31.5.04

Um britânico em Lisboa ou a insustentável leveza da cerveja

O Duncan é britânico, nasceu em Londres, cresceu na Escócia, decidiu casar em Portugal e tornou-se meu amigo pelo lado da mulher que desposou, a Martinha. Às vezes acho que ele é uma espécie de extra-terrestre, à espera que a nave saia da oficina... A forma como encara as relações familiares, a pontualidade portuguesa, a estrada (ele recusa-se a conduzir em Lisboa), a comida, etc, está para zero como a nossa está para infinito. O último encontro imediato de terceiro grau deu-se com a publicidade à Super Bock. Ele não compreende os hábitos de consumo da cerveja portugueses! Como é possível? Questiona. Cerveja preta para jovens modernos e vivaços? No Reino Unido quem a bebe são os velhos! Cerveja com sabor a limão para anjos com sexo, jovens, sexy?! No Reino Unido quem a bebe são as mulheres já entradotas! Ele ainda não sabe é que portugueses têm um código de permanência na terra único, inscrito no feminino, quanto mais se tenta decifrar...

28.5.04

Este post abre o capítulo dos convidados especiais

Pois! Mal iniciei o blog começaram a chover os pedidos de participação especial! E eu fico muito contente por os meus amigos trintões quererem meter a sua foicezita! A primeira a abrir as hostes é a minha amiga C. (ver o post "Alguém que nos passe a mão pela cabeça")que partilha comigo a paixão pelo cinema e que agora se lembrou de aconselhar os papás acerca do que vale ou não a pena servir de pretexto para contratar ou não a babysitter (Já agora, que não se inibam os meus queridos vintões e quarentões...):
Não se pode agradar a gregos e a troianos!strong> O encanto pelo cinema pode começar antes dos trinta mas nesta idade escolher um filme já exige alguma reflexão. Por esta altura outros há, que preferem o filme das “fraldas e dos biberões” e esses, certamente, ainda estão na hora do “intervalo”! No entanto, há aqueles “trintões” que arriscam ver um pouco de tudo (até o "Ken Park" de Larry Clark!!!), pois a emoção da descoberta de um bom filme é mais forte que qualquer desaire sofrido ao levantar da cadeira. Quentin Tarantino é um bom exemplo de quem viu de tudo e de como tão útil foi para a sua mestria de realizador. Existem actualmente três filmes a questionar por razões diferentes. O primeiro “Lost In Translation” da realizadora Sofia Coppola. Costuma dizer- se “filho de peixe sabe nadar”, mas neste caso ela tem a perícia de “mergulhar fundo”(planos fabulosos) e domina a arte de contar, o que só um dom da natureza pode garantir e não apenas as regras da genética. Por isso, e não só, é um filme a não perder! O segundo é “Kill Bill 2“. Quem gosta de Tarantino não pode perder. Quem não é seu entusiasta pode arriscar porque é irresistível!!! Há um pouco de tudo magnanimamente presente, como estivéssemos num Clube Vídeo: filmes de cowboys, artes marciais, comédia, terror, drama. O terceiro filme a perder (não vale a pena pagar à Babysitter...) é “Tróia”. É certo que injustamente para alguns dos actores, entre eles, Peter O'Toole, que imprime sempre um cunho de suprema representação. O mesmo não se pode dizer de Brad Pitt, que no personagem de Aquiles o que mais sobressai é a robustez dos seus braços musculados denotando, isso sim, muito afinco ao trabalho no ginásio! É daqueles filmes que podemos arrumar na prateleira da indústria americana que tanto preza as grandes produções e prima por distorcer a História com pormenores requintados de imaginação ”hollywodesca”. É o exemplo do chorrilho de setas que atinge Aquiles no seguimento de uma primeira (no tornozelo) à qual se deve a sua morte. Já agora, para refrescar a memória dos mais desatentos a guerra de Tróia durou cerca de 10 anos, também aqui mais uma “americanada” pois no filme todo o conflito é desenhado em duas ou três batalhas. Para aqueles que saíram da sala de cinema convictos que apreenderam alguma coisa, desiludam-se! Pelo sim, pelo não, o melhor mesmo é ir à biblioteca mais próxima e confirmar! Os menos exigentes podem conformar-se com o facto da beleza de alguns actores fazer “jus” à dos seus personagens, como é o caso da figura esbelta de Helena ou do físico estonteante de Aquiles. Por isso, as minhas últimas linhas vão para o actor Brad Pitt que esteve aquém do seu melhor na interpretação mas fisicamente, desculpem-me, melhor é impossível!!!

