27.2.05

Jantar de blogs em Coimbra... É bom não foi?!

Era suposto estar a esta hora, mais a Lolita, a Roxanne e a Garcia, numa noite animada na minha segunda cidade, aquela que pariu as minhas origens e onde eu tão bem me sinto sempre que lá vou.

A festa era uma boa festa, organizada pelo Pastel de Nata, com a ajuda do Alex, e Deus sabe que renunciar a um evento desses é quase um sacrilégio para mim! Mas contos do imprevisto, que mais são do vigário que de outra coisa, retiveram-me aqui.

As outras não tiveram melhor sorte... A Objectiva está de cama com bronquite, a Roxanne teve de ir ao Minho em busca da serenidade emocional, a Lolita foi a mais infortunada - não teve nenhum imprevisto, a não ser o de estar atrelada a mim.

Que raiva!

Fica para a próxima.

PS -Ó Nuno, quando for a Coimbra passo no Shmoo Café... Prometo!

26.2.05

Humores públicos

A RTP Memória estava ainda agora a passar o Herman a fazer de D. Sebastião. Se bem me lembro foi esta rábula uma das que integrou a polémica galeria de personagens históricas (Camões, entre elas) que pôs em tempos a estação pública numa cruzada contra o infiel Herman José. Lembram-se? Recordar é isso mesmo.

25.2.05

Noites Caídas 3

FAMA, FAMA...

A noite passada entrei como rodapé numa página embaraçosa para Portugal, com destaque na National Geographic - a discoteca FAMA.Ali em Alcântara, onde era o Rockline, o das míticas quartas feiras do rock, acabei por integrar, por força maior da erosão das células cinzentas frequente naqueles 'habitat', a fauna presente.

Com o distanciamento que me foi possível, convicta que era um leucócito, passei aquele par de horas a incubar uma maneira de perceber a existência daquele ecossistema - uma massa pegajosa anónima de seres vivos que lutam pela sobrevivência numa cadeia alimentar totalmente constituída por carnívoros.

Aquelas criaturas têm fome, muita fome. O único alimento espiritual, que não lhes enche a barriga apenas o ego, é a celulose cor-de-rosa. Este nutriente, por outro lado, tem dizimado sociedades inteiras, mediante a criação de alucinações sobre a fama e confundindo a mesma com notoriedade. É essa mesma celulose rosa choque que criou a habituação a umas figuras de estilo, que cientificamente denomino de conhecidus ignorantus tristis.

A meu lado tinha duas leucócitas amigas. Entre conversas que ali não tinham cabimento (ali nada cabe!), tentámos "imunizar-nos" do ambiente contaminado com inhas, loiras dopadas, actores de telenovelas com corantes, fotógrafos que fingem fazer frete, e os habituais corpos sociais desta sociedade anónima de vedetas que não paga o que bebe, o que veste... Sendo que até o que fode tem de estar na moda. Nem comer sabem. Daí a fome.

De repente, ouvimos gritos tribais de "arranjar par para a noite" (não lhe consigo chamar acasalamento, iria ofender milhares de anos de vida neste planeta) vindos da cabine do "senhor que estava a pôr música" (não lhe consigo chamar DJ, iria ofender muitos profissionais): «Tou nem aí, tou nem aí... lá lá lá».

Foi a nossa deixa. As três leucócitas esgueiraram-se pela caixa alta (claro!) deste artigo de zoologia nocturna da National, antes que o gerente amigo da R. viesse perguntar o que tínhamos achado do estaminé e antes que a relações públicas entrasse em depressão.

PS 1: As empregadas do bar são extremamente simpáticas, como já não é costume em Lisboa (no LUX por exemplo, estão sempre de trombas, e não são elas que pagam aqueles preços!). As porteiras (que conheço vagamente, não sei de onde) também são. O porteiro também é (aquilo tem muitos porteiros...). Em geral, todos os colaboradores da FAMA são gentis, agradáveis e empenhados, só é pena estarem no projecto errado.

PS 2: A R. acha que a única coisa que compensou a noite foi comprovar que o filho do Carlos Mendes, o Francisco, é realmente muito giro. A televisão e as fotos não lhe fazem justiça, é verdade sim senhor.

PS 3: Duvido que alguém com poder executivo na discoteca FAMA leia isto, mas se ler gostava de lhe dizer uma coisa -Há por aí muita gente gira que não sai nas revistas e que tem muito mais para dar à noite do que aqueles seres que vocês convidam. Entendem? Gente que até paga as bebidas e vos dá dinheiro a ganhar. A gente que realmente faz a casa. Não me pareceu que a filosofia fosse barrar a entrada "à la Kapital", nada disso. Mas, com a fauna que convidam para promover a casa só afastam os potenciais clientes.

