8.7.04

Os poetas são serviço público

Porque será que a partir dos trinta começamos a trair o coração e deixamos progressivamente de emitir as sinais que ele nos envia? Será porque já nos parece piroso e perigoso dizer «amo-te»? Será porque dizer «tenho saudades tuas» é demonstrar fraqueza? Será que temos medo de não ser correspondidos? Será porque dá muito trabalho, já não vale a pena e as repetições só acontecem na Sic Gold? É por isso que os poetas são loucos, audazes, fracos, desarmados e heróis. A eles devíamos recorrer quando nos faltam as palavras, porque eles oferecem-nas e assumem a figura de tolos que receamos ver no nosso espelho. Neles reside o Dom Quixote, a loucura e a generosidade. E eu hoje apeteceu-me abusar dela. Aqui vai. Para quem sabe.
Chega de saudade Vai, minha tristeza E diz a ela que sem ela não pode ser Diz-lhe numa prece Que ela regresse Porque eu não posso mais sofrer Chega de saudade A realidade é que sem ela Não há paz, não há beleza É só tristeza e a melancolia Que não sai de mim Não sai de mim Não sai Mas se ela voltar Se ela voltar Que coisa linda Que coisa louca Pois há menos peixinhos a nadar no mar Do que os beijinhos que eu darei na sua boca Dentro dos meus braços os abraços Hão de ser milhões de abraços Apertado assim, colado assim, calado assim, Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim Que é pra acabar com esse negócio De você viver sem mim Não quero mais esse negócio De você longe de mim... Vamos deixar desse negócio De você viver sem mim... Vinicius de Moraes in "Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"

1 Comments:

Blogger Roxanne said...

querida, nesta matéria vamos em direcções opostas...
cada vez estou mais "pirosa" e com uma ligação directa do coração à boca...o meu coração pode vir a trair-me mas eu a ele?...no more...
Beijinho

6:44 da tarde  

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