Oh pá... Também quero ter amnésia!

As insónias dão-me para isto. A madrugada de hoje trouxe-me um episódio de "Modelo e Detective" (quando o Bruce Willis ainda tinha cabelo e a Cibyl era gira). A meio de uma cena de almoço, a Modelo saca de uma marguerita e faz um brinde que, para o caso, não interessa contextualizar: "Às mulheres esclarecidas, e ao esclarecimento dos homens". Boa loura. Brindo a isso também. Assim sendo, aconselho vivamente os homens a verem o filme "A minha namorada tem amnésia", para ficarem esclarecidos sobre a infinita capacidade que possuem de seduzir e reinventar a sedução. As mulheres também devem ver, claro, para observarem a materialização do seu esclarecimento inato. (A Drew Barrimore está divinal e o Adam Sandler vai muito bem e tem os dentes quase tão brancos como os do Paulo Portas).

Deprimidos mas pouco...

Estive três dias fechada num hotel... Não, não estive a olhar para o tecto, num quarto com vista para a cidade! Nestas últimas jornadas frequentei um curso sobre a modernização administrativa (o que constitui um fait-diver deste post) e à hora de almoço escapei para pôr a conversa em dia com algumas amigas. Todas elas estão deprimidas... E mais: Falámos sobre os ausentes que também estão deprimidos. Gajos e gajas. Ontem ao fim da tarde, e também fim de curso(graças a Deus!)fiz o ponto da situação com a Anita, enquanto comíamos um gelado na Feira do Livro e vasculhávamos descaradamente os livros nos quiosques. Pois é, dizia a Anita, a nossa geração é a dos deprimidos! Eu também acho. Sem qualquer tipo de pudor científico estabelecemos as coordenadas, analisámos as variáveis, contabilizámos traumas e pancadas e chegámos à mesma conclusão. Fomos mimados por pais fantásticos, conservadores na sua maioria talvez, que nos abriram o caminho, dentro das suas possibilidades, para uma educação "superior" e para uma vida regalada. Caminhando ao nosso lado, os nossos pápás, que nos transmitiram valores preto no branco, não se aperceberam que fomos descobrindo os cinzentos da vida. E agora vemos o quanto a realidade e a aprendizagem estão desajustados. Não estávamos nada preparados para isso. Porque nós ainda somos, como naquele filme "O Primeiro Beijo", imagens obstinadas da idade da inocência vivida nos longínquos anos setenta.

24.5.04

Lili a evangelista

O Professor Marcelo Rebelo de Sousa tem razão quando atribui parte do grande interesse manifestado pelos canais televisivos, e até pela TSF, na cerimónia real em Madrid, ao desejo de pôr em prática um pouco de jornalismo positivo. Boas notícias fazem dias felizes. Para a prossecução deste objectivo psico-terapeuta dos média, os mais afoitos, como a SIC, escolhem comentadores que nos fazem rir. Lili Caneças é disso exemplo. A senhora ficou visivelmente emocionada com aquela que foi sem dúvida, na minha opinião, a melhor intervenção (e que bem podia ser elevada a moção, não tivesse o seu subscritor desaparecido há muito tempo!) de todo o fim de semana político-real-social: A leitura declamada pela avó de Letizia Ortiz. Lili, que não é o Padre Borga, referiu-se à passagem da Bíblia como "O Evangelho de S. Paulo aos Coríntios"... Epístola, minha senhora, epístola! São Paulo não escreveu nenhum evangelho...

