Portug...
Afinal o fogo chegou aí mãe. Desculpa. Sempre pensei e te disse que não. Naquele dia até eu me dei a pensar que chegara o fim do mundo, quando bateu às portas de Coimbra. Não és a única sabes? Há por aí muita gente a pensar que estamos no limiar do fim, pelo menos deste mundo. Eu vou-me ficando sem penas maiores. Já nem choro pelas duas ilhas da Madeira que arderam, ou pelos 180 mil campos de futebol que arderam. A bandeira que jurei em escuteirinha não cobre ninguém, há sempre rabos de fora, mãos estendidas a furar a esfera armilar a ver se espetam o dedo na sopa alheia, gente a ganir os direitos e a meter os deveres entre as nádegas, gentinha e gentalha. Portugal está assim, no fim.
Incêndios? Todos os dias ardem hectares de neurónios, dignidade, competência, honestidade, empenho... Do que eu não gosto mesmo nada é de ficar chamuscada. Já se sabe que o fogo é uma coisa incontrolável e pega-se. Diz o povo que são todos de origem criminosa. Eu, que sou povo, também acho, mas os criminosos não são os doidinhos que gostam do espectáculo, são os espertinhos que gostam de nivelar por baixo, ter toda a gente ao nível rastejante da sua vidinha - casa, carro, emprego (não é trabalho, que isso dá trabalho), carro, casa. Às vezes nas chamas vemos aflitos os que trabalham para dar casas e carros e empregos aos criminosos. E ainda há aqueles que não têm uma coisa nem outra.
Entre pobres de espírito, novos pobres e ricos reflorestados, quem se lixa são os produtores internos brutos.
Realmente os incêndios dão uma óptima metáfora.
Nota: Existe agora, apesar de tudo, para os produtores internos brutos uma óptima oportunidade de passear livremente em Portugal, sem a cabeça cabisbaixa por uma pátria que se está a afundar. Já afundou meus amigos. Agarrem os despojos. É o que eu estou a fazer. Ó ilhas desertas do meu contentamento, lá naufragarei.