4.1.06

amigas giras 2

A T. foi a minha primeira amiga a ir viver com o namorado. Na minha geração e dada a formação católica de base, ainda que pouco praticante na maioria das famílias dos meus amigos, era coisa que ainda chocava a moral do grupo de meninas bem comportadas a que sempre pertenci.

A T. casou depois, meio ano mais tarde do que eu. As duas somámos o recorde de "salto para a piscina sem medir a profundidade da água", mas também não metemos nem mais um litro, nem a fizemos transbordar, apenas com ela salpicámos quem se abeirava da nossa felicidade hesitante entre as contrariedades da vida e a ambição de um futuro que era em larga medida muito maior que o laço matrimonial. Tivemos sorte, nunca ficámos verdadeiramente atadas. O laço sempre foi, graças a Deus, bastante elástico e ajustável aos nossos escapes. A T. e eu partilhamos o fraquinho pela manutenção saudável de escapadelas sem crime. Costumo dizer que de todos os maridos das minhas amigas, o único que alguma vez poderia ser também meu marido é o da T. É um querido.

A minha amiga T. conseguiu, contudo, superar todas as minhas amigas numa coisa. Foi a primeira a ser mãe. Ainda a cimentar a relação de fascínio com os anos vinte, em que tudo é suposto acontecer para preparar um futuro profissional radiante, a T., e secretamente à distância eu com ela, pensou então que um filho iria ser um entrave aos seus sonhos que de pretensiosos já na altura nada tinham.

Não foi. E essa é a sua maior conquista. A T. tem uma filha linda e posso dizer, sei que ela não me desmente, que tudo o que de bom lhe aconteceu, aconteceu depois de ser mãe. O segredo de uma carreira de sucesso, longe dos holofotes porque a T. não está para aturar merdas, reside na força que ganhou com a maternidade e que lhe permitiu não deixar nunca de agarrar as oportunidades que lhe foram surgindo, sem lixar ninguém e sem calculismo. E ficou mais bela também.

O caminho nunca foi fácil, mas a T. consegue como ninguém proteger a filha de qualquer responsabilidade nessa matéria. A filha da T. não é um empecilho ou uma limitação, é apenas aquilo que deve ser para uma mãe, o que significa que é aquilo que a T. considera que deve ser. E basta.

Não é pela idade com que a T. foi mãe que eu aqui evoco o recorde da maternidade, caso contrário estaria em concorrência com um sem número de adolescentes a braços com um brinquedo vivo, mas pela maneira como continua a embalar o seu presente - ao ritmo das batidas do seu coração acelerado, em compasso com o mundo inteiro, cheio de oportunidades e escolhas.

É, em parte, por causa da T. que eu sei que vou ser mãe um dia, quiçá de uma menina... Há um mundo inteiro que eu lhe quero mostrar.

3 Comments:

Blogger ricardo said...

...e mais palavras para quê? boa

12:15 da manhã  
Blogger Lolita said...

A T tem aquela força de viver que eu gostava e ter...beijos para ela!

11:28 da manhã  
Blogger maldito cinema said...

Há tantas coisas que me fazem gostar de ti. Gostava só de conseguir escrever assim para te dizer como és linda. E eu sou apenas porque também estás ao pé de mim. Será que se pode dizer que se ama uma amiga?

1:03 da manhã  

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