O sonhador, o congressista e o comentador

Pacheco Pereira, no sábado à noite, na SIC, disse que nunca o PSD iria sujeitar o seu calendário político a um casamento real no país vizinho. Marques Mendes, à SIC, confessou que realmente não tinha estado no congresso da parte da manhã e que sim, tinha visto um bocadito do casamento do país ao lado, e que se calhar os outros também viram. Marcelo Rebelo de Sousa, ao contrário dos seus amigos intelectuais (o que fez questão de frisar), viu com atenção longos excertos do casamento real(ainda por cima o Professor levanta-se cedo) e ainda aproveitou para reflectir sobre a monarquia republicana e a república monárquica. Mas o que eu gostei mesmo de ouvir foi o Professor Marcelo dizer que as pessoas tendem a tornar as figuras públicas, nomeadamente as das famílias reais, suas "familiares"... Concordo senhor Professor. Realmente as pessoas gostavam de ter uns príncipes como primos, mas aos políticos, na sua grande maioria, nem como vizinhos os queremos.

21.5.04

Alguém que nos passe a mão pela cabeça

Eu tenho uma amiga que vive só. Essa minha amiga é espectacular, inteligente, bonita, cheia de estilo e de um humor inteligente. Tem uma capacidade infinita de rir dela própria, o que é talvez das suas características mais atraentes. No último par de anos começou também a sentir pena dela própria, convencida que está da infinita tristeza que é a não ter marido/namorado/companheiro e, pior ainda, da enorme e contínua alegria que é ter um daqueles comparsas... Hoje disse-me que está farta de não ter ninguém que lhe passe a mão pela cabeça quando chega a casa estoirada e desiludida com as agruras da vida. Finalmente compreendi-a. Sim, é bom ter alguém à nossa cabeceira, e sim a sociedade é muito cruel com as mulheres e os homens sós, como se fossem uns encalhados! Querida C. só te consigo dizer uma coisa nesta altura: procura as almas consortes que a vida te dá, em cada esquina da tua existência haverá sempre alguém que faz a tua vida ter sentido... E depois, uma delas, quando menos esperas vestir-se-à de masculino (algures entre o estivador e o négligé, como tu gostas) que caminhará a teu lado! Para já, eu gosto de pensar que sou também uma alma consorte tua. Pronto. Desculpem. Já encerrei o consultório sentimental.

O efeito sedutor dos congressos

Este fim de semana há mais um congresso! Adoro... E é uma daquelas pancadas que não consigo explicar. Os melhores, claro, são os do PSD e os do PS. Fico sempre na expectativa que as personagens envolvidas façam um disparate, embaladas por um discurso entusiasmante, cheio de títulos para a imprensa. Mas o que eu gostava mesmo era que algum anónimo surgisse do fundo do salão, chegasse ao palanque e se tornasse o novo herói nacional! Deve ser isto a que chamam o "sebastianismo" ou o karma nacional. Já me disseram para não esperar milagres deste congresso. Sendo assim, só espero um bom espectáculo, com ou sem nevoeiro.

Não se esqueçam do champô... Seus corruptos!

Eu até achava que a Ministra Manuela Ferreira Leite era uma pessoa séria. Forreta, honesta, cara de bruxa (o que a própria senhora admitiu uma vez, num rasgo de humor que só lhe ficou bem). Sempre a considerei muito mázinha para os portugueses e não concordo com a maioria das suas medidas, mas reconheci-lhe sempre a seriedade e a coerência. Até mesmo agora, depois daquele esquecimentozito... Enfim, até admiti que a senhora se tivesse esquecido... Se calhar esqueceu-se, se calhar não... Agora o que lhe ficou mesmo mal e destruiu toda a sua imagem de seriedade foi o seu infeliz ataque a um jornalista (e a nós todos, os contribuintes!), qualquer coisa como veja lá se não tem por lá algum champô esquecido entre as facturas da fármácia que apresentou na sua declaração de IRS... Que vergonha! Já não bastava a nossa geração ser a mais sacrificada em impostos, especulação imobiliária... Ainda somos os que levamos com os políticos mais baixo nível!

20.5.04

Você é a sua melhor companhia

Frase proverbial esta proferida ontem por uma guru da reencarnação em trânsito pela nossa capital. A senhora é brasileira claro e não leva nada pelas palestras. Feliz dela que já descobriu a sua "missão" nesta vida. E eu, que começo a acreditar cada vez mais na minha amiga Gabriela (a minha guru particular nestas matérias do transcendente), assumo-me cada vez mais como uma verdadeira "esponja". Absorvo a informação na esperança de pingar qualquer coisa de últil para a minha existência comigo e com os outros, e suporto os olhares de gozo dos meus amigos devotos da racionalidade. Já adivinho os risos ao lerem este post... Bem o que interessa é que a simpática senhora disse uma grande verdade. Nós somos de facto a nossa melhor companhia, nesta e noutras vidas as respostas estão cá todas dentro(no inconsciente ?) é só aprender a ouvi-las e não rejeitar à partida uma resposta que afinal até já conhecemos mas em que resistimos acreditar.