PS 4: Já agora, esta é para a relações públicas - um cliente insatisfeito é um consultor grátis (ouvi dizer de uma especialista em qualidade).

PS 5: A noite acabou por ser divertida.

PS 6: Uma coisa é certa, só lá vai quem quer. Todos os sítios têm uma porta, que serve para entrar e sair.

24.2.05

Ainda aqueles que me irritam

Os tipos (ver post anterior) têm a mania que são uma minoria e gostam disso, embora se queixem. No dia em que o deixam de ser, quando começam a ver estender-se aos corredores das massas, nos supermercados, nas mesas de café, no trabalho, no blogue vizinho (...), as ideias que tomam a peito (no papel e na bancada de opinião), aborrecem-se.

O povo gosta, os iluminados encolhem-se. O povo finalmente (!) percebe, os iluminados intrigam-se.

Estes tipos nem chegam a ser perigosos porque são demasiado cobardes para aproveitar a adesão, tardia é certo (o povo é lento!), às suas propostas etéreas. Porque a partir daí já não contam com a ajuda dos livros, só do seu coeficiente emocional... E eu sei que o deles é muito, muito baixo...

Estes tipos jamais governarão quem quer que seja. Ainda bem.

O que me irrita solenemente...

... a esquerda e a direita intelectual, com a mania da superioridade e a faquinha sempre à mão para espetar no âmago da sua intelectualidade perseguida.

Quero eu com isto dizer, para não parecer um deles, que há para aí (e por aqui na blogosfera em grande maioria) uns tipos muito inteligentes, que se acham melhores que toda a gente e que meteram na cabeça que são uma minoria atacada nas esferas do poder.

São uma minoria no jornalismo, são uma minoria nos blogues, são uma minoria na universidade... Em tudo. Uns desgraçados.

Os de esquerda consideram-se os eternos iluminados e solidários. Os de direita querem a todo o custo provar que a direita também tem gente intelectual e solidária e que isso não é apanágio da esquerda.

Todos em bicos dos pés na sua escrita e pensamentos filosóficos contemporâneos, com recorrência aos clássicos, para ver quem é mais esperto... POUPEM-ME. E vão plantar batatas.

O candidato Asdrúbal

Este tipo já me enganou uma vez e bem poderia voltar a enganar-me... Eu votava nele, ai votava sim senhor.

Tem muita razão naquilo que diz!

22.2.05

Ela não sabia, mas estava a ser observada - Cap. I

A partida

A Júlia passou-se. Às seis e meia da manhã, pegou nas malas vazias e apanhou o Alfa para o Porto. Ainda durante a viagem, não sabia o que ia fazer quando chegasse à "invicta", já estava farta de lá ir. Desde miúda que o carro dos pais só conhecia o caminho para a Foz. À chegada foi direita ao aeroporto e disse, tu cá tu lá com a sua mente fílmica, no momento em que atravassava o átrio cheio daquela gente híbrida exclusiva de um aeroporto, que ia apanhar o primeiro avião cujo destino não ultrapassasse os 200 euros. A senhora de farda 'démodé', com chumaços e golinha à catálogo anos 80/versão bancária, informou que dentro de uma hora e um quarto partia um para Lisboa. Raios, ela tinha-se comprometido a no primeiro vôo que encontrasse pela frente embarcar... Mas Lisboa parecia-lhe, no mínimo, ridículo.

Júlia acreditava no destino, mas não era bem aquele o filme que tinha feito; A cena seguinte tinha-a idealizado em Barcelona, Londres, Roma... Fora de Portugal. Ponto. Enfim, agora era um filme de meios modestos.

De repente estava a caminho de Lisboa. Que porcaria. A última vez na capital despediu-se com o bater da porta, em grande estilo (!), ao estágio de final de curso, naquele sítio gerido por mentes made in Opus Dei. Que horror, ia voltar àquela cidade onde se comia mal, vestia mal, e só se olhava para o chão.

Enquanto tamborilava os dedos em cima do joelho, só pensava se os lisboetas teriam já aberto umas lojas como deve ser para comprar roupa. Nas duas malas vazias havia espaço para uma colecção inteirinha...

Pensamentos in vitro 8

Perguntas com resposta, mas sem solução.

- Quando é que o amor por ele/a devia morrer?

Quando ele/a nos faz chorar a primeira vez.

- Quando é que o amor morre?

Nunca. O verdadeiro.

- Quando é que uma relação devia acabar?

De preferência antes do amor acabar.

- Complicado?

Sempre.

