17.1.07
Duas gerações. Nenhuma é a minha. Uma é o meu passado, a minha raíz, a minha força, o meu primeiro colo, a minha primeira visão do mundo. A outra é a esperança, a queda dos tabus, o esquecimento de um país feito de 'inhos', da sardinha dividida por dois, da ignorância mal menor, da casa própria e do carro por pagar, da teoria dos doutores e engenheiros. Uma e outra assim a coexistirem por quanto mais tempo (?), penso eu de coração apertado. Desejo de todo o coração que seja por todo o tempo que eu e a minha geração precisarmos de afinar o presente para dar a ambas o espaço que necessitam para ensinar e para crescer.
Hoje fazem anos a minha mãe e a Mafaldinha. Beijo-vos.
16.1.07
sinais
Sicronicidade, destino, acasos que não são coincidências... Os livros e os gurus da viragem espiritual do mundo ao alto desdobram-se em explicações e relatos do quotidiano que nos sugerem uma ordem das coisas. As palavras progressivamente vêm significando que tudo pode ter uma explicação, aquela que poderá residir num Universo pré-programado apesar dos caos em que co-existimos. No meio de tudo ficam os Eu's. Nós. Imersos num mundo que comunica desde que nos levantamos até que adormecemos (com o bónus de sonhos para quem abre a porta ao subconsciente), munidos desse livre arbítrio que nos lixa o juízo (a mim pelo menos lixa). Ultimamente, sinto que vivo numa espécie de teoria da conspiração, um consórcio de sinais e alertas que bombardeiam as minhas convicções e as minhas decisões (algumas adiadas há muito tempo), no cinema, na página de um livro que abro ao acaso (?), num telefonema, num encontro casual (?), na experiência de um amigo, na rua, nas lojas... Quase enlouqueço entre o riso e a expectativa que me provocam. Mas quando os sinais assentam no meu ombro, fica um resíduo de solidão. Sou incapaz de os sacudir, mas também não sei que lhes faça.
11.1.07
viagens
Há tempos o Manuel Jorge Marmelo escreveu nenhum avião nos transporta para longe de nós. Reflecti bastante na altura sobre isso, mas a reflexão foi tão profunda quanto a ausência deste blog. Hoje,investida de novas competências, arrisco dizer que não deixa de haver uma notável distância entre a física experiência de passar pelo mundo e a cerebral existência de assistir ao mundo a passar por nós. Mas, numa como noutra, tudo depende se nos sentamos em cima do pó ou se nos limitamos a varrê-lo para debaixo do tapete. Viajar é agora. Sempre em nós.
10.1.07
o rapaz da caixa registadora
Novinho. Piercing's. Cabelo espetado. Muito bonito. Escolho sempre a fila dele para pagar, independentemente de ser a mais pequena ou não. A sua existência tão bela reconcilia-me com o facto de nem sempre a sabedoria ser atraente. Uma página em branco ou com os rabiscos provisórios de quem ainda tem todo o tempo do mundo pode valer bem mais que uma enciclopédia de cabeçadas e conquistas. Tenho valorizado demais a experiência. Será?
5.1.07
Arca de Noé 2
Procurem um homem que não tenha a lata de dizer "eu ajudo em casa", para não acabarem como aquelas mulheres que dizem "o meu ... ajuda-me muito em casa". Na convivência doméstica, a Ajuda só serve como freguesia de Lisboa e como o sítio mais seguro para se estar em caso de terramoto.
Arca de Noé
As melhores pessoas que encontrei até hoje são aquelas que apesar de conservadoras, e até mesmo irritantemente púdicas, conseguem ser genuinamente tolerantes.
4.1.07
medley
No ensaio pego no Fácil de Entender dos The Gift, junto-lhe um desejo de Promiscuous da Nelly que saiu da casca, persigo a Starlight dos Muse, vou de rajada com Wind it up da Gwen sempre Stefani fashion, deito-me n'O meu Lado Esquerdo dos Clã e meto a viola no saco do Miúdo dos Cindy Kat/J.P. Simões. O mundo Pop é tão mais fácil...
3.1.07
a primeira lua cheia de 2007
É hoje. Quando li em pequena que somos oitenta por cento água (ou mais?), imaginei que os ossos, as células e os musculos andavam a bailar lá dentro, numa espécie de cocktail com uma azeitona presa por um palito no topo - o cérebro. Hoje sei que a mente distorce a alma, mas é a água que nos envolve e nos leva em marés por diante na vida. Se a lua aconchega em solavancos o mar, como não nos enfeitiçará a nós? Cuidado com o que desejam...