19.5.04

A pergunta mais absurda que se faz a uma mulher nos programas de televisão (1)Quer ter filhos?

O que é que as figuras públicas femininas podem fazer perante uma pergunta destas? Só nos últimos dias vi duas a serem massacradas com esta questão - a Sofia Aparício e a Mariza. Porquê? Então mas acha que é difícil conciliar com a carreira? Acha que é uma prisão? Mas que mania! É claro que a pergunta é sempre lançada por uma mulher que já contribuiu para a inversão da pirâmide portuguesa... As inquiridas geralmente defendem-se com a sempre últil frase que oscila entre ainda não estar preparada, mas sim gostar muito de crianças, ainda não ter chegado a altura, e claro dever ser uma experiência muito boa e única, etc. Pudera, o que hão-de dizer? Lembro-me de uma vez ter ouvido num documentário a Brigite Bardot dizer que não queria nada ter sido mãe e confessar o sacrifico que foi para ela a maternidade. Não sei se será este o caso da Sofia Aparício e da Mariza e de tantas outras. Nem me interessa. Esta é uma questão tão íntima! Gostava que fossem as próprias mulheres de "sucesso", com voz nos média que deixassem de fazer esta pergunta ridícula e contribuissem para impedir a sociedade de continuar a exercer pressão sobre a mulher... Para isso já chegam os amigos e a família, a quem tudo se vai desculpando.

Clarinha

Os bracinhos gorduchos, os pézinhos perfeitos, 'mignone', cheirosa, cheia de refegos, curiosa... Linda. A Clarinha é um milagre da natureza que a minha amiga Anita deu ao Mundo. Ontem estive com ela nos braços, observei-a no banho deliciada, apertei-a e adormeci feliz. Feliz pela Anita, por mim e pelo Mundo. Ainda não há muito tempo falávamos nas agruras da gravidez e de como a maternidade parecia uma coisa tão distante... Ríamos sob o efeito anestesiante da eterna juventude e do estatuto de filhas eternas. Eu ainda me sinto mais filha do que mãe. Adoro ser filha. Aos poucos torno-me tia e estou em preparação para ser madrinha... Mas mãe?

18.5.04

Amor ausente... amor crescente?

Li ontem num livro pouco pretensioso que a ausência está para o amor, como o vento está para o fogo...

17.5.04

O que é estar out?

Ontem a minha irmã passou toda a tarde e noite com a TV desligada, completamente embrenhada no seu trabalho de professora, a preparar testes para os alunos. Ao fim da tarde começou a ouvir umas buzinadelas persistentes e contínuas,e até irritantes, que ela pensou provirem de um "alegre" cortejo de casamento a caminho da boda, e foi à varanda ver se avistava os carros com os trapitos brancos pendurados... E não viu nada. Pela noite adentro continuavam os festejos e a minha irmã continuou intrigada com a festa... Só hoje de manhã, quando ligou a televisão é que soube que afinal o Benfica tinha ganho a Taça de Portugal!!! Ahhhhhhhh... Disse ela! «Nem sabia que havia esse jogo»! Hoje não resisti e disse que ela estava definitivamente 'out'... E ainda me ri na cara dela. É sempre assim entre nós... Ela não sabe o que é um blog, mas em contrapartida conhece todas as doutrinas religiosas do mundo, nunca enviou um email, mas já me enviou dezenas de postais ilustrados de vários cantos do mundo, não sabe o que é a Taça de Portugal, mas colecciona troféus oferecidos pelos alunos por cada ano lectivo que os atura... (e que entretanto, hoje, já a devem ter posto ao corrente de todos campeonatos de futebol, nomes de jogadores e afins, informação que ela já terá esquecido ao fim do dia...). Digamos que a minha irmã procura uma saída airosa da realidade...