21.2.05

A minha vida dava um intervalo de um filme

Foto de Brian Hull in galeria do Xupacabras

Neste momento é assim que me sinto, num intervalo de cinema. Numa daquelas poucas salas onde ainda se usa a pausa para um café ou a compra de um chocolate. De cafeína não gosto, nem preciso, adrenalina e insónia já tenho que bastem. Chocolate, sim, derrete-me os nervos.

Estou a esticar as pernas de uma longa temporada sentada à frente do destino que já passei, preparando-me para o futuro que não há maneira de ser passado. Mas a segunda parte nunca mais começa, e o bilhete já eu quase o desfiz na minha mão. Não tarda nada não consigo ver o número da fila e da cadeira, esqueci-me onde era o meu lugar. Ah, é verdade, já não há lugares marcados.

E nunca mais oiço o "dlim dlão"...

Eu sabia

"Eu sabia!" é a minha frase preferida, e há muito tempo que não a utilizava... Quem me conhece sabe que é o código para quando dou aqueles ares de esperteza crónica.

Eu sabia que a Fábrica ia trabalhar bem. Eu sabia que a malta ia alinhar. Eu sabia que um blogue sobre cinema, embora não seja o único na blogosfera portuguesa, tinha muitas fitas para percorrer. Eu sabia que em conjunto o filme era outro.

Eu sabia, já há muito tempo, que não ando com pachorra para falsas modéstias...

Mas isso, também, já vocês sabiam.

Estou contente com vocês, porra!

20.2.05

Declaração de voto

Os meus amigos são um verdadeiro painel do eleitorado português. Tenho-os de todos os partidos. Sempre que discutimos política vêm à tona as diferenças de opinião e de visão do melhor para o país. Às vezes saímos todos "de esquerda" uns com os outros, mas nunca deixámos de ser "amigos às direitas".

No dia que hoje termina, com início de um novo ciclo sujeito a aprovação daqui a quatro anos, formulo aqui uma conclusão a que cheguei nos últimos dias:

Se em todos os partidos há, pelo menos, um apoiante que é meu Amigo, então nenhum partido é totalmente mau. Todos os caminhos são pertinentes, a maneira como se percorrem é que pode fazer toda a diferença. É por isso, também, que nenhum partido é totalmente bom.

Felizmente, todos os meus amigos sabem disso. Nenhum deles sofre de "partidarite"... A maioria das vezes até geram anti-corpos. Para a próxima, voto em vocês pá!

18.2.05

Aproxima-se o dia mais calmo do ano

É de aproveitar porque tão depressa não haverá outro assim. Sem audiência, sem artistas e sem espectáculo. Só o silêncio.

17.2.05

ROMA ao contrário

A minha querida LOLITA anda a falar muito em ROMA ao contrário. Química, "medicinas alternativas" e até vitaminas... Vale a pena ler, porque se há coisa em que ela é pura é nas palavras. Não anda cá com m... filosóficas e tiradas de pensadores. É a Lolita.

Neste capítulo só me resta dizer uma coisa:

Em ROMA ao contrário sê romano.

Código Publicitário: Se alguém de repente lhe der um conselho que não pediu, tome-o na mesma e sinta o efeito.

Sentimentalmente oposta

Dei-me conta já há algum tempo que sou sentimentalmente oposta. Não sei se é um síndrome novo para o rol das doenças auto-imunes, mas é definitivamente muito cá do meu corpo.

Quaisquer que sejam a conjuntura e a razão de ser dos diversos estados de humor e das reacções dos que me rodeiam, eu ajo sempre ao contrário. Se os outros estão enervados, eu fico calma; Se estão preocupados, eu relaxo; Se estão histericamente alegres, eu fico serena; Se estão exaltados, apelo à serenidade; Se estão morbidamente tristes, eu abuso do humor negro... Por aí fora.

Será isto bom? Estarei a contribuir para o equilíbrio das relações e do Mundo? Ou será isto apenas mimo? E, nesse caso, estarei a isolar-me dos outros?

Talvez seja por isso que quando rio com os outros (uma das mais belas coisas da vida) e quando choro com os outros, me sinta tão menos só.

Estar com é bom. Sobretudo se são os outros que estão comigo.

15.2.05

É neste que eu vou votar

Em plena praça lisboeta, entre as "carantonhas" do costume, que poluem a paisagem do país nos últimos tempos da agitada vida política portuguesa, reparei hoje finalmente (!) no meu candidato.

Este sim, mudava os destinos de Portugal!

Nota: Eu sei que este não é o cartaz da campanha portuguesa, mas só consegui arranjar a versão italiana. É quase igual. Não reclamem, s.f.f.

