26.1.06

aeroporto

É nos aeroportos que me sinto verdadeiramente livre. Talvez porque são lugares órfãos, ou porque a estadia é transitória, ou ainda porque ali a contagem dos dias e das horas excede os normais regimes quotidianos de vivência.

Já em criança delirava quando tinha de ir esperar ou despedir-me de alguém, imaginando em paralelo os lugares e os lares de origem de toda aquela gente com passagem adiada, por umas horas, para o normal percurso das suas vidas.

Às vezes oiço falar dos loucos que vão a velórios de pessoas que nunca conheceram, ou que passam dias inteiros nos tribunais, ou até em cerimónias de casamento.

Se algum dia a loucura oficial me assaltar, vou para o aeroporto mais próximo.

7 Comments:

Blogger pura eu said...

Um gosto peculiar
:)

2:09 da tarde  
Blogger Lolita said...

Também tenho esse gosto. E até aproveito e faço uma confissão: quando tenho de ir buscar alguém, vou sempre mais cedo, para ficar a imaginar a vida das pessoas, o que fazem, quem esperam, etc, etc. Chego a inventar um par amoroso para o senhor que está no banco do fundo, tendo descobrir familiares perdidos, e fabrico casais! ;-) Quando fores eu vou contigo... vai ser lindo!

4:08 da tarde  
Blogger johnny handsome said...

Os aeroportos já tiveram melhores dias, tal como as refeições a bordo. Com tanta globalização aquele delicioso anonimato, de que gozávamos converteu-se na probabilidade quase certa de encontrar alguém conhecido que nos rouba esses momentos de liberdade...Tem-me acontecido últimamente.

4:18 da tarde  
Blogger AW said...

concordo, há tanta mudança num aeroporto, tantos reencontros, despedidas, solitários ... é uma amostra de vida - em concentrado- e traduz bem a ideia de que tudo é veloz, de que tudo passa

5:31 da tarde  
Blogger PF said...

Concordo plenamente. Sinto exactamente o mesmo e costumo fazer esse exercício de imaginar uma história para cada pessoa.

6:15 da tarde  
Blogger Lua said...

Também concordo, e faço esse exercício em vários contextos. Acho que sou uma observadora por natureza com conteúdo imagético bastante rico para elaborar situações diversas (de modo saudável, claro! Alias como todos nós suponho!).
Tenho uma proposta, das duas uma, juntamo-nos todos e, ou lançamos um livro observações contextuais da vida quotidiana, ou fazemos um a investigação experimental, fica sempre bem...um estudo comparativo das nossas cognições acerca de determinado público alvo numa situação particular, e comparamos os dados. Hipótese: As pessoas estão cada vez mais sozinhas.(isto já sou eu a delirar)
Quem alinha?! :)))
Marta

6:30 da tarde  
Blogger johnny handsome said...

Caríssima(o)s, a coisa é poética quando pensamos no asséptico aeroporto de Lisboa ou em qualquer outro europeu. Mas ele há os sul americanos e os africanos que convidam a tudo menos à contemplação...Para os fãs dos aeroportos aqui fica o pai de todos os links de aeroportos http://www.worldairportguide.co.uk/
e para os mais puristas recomendo de Brian Eno: "Music for Airports"

9:47 da tarde  

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