras; Mas devo dizer, ou melhor preciso dizer, que me fez transbordar em lágrimas como poucos o fizeram até agora.
Perder a razão de sermos filhos é talvez a mais dura prova que enquanto terrenos temos de suportar.
Recordo hoje com um sorriso o pânico que sentia quando me perdia dos meus pais na rua e na praia. Aquele momento em que olhava para cima e via que a mão que agarrava não era a do meu pai ou da minha mãe não se equivalia a nenhum pesadelo, superava-os a todos.
Mais tarde, quando senti que a mão do meu pai se deslargava de mim todos uns dias mais um bocadinho, desejei estar perdida numa praia para infinitamente pensar que mais cedo ou mais tarde ele me viria buscar.
Foi nessa altura que mais me senti filha. No limite da perda, assumi singularmente este estado até hoje. Só espero um dia reencontrar o meu pai numa outra rua, que acredito existir numa outra terra. Até lá quero agarrar com todas as forças a mão da minha mãe. Todos os dias.
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