Quem faz anos não sai à rua

É a última moda. O último grito. É costume, agora, ficar em casa a carpir as mágoas da idade, não querer festa porque "não ligo nada a essas coisas, quero é paz e sossego e amanhã é outro dia". Quase todas as minhas amigas (isto acontece mais às mulheres, é verdade) andam nessa. Mas há variantes:

As que não querem festa, não querem festa surpresa, não querem ninguém lá em casa a chatear (nem sequer amigos mais próximos). Só admitem prenda (nos dias a seguir, claro) e telefonemas.

As que dizem que não querem festa, nem que lhe lembrem o assunto, mas ficam à espera de uma festa surpresa. Se não for possível, pelo menos que alguém se lembre de aparecer lá em casa, "só para dar um beijinho".

As mais radicais. Agendam trabalho e viagens, inadiáveis, para o dia de anos. Assim não há riscos de tropeçarem nos amigos.

Porquê?

Hipóteses avançadas:

É um dia deprimente

Dá muito trabalho pensar no menu, no sítio, na lista de convidados, se vai a família, se vão aqueles deveriam ir também os outros (etc...)

Falta de tempo

Falta de paciência

Falta de dinheiro

(...)

Resultado: Actualmente, pergunto sempre com antecedência como estão de humores, se posso ir a casa ou não (se sim, posso organizar uma ida surpresa com vários amigos ou tenho de ir sozinha), se ela gostaria de ter festa surpresa (se sim, como, onde e com quem), etc, etc, etc... Mas, isto é muito importante (!), sem dar a entender que eu quero saber estas coisas todas.

Na maioria das vezes criam-se autênticos grupos de discussão sobre o que a aniversariante em questão realmente quererá: "Não, não, se a gente lá aparecer manda-nos com uma coisa à cabeça", "Ela quer é que nós organizemos qualquer coisa", "Ela quer mesmo é ficar sozinha", "Ela vai detetstar o restaurante que escolheste", "Convidaste esses? Não sei se ela quer, assim também temos de convidar não sei quem...".

Conclusão: Começo a ficar farta dos aniversários das minhas amigas.

Confissão: Eu já tive de tudo. Já me fizeram surpresas, já me ignoraram (a meu pedido), já organizei eu uma grande festa (30º aniversário foi de arromba), já agendei viagens, já...

E sabem que mais? Elas também me telefonaram uns dias antes a perguntar.

Pensamentos in vitro 7

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, não deveríamos andar todos calados? E o mundo seria um filme mudo. Uma tela animada. Às vezes a cores, outras a preto, branco e cinzento. E o silêncio falaria mais alto.

E seria uma chatice.

14.2.05

Apuramento da espécie

Ou a raça dos homens está a ficar apurada, ou o meu marido é "muito à frente".

O gajo agora, não ele não é gay, que eu sei (mesmo que fosse, era um gay homem, não um homem gay!), cada vez que vê o Jude Law fica fascinado. Acha-o, despudoradamente, lindo e bom (bom de bom, não de bom homem).

Começo a pensar se não terei de arranjar para aí uma heroína a quem chamar boa. Sinto-me ultrapassada pelo marido. Era só o que me faltava.

A beleza "interior"

Os mandamentos da minha mãe:

- Usar sempre roupa interior de qualidade e em bom estado, porque não se vê mas percebe-se, e pode-se ter um acidente e parece mal.

- Estar sempre livre de pêlos, porque é mais higiénico e pode-se ter uma acidente e parece mal.

- Nunca dormir nua, porque pode haver um terramoto e depois vem-se para a rua em má figura (depende da pessoa, claro).

-Ter sempre as unhas dos pés bem cortadas e os calcanhares hidratados, porque se pode ter um acidente e parece mal.

- Ter sempre um roupão novo, uma camisa de dormir nova e bonita, uns chinelos de quarto novos e bonitos, roupa interior nova e bonita, para o caso de ser preciso ir para o hospital.

A minha mãe não é sexy, é precavida. Isto é muito bem capaz de demonstrar, na prática, a utilidade da beleza feminina e das coisas fúteis, como a roupa interior. Tudo tem uma explicação. Afinal de contas, somos ou não somos o país com mais acidentes de viação?

Já começou o dia mais piroso do ano...

... Soltem as rosas, levem-na a jantar, arranjem o cabelo, maquilhem-se, ponham a gravata nova, aspirem o carro, saiam mais cedo do trabalho, escolham bem a lingerie, não se esqueçam da depilação, façam a barba três vezes, lavem os dentes de cinco em cinco minutos, troquem surpresas...

Ao oitavo dia, S. Valentim exigiu o sacrifício do bom gosto e da espontaneidade no amor em sua honra. E Deus, que estava cansado porque tinha criado o mundo, concedeu-o para não ter de se chatear com o raio do santo.

