Os poetas são serviço público
Porque será que a partir dos trinta começamos a trair o coração e deixamos progressivamente de emitir as sinais que ele nos envia? Será porque já nos parece piroso e perigoso dizer «amo-te»? Será porque dizer «tenho saudades tuas» é demonstrar fraqueza? Será que temos medo de não ser correspondidos? Será porque dá muito trabalho, já não vale a pena e as repetições só acontecem na Sic Gold? É por isso que os poetas são loucos, audazes, fracos, desarmados e heróis. A eles devíamos recorrer quando nos faltam as palavras, porque eles oferecem-nas e assumem a figura de tolos que receamos ver no nosso espelho. Neles reside o Dom Quixote, a loucura e a generosidade. E eu hoje apeteceu-me abusar dela. Aqui vai. Para quem sabe.Chega de saudade
Vai, minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas se ela voltar
Se ela voltar
Que coisa linda
Que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim...
Vamos deixar desse negócio
De você viver sem mim...
Vinicius de Moraes
in "Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"
1 Comments:
querida, nesta matéria vamos em direcções opostas...
cada vez estou mais "pirosa" e com uma ligação directa do coração à boca...o meu coração pode vir a trair-me mas eu a ele?...no more...
Beijinho
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