Há quem goste.

13.2.05

A Irmã Lúcia, a religião e eu

A Irmã Lúcia morreu. Quando me falaram disso hoje ao almoço, mais concretamente o tradicional repasto familiar de Domingo, a minha imediata reacção(parva) foi: "Óptimo, agora já pode ir ter com a Nossa Senhora de Fátima". A minha mãe fingiu que não ouviu, o meu marido também para não estragar a bela carne e ofender a sogra, à minha irmã deu-lhe vontade de rir. A coisa ficou por ali.

Sou católica de formação, mas actualmente considero-me "apenas" cristã. Quer isto dizer que embora a minha cédula, carimbada até ao Crisma, com mais uns sacramentos pelo caminho, seja católica, acabei por sucumbir às desilusões e incoerências em que fui tropeçando nesse mesmo caminho.

Continuo a entrar nas igrejas para rezar, continuo a dar por mim a rezar todos os dias, continuo a gostar do mais belo 'best off' do mundo - a Bíblia, e mais importante de tudo continuo a acreditar na mensagem de Cristo, na Santíssima Trindade, na Virgem Maria, na Ressurreição, e no maior mandamento: Ama o próximo como a ti mesmo.

Por isto tudo jamais poderia transferir a minha devoção para a religião Protestante, embora simpatize com ela. Não sou grande fã do culto dos santinhos, mas sempre representam o rosto humano do divino e fazem os seus adoradores felizes. Não concordo com a confissão, mas também acho os protestantes muito mais puritanos que os católicos (os pecados deles devem ser muito sem sal). Defendo o casamento dos padres, mas também não devem haver muitas mulheres com vontade de casar com um pastor.

Sendo assim, resolvi não me converter ao protestantismo, até porque, tal como a maioria das religiões, a igreja iniciada por Lutero leva tudo muito mais a sério. Só o catolicismo é que se dá ao luxo de ser cultura, as outras religiões exigem o cumprimento à séria, por parte dos seus seguidores, da doutrina.

Os católicos, por sua vez, são do mais liberal que há. Há praticantes, não praticantes (uma distinção um pouco cretina, diga-se de passagem), quem não se confesse desde a primeira comunhão, quem seja a favor da liberalização do aborto, quem se esteja perfeitamente a marimbar para os conselhos sobre anti-concepcionais do Papa... Ainda dizem que a Igreja Católica é retrógada? Não é não. É incoerente. Defende uma coisa e absolve os fiéis que fazem outra. E ai do padre que se recuse a celebrar um casamento de dois "semi-ateus-baptizados-e-que-querem-fazer-uma-festa-bonita-no-altar-como-nos-filmes-e-como-a-rapariga-sempre-sonhou", e ai do padre que se recuse a celebrar o baptizado da "criancinha-filha-de-pais-semi-ateus-que-só-irão-voltar-à-igreja-quando-os-filhos-casarem-e-quando-morrerem"... Ai dele.

Deixei-me disso. Deus sabe os nervos que já apanhei à conta das paróquias.

Deixei-me de incoerências, em suma.

Que porra. Se eu até acredito, quase desde que me conheço, na reencarnação! Se eu estou contra a confissão, a favor da liberalização do aborto, defendo a pílula, considero o divórcio um sacramento civil abençoado. E ainda, atribuo à igreja católica uma quota parte significativa da responsabilidade pelo aumento do número de infectados pela Sida e pelo estado semi-tribal em que ainda se encontra a condição feminina. Entre outras coisas, que com a idade fui vendo que não coincidiam muito bem com a catequese.

É neste estado de desvinculação, mais institucional que espiritual, que me encontro e que gerou a minha reacção (parva) à morte da Irmã Lúcia. No entanto, sempre tive, mesmo enquanto católica bem aplicada, uma relação muito distante com Fátima, considerando-a uma religião à parte. Não sei se acredito. Sei que nunca desejei acreditar, como se nunca me tivesse feito falta.

E o que é a religião afinal? O desejo de fé, antes da própria fé.

A minha tirada sobre a Irmã Lúcia foi desrespeitosa. O contrário daquilo que sempre nutri pelo culto de Fátima, apesar da minha desconfiança. Porque se em alguma coisa posso e devo acreditar é na fé das pessoas que para lá caminham todo o ano.

Pensamentos in vitro 6

A mais dura arma que o Homem utiliza é a sua própria palavra. A mais vil, a mais paralizante, a mais mortal. A palavra tem o poder de aniquilar sonhos, destruir certezas e ideais ou simplesmente calar o outro. Nos duelos verbais matam-se muitas vidas por dia.

O índice de mortalidade revela que uma percentagem significativa de óbitos acontece fora das discussões oficiais. Também existem as palavras mudas, verdadeiras assassinas profissionais.

Pergunta que motivou este teste laboratorial: Como é possível as pessoas magoarem-se tanto? Será isto o instinto assassino?

11.2.05

Afinal não fui adoptada

Chego a pensar muitas vezes que não sou de cá. Nos meus sonhos mais anti-patrióticos, alguém de muito má rês teria raptado a minha família (sim, que essa eu não dispenso) de um outro país "mais melhor em tudo que Portugal", e hoje mais não seríamos que filhos adoptivos da classe portuguesa...

Estes sonhos de muito má recomendação, sobretudo a menores que ainda não têm todos valores ingeridos e opiniões formadas, sucedem-se nos últimos tempos a um ritmo alucinante e nem as insónias me safam.

Mas, pai é quem cria... E Portugal me criou... E eu não degenerei.

Ontem à noite, no trilho do Chiado, perto do Tribunal da Boa-Hora, dei com o meu carro assaltado. Passei-me. Barafustei. Quase chorei. Ainda por cima para roubarem zero. Não tinha nada, absolutamente nada de valor lá dentro. Em troca recebi um vidro partido e os assentos de trás cheios de estilhaços que ainda não consegui tirar.

Ocorreram-me logo "pensamentos de velha na feira a falar com um político que anda em campanha": Veja lá se acaba com os drógados, esses malandros que nos assaltam. É uma vergonha, não há segurança...

No segundo imediatamente a seguir, veio a lógica do "podia ter sido pior e até tive sorte, e há gente coitada mais infortunada": Oh... Por acaso o ladrão até foi sério, partiu só o vidro, não estragou a fechadura, não riscou, não vandalizou, não sujou... Até partiu o vidro mais pequeno e mais barato. Podia ter-me acontecido o mesmo que à B. a quem rasgaram os estofos e queimaram o tecto, e arrancaram o 'tablier'... e.... Vá lá, vá lá.

Estão a ver? Agora digam lá, sou ou não portuguesa verde-rubra?

Já estreou o meu outro blog

Com sessões a todas as horas, gomas e pipocas, que nós queremos é casa cheia!

A partir de agora começo também a dar no duro na Fábrica Lumière, uma co-produção sem subsídios estatais, de baixos custos, altas cenas e inteiramente dedicada aos filmes.

Comprem já o bilhete antes que esgote.

8.2.05

The End?

Será que é o fim da mais bela galeria de fotos?

7.2.05

A sublime sensualidade da arte de cozinhar

O título é demasiado rebuscado para este post que nem sequer é sobre pastelaria fina ou a, actualmente muito em voga,cozinha afrodisíaca. Ocorreu-me mais falar sobre meter a mão na massa.

A cozinha é de todas as divisões da casa a que menos me importa utilizar. Gosto de vê-la arrumadinha, a brilhar, com todos os apetrechos pendurados bem oleados e a luzir. O inox em contraste com a pedra preta da bancada, o micro-ondas a um cantinho, o copo misturador no outro e a torradeira, e os outros electrodomésticos todos arrumados, que eu não gosto de coisas atulhadas. A típica cozinha de quem não cozinha, aquece.

Nem sempre foi assim. As circunstâncias da vida assim o motivaram, com tudo o que isso tem de bom e de mau. O bom é a comida da minha mãe, o mau é o analfabetismo culinário em que caí.

Cozinhar é bonito.

Se não fosse ter de ir ao supermercado e gastar um rio de dinheiro em víveres, quase que invejava (pouco) as pessoas que diariamente têm de se fazer aos tachos. Os cheiros, o calor do fogão, a gula a crescer cada vez que a fervura emana odores a alho, azeite, louro, coentros... hummm, os ingredientes cortados com perícia por facas bem afiadas, o sacudir dos braços de quem bate umas claras ou amassa o pão... Tudo isto faz parte da minha infância, quando ainda não chegava à bancada e não podia brincar com o fogo.

Quem me conhece é capaz de não acreditar, mas cresci a amar a culinária. Como todas as crianças imitava os adultos, e à minha mãe, que deixou de trabalhar quando me teve (só Deus sabe como conseguiu), imitava a parte que ela dedicava à confecção do nosso alimento, embora ela odeie cozinhar (jamais perceberei como é que ela o faz tão bem). Nunca brinquei muito com bonecas (a não ser a famosa Tucha, antecessora da Barbie que só vim a conhecer muito mais tarde), preferindo-lhes os telefones, as malas, os sapatos e colares da minha mãe, a mala de médico, os papéis de escritório, a super mulher, os jornalistas, as hospedeiras (valha-me Deus que me arejou a cabeça), os molhos de chaves (um dia explico melhor esta parte) e... as panelinhas e serviços de chá em loiça. Ainda hoje quando entro na loja Imaginário vou a correr para essa secção. Deliro.

Cada bolo, cada doce, cada prato da minha mãe me fazem lembrar certas épocas e certos rituais, que não consigo dissociar. O Bolo de Iogurte e o Bolo de Mármore (quem não conhece?) eram os mais frequentes, os do dia-a-dia. O arroz doce branco da Beira (sem ovos, portanto) dos fins-de-semana. O leite-creme para as visitas, no Natal e na Páscoa (antes das modernices em que a minha mãe se meteu com leites condensados e palitos La Reine). O cabrito assado no forno, a chanfana no Inverno, o serrabulho com grelos, as pataniscas, o arroz de cabidela (“arroz de terra”, como o meu pai lhe chamava), o frango com limão no forno, etc, etc... A Tarte de Maçã, as queijadas de leite... etc...etc...etc. Os fabulosos croquetes, cuja carne a minha mãe picava num estranho torno de ferro... Meu Deus, entrei num albúm e era capaz de aqui continuar o dia todo.

Livros de culinária? Devorava-os. O último grito eram os fascículos do Chefe Silva, a colecção “Teleculinária”. Ainda hoje a minha mãe se orienta por eles, há uns hamburguer’s caseiros com molho de mostarda que ainda fazem história. Depois vieram, os Gouchas, as “receitas modernas”, a mania das dietas, as semanas e os fins destas atribulados sem muito tempo para estar à mesa. Enfim, a minha mãe diminui as calorias e o tempo passado na cozinha, mas ainda assim não há para mim melhor restaurante. De vez em quando ainda rapo a taça depois dela bater um bolo.

Claro que eu também a deixei de imitar. Até aos 18 anos mais ou menos, quando me dava a neura lá ia eu para a cozinha bater uns ovos com açúcar, untar formas, controlar temperaturas de forno, encher-me de farinha, usar o rolo da massa (adoro este utensílio) e presentear a família e amigos com os meus bolos e bolinhos. A minha mãe nunca me deixou brincar com comida a sério, só com bolos, e eu por sinal também achava a pastelaria mais dinâmica e divertida. Fazer ‘scones’ então, e comê-los a ferver, era um pecado recorrente.

Tudo passa, mas ainda resiste em mim um fascínio por separar a gema da clara, picar o bolo com o palito para ver se está cozido, ou bater manualmente as claras em castelo até que ao virá-las para baixo elas permaneçam firmes da minha arte.

Na minha cozinha arrumada gostava um dia de voltar a meter a mão na massa e, quem sabe, ver alguém a imitar-me

.

Ser filha

uma vez aqui escrevi que me considero “eterna filha”, o que talvez explique a minha relutância em ser mãe.

Hoje, precisamente, filha que sou, li um post sobre a intensidade deste estado, que não linko porque até na blogosfera há coisas que devem permanecer privadas, e neste caso em especial não tenho o direito de abusar daquelas palavras; Mas devo dizer, ou melhor preciso dizer, que me fez transbordar em lágrimas como poucos o fizeram até agora.

Perder a razão de sermos filhos é talvez a mais dura prova que enquanto terrenos temos de suportar.

Recordo hoje com um sorriso o pânico que sentia quando me perdia dos meus pais na rua e na praia. Aquele momento em que olhava para cima e via que a mão que agarrava não era a do meu pai ou da minha mãe não se equivalia a nenhum pesadelo, superava-os a todos.

Mais tarde, quando senti que a mão do meu pai se deslargava de mim todos uns dias mais um bocadinho, desejei estar perdida numa praia para infinitamente pensar que mais cedo ou mais tarde ele me viria buscar.

Foi nessa altura que mais me senti filha. No limite da perda, assumi singularmente este estado até hoje. Só espero um dia reencontrar o meu pai numa outra rua, que acredito existir numa outra terra. Até lá quero agarrar com todas as forças a mão da minha mãe. Todos os dias.

6.2.05

Pensamentos in vitro 5

O timing perfeito dos amantes

Os mais felizes vivem ao mesmo tempo. Cada hora, viva ou morta, é medida pelo mesmo bater cardíaco. Amam-se e deixam-se em perfeita sintonia. Sem desequilíbrio, sem dor a mais num coração que no outro. Lágrimas e sorrisos simétricos.

Só assim o amor seria sempre feliz, mesmo quando acaba. Só assim seria impossível sofrer sozinho.

Há os que vivem ao mesmo tempo até à morte, mas esse timing é demasiado perfeito para um pensamento dum simples blog mortal.

5.2.05

Empatias

Estou "empática". Isto foi para mim:

«(um amigo) Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa.»

Com a assinatura do poeta maior Vinicius de Moraes, contraí assim mais uma empatia na blogosfera. Esta, bastante visível por sinal, foi apenas uma de muitas. Todos os dias descubro palavras - de direita, de esquerda, machistas, feministas, simplistas, fatalistas, infantis, pueris, sagradas, pagãs, banais, cristalizadas... e tudo o mais que as palavras sabem ser - que tocam as minhas extremidades nervosas e sensíveis, e perfuram o meu sistema imunológico, cada vez mais debilitado.

São empatias. Uma patologia a que sou dada, mais pelo lado do ADN, do que pelo do contágio.

As palavras dos outros às vezes tocam-me tanto que, mesmo traduzindo ideias adversas às minhas (o que não é difícil, já que o meu código genético é por natureza adverso até prova em contrário), entram em mim como anticorpos que não consigo rejeitar.

Juro assim perseguir essas células gémeas até que as minhas impressões digitais sirvam para agarrar o teclado.

4.2.05

Sabem como é?

Sabem como é o vazio?

Uma casa cheia de paredes compostas, cadeiras amiúde, secretárias enxertadas, papéis “ao tio ao tio”, corredores sem Norte e sem vontade de rumar a Sul?

Sabem como é o cheio?

Uma casa vazia de alma, com gentes que são apenas sombra de um passado, encalhadas umas nas outras, boas e más, atropeladas pelo rumor assassino sem carácter que as torna cheias de... pena e nojo?

Sabem como é?

Eu sei. Tomara não saber.

Restam-me os que sabem tão bem como eu. Subiremos para a lua.

3.2.05

PARABÉNS Loirinha!

E logo eu, que nunca escrevi diários durante a adolescência tal era o pânico que alguém pudesse ler o que me ia na alma.

Não há nada que a idade não resolva. O Suave Milagre comemora um ano! Está verdinho, como os olhos dela, e é o orgulho da família! Leiam e acreditem que esta loira não é mesmo nada burra!

Ciúme

Acho uma certa graça ao facto das pessoas, sobretudo os homens, acharem o ciúme uma coisa maligna. Isso é visível aí abaixo nos comentários ao post anterior. Eu sou ciumenta. Admito. Ciumenta no amor e na amizade. Acho que não sou doentia, mas isso só os outros o podem dizer. Nunca estraguei nenhuma relação por causa desse “pequeno” defeito e geralmente atribuo as culpas à intensidade que ponho em tudo o que faço. O signo e o ascendente, que navegam ambos em águas profundas, também contribuem para esse manifestação interior dos meus afectos. Interior, sim. Jamais fiz cenas e desde que me conheço adulta não exteriorizo facilmente o ciúme.

Claro que, como em quase tudo o que faço na vida, eu acho que sou uma ciumenta diferente. Óbvio. É comum dizer-se que quem tem ciúmes é porque tem falta de autoconfiança... Errado. O meu problema é que tenho autoconfiança a mais. Acho inadmissível alguém trocar-me. O pior é que eu também sei que ninguém troca ninguém. O Homem (com letra H grande) não é um ser monogâmico. Não troca. Acumula. Fico assim neste impasse. Sei o que o corpo humano gasta, sei o que a mente humana concebe. Sei que a montra de doces é apelativa. Sei que não existem almas gémeas. Sei que existem muitas almas consortes, como diz a G. Sei que continuo a ser ciumenta. Sei tanta coisa que até chateia. O mal é esse.

2.2.05

Pensamentos in vitro 4

A infidelidade é mais uma maneira de arranjarmos alguém por quem sentir ciúmes.

1.2.05

O que é que correu mal?

(um homem e uma mulher de meia idade, avançada, desabafam sobre a vida)

- Veja lá o senhor que a minha vizinha do 3º esquerdo foi ontem assaltada. Às 4 da tarde!

- Isto é uma vergonha! Não há quem ponha mão nisto! Estamos cada vez pior!

- Falaram tanto mal do Salazar, até o queriam matar, mas ele coitado... Olhe, até cá fazia falta agora! Pelo menos podíamos sair à rua sem ser assaltadas.

-Ainda me lembro dele, coitado, vir à televisão pedir desculpa ao povo por ter de aumentar o açúcar dois tostões. Veja lá 'vocemecê'... Pedir deculpa!

- 'Tá certo que naquela altura também não se podia abrir o bico para dizer o que quer que fosse!... Andava tudo com medo...

- Pois é vizinha, eu agora posso falar quando quero e o que quero, mas ninguém me ouve!...

Repito: O que é que correu mal?